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Doria usa crise política para reforçar tom nacional

Na última sexta-feira, o prefeito de São Paulo completou a marca de seis meses à frente da capital paulista

João Doria (Wilson Dias/Agência Brasil)

João Doria (Wilson Dias/Agência Brasil)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 2 de julho de 2017 às 11h34.

São Paulo - O prefeito de São Paulo, João Doria, que completou na sexta-feira a marca de seis meses à frente da capital, intensificou sua agenda nacional desde o acirramento da crise política em Brasília para se colocar como um quadro do PSDB, enquanto sua gestão enfrenta os primeiros desgastes. Desde a divulgação da conversa entre Joesley Batista, dono da JBS, e o presidente Michel Temer, no dia 17 de maio, o tucano participou de 15 fóruns, seminários ou jantares, além de seis encontros partidários - até essa data, haviam sido 19 eventos do tipo.

Na pauta de Doria, estão temas não só relacionados às demandas municipais. Ao mesmo tempo em que trata de assuntos mais amplos na agenda nacional, o prefeito vê o surgimento de barreiras para a sua administração. Nesse período, na Câmara Municipal foi criado um grupo com 17 vereadores antes aliados que agora ameaçam dificultar a aprovação de seu pacote de concessões e privatizações.

A lista de parlamentares em choque com Doria inclui correligionários, como Mario Covas Neto, presidente municipal do PSDB, e Patrícia Bezerra, que deixou o comando da Secretaria Municipal de Direitos Humanos por discordar das políticas do prefeito para a Cracolândia. A vereadora ainda protocolou um projeto com a proposta de plebiscito sobre as privatizações, o que pode atrasar o processo, uma promessa de campanha.

Procurando não mostrar preocupação com os problemas caseiros, Doria segue seu roteiro de exposição nacional. O prefeito, que diz não representar os "cabeças brancas" nem os "cabeças pretas" (a ala jovem que defende renovação e a saída da base de Temer), comemora o fato de, aos poucos, começar a ser recebido por representantes de ambos os grupos que até pouco tempo atrás não lhe consultariam sobre os rumos para o PSDB.

O "divisor de águas", na avaliação de Doria, foi o convite feito pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para discutir a crise nacional em reunião no fim de maio, apesar dos recorrentes atritos entre os dois - há nove dias, FHC disse que Doria sabe fazer marketing, mas não mudou nada na cidade. Doria rebateu e afirmou que o ex-presidente deveria "sair de seu apartamento e visitar São Paulo".

Na reunião convocada por FHC, foi a primeira vez, porém, que o "gestor paulistano" entrou nesse apartamento, em Higienópolis, no centro. E saiu de lá com discurso alinhado: "Os tucanos não devem ter compromisso com o governo, mas com o País".

Decisivo

Desde então, Doria tem replicado o tom de cautela. Mais comedido do que de costume, o prefeito nem sequer abusa das críticas direcionadas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Coincidência ou não, essa mudança de postura veio após o senador Aécio Neves (PSDB) ter sido gravado pedindo R$ 2 milhões a Joesley - e ter ficado mais de um mês afastado do Senado e ainda estar licenciado da presidência do partido. Insistir na crítica ao petista poderia levar o eleitorado a comparar ambos.

A atual postura de Doria foi considerada no partido decisiva para impedir o rompimento do PSDB paulista com o governo e evitar uma rebelião da bancada no Congresso. Ele foi incluído no seleto time de caciques consultados antes de decisões importantes da legenda pelo presidente interino, senador Tasso Jereissati (CE), e é cotado para integrar a Executiva nacional caso ocorra uma antecipação da convenção partidária.

Doria planeja começar a visitar o Nordeste em agosto, quando deve receber o título de cidadão honorário de Campina Grande (PB). É fato que boa parte dos tucanos ainda torce o nariz para as intenções de Doria, como José Serra, Alberto Goldman e o próprio FHC, mas ele continua em uma espécie de campanha velada, colocando-se cada vez mais como opção direta caso o governador paulista Geraldo Alckmin não seja o escolhido para 2018.

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