O prefeito do Rio, Eduardo Paes, desfila no Carnaval (Raphael Dias/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 21 de março de 2016 às 10h55.
Rio - A poucos meses do Jogos Olímpicos, dos quais será anfitrião, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB), enfrenta um momento conturbado.
Na semana passada, teve o nome envolvido em diferentes problemas. Apareceu em grampo telefônico da Operação Lava Jato numa conversa com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que repercutiu negativamente; teve de lidar com a citação de seu nome na delação premiada do senador Delcídio Amaral (ex-PT) como envolvido na suposta maquiagem de dados bancários na CPI dos Correios; e foi acusado de ter sido grosseiro com uma médica da rede pública municipal.
Paes também tem se desgastado na defesa do pré-candidato peemedebista na eleição deste ano, pois o escolhido, o secretário de governo Pedro Paulo Carvalho, é acusado de ter agredido sua ex-mulher duas vezes, o que tem gerado manifestações de revolta de muitas mulheres.
Os planos de Paes incluíam fechar seus oito anos como prefeito da cidade em tom vitorioso, com a realização da Olimpíada e a inauguração de intervenções urbanas feitas para o evento, como o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), que terá a primeira linha entregue ainda no primeiro semestre, e o Museu do Amanhã, aberto ao público em dezembro passado.
Diferentemente de outros municípios, sua gestão passou praticamente ilesa da crise em 2015, e a Prefeitura ainda assumiu a gestão de dois hospitais estaduais. O prefeito, porém, tem se desgastado no enfrentamento das polêmicas.
A controvérsia mais recente envolve a conversa com Lula, gravada pela Polícia Federal no âmbito da Lava Jato. Em um só diálogo, Paes ironiza os pobres; municípios pequenos do Estado, como Maricá e Araruama; o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB); e a presidente Dilma Rousseff.
Ele foi obrigado a pedir desculpas publicamente. Paes ainda precisou justificar declarações que foram gravadas. Entre elas, estão a afirmação de que é um "soldado" do ex-presidente e de que os investigadores da Lava Jato precisam de limite.
Na terça-feira, 15, Paes precisou responder sobre a menção ao seu nome, por Delcídio Amaral, no termo de colaboração com o Judiciário, homologado pelo Supremo Tribunal Federal, no âmbito da Lava Jato.
O prefeito foi apontado como "emissário" tucano para postergar o prazo de entrega do sigilo fiscal do Banco Rural, na CPI dos Correios, que foi presidida por Delcídio entre 2005 e 2006. A manobra, segundo Delcídio, serviria para que os dados bancários passassem por "maquiagem", pois poderiam afetar Aécio e aliados. Na época, Paes era deputado federal do PSDB.
"Em nenhum momento o Aécio pediu qualquer coisa, na forma como aponta a delação", alegou Paes, em entrevista coletiva na quinta-feira, 17.
Apoio
Para o presidente do PMDB fluminense, Jorge Picciani, a delação de Delcídio foi positiva para o prefeito do Rio. "Ficaram muito nítidos os personagens dessa história. Se eu ainda sei ler, ficou claro que Delcídio quis se amparar em pessoas de credibilidade para dar veracidade às afirmações que fez", disse.
Picciani classificou a gestão de Paes na Prefeitura como "extraordinária". E defendeu o nome de Pedro Paulo Carvalho como candidato do partido à prefeitura em 2016.
"O PMDB escolheu por unanimidade a candidatura do Pedro Paulo por considerá-lo o mais preparado para dar continuidade ao governo. Essa outra questão está nas mãos do Supremo Tribunal Federal, que tem a confiança do povo brasileiro", afirmou.
Mesmo com as relações estremecidas entre PT e PMDB, o vice-prefeito e secretário de Desenvolvimento Social do Rio, o petista Adilson Pires, declarou que a situação política nacional ainda não se reflete no quadro local.
Ele afirmou que o PT do Rio mantém boas relações com Eduardo Paes e continua apoiando a candidatura de Pedro Paulo.
No início de fevereiro, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu ao STF a abertura de inquérito contra Pedro Paulo por lesão corporal.
A decisão caberá ao ministro Luiz Fux, que é do Rio de Janeiro e foi nomeado em 2011 pela presidente Dilma Rousseff, com apoio do então governador Sérgio Cabral (PMDB).
Independentemente do resultado, os peemedebistas enfrentam o desgaste com o episódio. No Facebook, dois grupos foram criados para atacar o pré-candidato: Pedro Paulo Nunca e Pedro Paulo Não. No carnaval, foliãs usaram fantasias como "vítimas de Pedro Paulo" e "boletim de ocorrência".
No domingo da semana passada, Paes teria perdido o controle com uma médica do Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca. Pacientes e funcionários relataram que o prefeito foi agressivo com a profissional e a ameaçado de demissão, quando buscava atendimento para o filho Bernardo, de 11 anos.
No livro de ocorrências da unidade de saúde consta que Paes gritou "de forma ríspida", disse que a médica não sabia "fazer o atendimento" e que "não estava falando como cidadão, e sim como prefeito, seu patrão".
Paes alegou ter apenas cobrado que a profissional fosse mais atenciosa. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.