Carteiras de trabalho (Jorge Rosenberg/VEJA)
Da Redação
Publicado em 27 de janeiro de 2011 às 18h30.
Brasília - Com o desemprego em 5,3%, no menor nível desde março de 2002, economistas divergem sobre se a economia brasileira está se aproximando do pleno emprego. Segundo especialistas, o mercado de trabalho está reagindo ao crescimento econômico do último ano, mas ainda há outras variáveis a serem consideradas para saber se o país está chegando a esse cenário.
Pelo conceito de pleno emprego, os trabalhadores estão desempregados somente se não aceitam os salários oferecidos ou se não têm acesso à informação sobre vagas existentes. Nesse ponto, qualquer injeção de moeda na economia provoca inflação na mesma proporção.
Para o economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Rogério César Souza, o mercado de trabalho está no melhor nível da história. No entanto, os elementos atuais são insuficientes para avaliar se o país está próximo do pleno emprego.
“Em tese, o pleno emprego só existe se, tanto o trabalho, como os fatores tecnológicos estiverem plenamente utilizados. No Brasil, o capital ainda não está totalmente empregado. As indústrias ainda têm alguma capacidade ociosa”, destaca. Em algumas regiões, no entanto, ele considera o pleno emprego próximo da realidade. “A região de Porto Alegre, por exemplo, está próxima desse cenário”.
Ao contrário do economista do Iedi, o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Reinaldo Gonçalves não acredita que o país esteja prestes a alcançar o pleno emprego. “Mesmo com a baixa taxa divulgada pelo IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística], ainda tem muita gente procurando trabalho. Tanto trabalhadores qualificados como não qualificados sofrem com o desemprego”.
Segundo ele, o número de pessoas inscritas em concursos públicos mostra que o pleno emprego está longe de ser atingido. “A única vez na história em que o Brasil esteve próximo do pleno emprego foi em 1973, durante o milagre econômico. Hoje, há em torno de 10 milhões de desempregados no país”.
Para Gonçalves, o baixo nível do desemprego decorre principalmente do crescimento da economia no ano passado, que não se repetirá neste ano. “É de esperar que o desemprego dê uma acelerada em 2011, com o Brasil crescendo em ritmo menor”.
Sobre o combate à inflação, os especialistas divergem sobre a influência do mercado de trabalho nos índices de preços. O economista do Iedi disse que a criação de empregos e dos rendimentos reais, que se reflete na maior massa salarial da história, pressiona a demanda por bens de consumo. “O foco agora vai para os serviços, que são bens não comercializáveis e muitas vezes têm aumentos desproporcionais de preços”.
O professor da UFRJ, no entanto, afirmou que os salários têm pouco impacto sobre a inflação. “As principais pressões sobre os preços vêm dos alimentos e da estrutura de mercado concentrada em alguns setores como a construção civil, que reajustou preços de 50% a 150% no ano passado”.