O ex-diretor da Petrobras, Renato Duque, presta depoimento em CPI na Câmara dos Deputados (Marcelo Camargo)
Da Redação
Publicado em 19 de março de 2015 às 16h52.
Brasília - Denunciado à Justiça pelo Ministério Público Federal por corrupção na Petrobras, o ex-diretor de Serviços da estatal Renato Duque exerceu nesta quinta-feira o seu direito constitucional de ficar calado na maior parte do depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga um escândalo envolvendo a petroleira.
Duque quebrou o silêncio poucas vezes, em um total de quatro horas de sessão. Em uma dessas ocasiões, ele negou que sua esposa teria procurado o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva após sua primeira prisão. Disse também não ter conhecido o doleiro Alberto Youssef, acusado de ser um dos operadores do esquema.
Ao final do depoimento, o ex-executivo da Petrobras se defendeu e afirmou que não pode ser responsabilizado por exercer o direito de permanecer calado. Duque afirmou que estava apenas seguindo uma orientação da sua defesa.
"Não tenho problema algum em discutir qualquer um dos assuntos levantados aqui, pois tenho consciência tranquila. Tenho como responder e tenho argumentos suficientes para rebatê-los (aos deputados)", declarou.
Ele disse ainda que o fato de estar em silêncio não significa medo ou culpa e que irá provar que seus bens são fruto de seu trabalho, e não de corrupção.
"Tenho orgulho do meu trabalho. Lamento que a companhia (Petrobras) esteja passando por isso", finalizou.
Duque, um dos investigados pela Operação Lava Jato, foi preso nesta semana pela Polícia Federal, que apura um esquema de corrupção que envolve a Petrobras, empreiteiras e políticos.
"Eu tenho certeza que no momento oportuno serão esclarecidas e serão sanadas todas as dúvidas. Tenho certeza que existe uma hora de falar, uma hora de calar. Essa é a hora de calar, do meu ponto de vista", afirmou.
Duque está entre os 27 denunciados pelo Ministério Público à Justiça, na segunda-feira, por crimes de lavagem de dinheiro, corrupção e formação de quadrilha.
O ex-diretor foi preso pela primeira vez em 14 de novembro junto com executivos de grandes empreiteiras do país, após uma série de denúncias de corrupção envolvendo grandes obras da estatal. Ele deixou a prisão em dezembro graças a um habeas corpus.
O nome de Duque foi citado pelo ex-gerente-executivo da diretoria de Serviços da Petrobras Pedro Barusco, um dos principais operadores do esquema de corrupção, em depoimento à CPI da Petrobras.
Barusco, que firmou um acordo de delação premiada com a Justiça, disse que o mecanismo de desvio de recursos envolvia empresas, Duque e o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, citados como "protagonistas" pelo delator.
INSATISFAÇÃO
O depoimento do ex-diretor estava originalmente previsto para ocorrer nas dependências da Polícia Federal, mas foi transferido para um dos plenários da Câmara dos Deputados após o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), suspender ato da Mesa que vedava a realização de oitivas de presos no local.
"Saímos insatisfeitos daqui hoje", afirmou o presidente da CPI, Hugo Motta (PMDB-PB), após a sessão desta quinta-feira, em relação ao voto de silêncio do ex-diretor.
Ele completou afirmando que foi informado pouco antes do começo da reunião, pelo advogado do ex-diretor, que Duque se manteria calado.
A participação de Duque na CPI da Petrobras foi autorizada pelo juiz Sergio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba.
INVESTIGAÇÃO A CPI
está perto de contratar a empresa Kroll para auxiliar na busca de valores de corrupção que podem ter sido desviados para o exterior, afirmou nesta quinta-feira o presidente da comissão.
"Faltam últimos detalhes para a contratação da empresa Kroll para a busca de ativos no exterior, para que a gente possa encontrar algum recurso que por ventura não tenha sido devolvido nas delações premiadas e que sejam fruto de desvios dos contratos da Petrobras...", afirmou.
A Suíça informou na véspera que cerca de 120 milhões de dólares em ativos congelados por conta das investigações de corrupção na Petrobras estão sendo repatriados ao Brasil.
O valor liberado pela Suíça é apenas uma parte do total de cerca de 400 milhões de ativos congelados em contas no país em função das investigações envolvendo o escândalo da Petrobras.