Doria: prefeito eleito criticou redução de equipes nas ruas, ao que Haddad sugeriu que é fácil falar de fora (Rovena Rosa/Agência Brasil)
Estadão Conteúdo
Publicado em 29 de dezembro de 2016 às 11h43.
São Paulo - Quatro dias antes da cerimônia de transmissão de cargo de prefeito da cidade, a equipe de João Doria (PSDB) fez nesta quarta-feira, 28, as mais duras críticas até o momento contra a administração do prefeito Fernando Haddad (PT). O petista respondeu que era preciso "sentar na cadeira para entender melhor a cidade".
As alfinetadas mútuas aconteceram num dia em que tanto a nova quanto a atual administração tiveram agendas públicas para falar do combate às enchentes.
A reclamação dos tucanos foi sobre suposto esvaziamento das equipes encarregadas dos serviços de zeladoria urbana, como a poda de árvores, limpeza de córregos e conservação de vias.
As críticas foram feitas na presença de Doria, pelo futuro secretário adjunto das Prefeituras Regionais, Fabio Lepique, durante a apresentação de ações da gestão Doria para enfrentar as enchentes deste ano.
Lepique reclamou da "herança" recebida de Haddad. "Estamos herdando uma situação difícil. A zeladoria não vai bem", disse, antes de apresentar uma relação com diversas ações que, segundo ele, tiveram redução de equipes.
"A média histórica dos últimos cinco anos era de 20 mil toneladas de asfalto por ano (usado no recapeamento). Agora é de 8,6 mil. Eram 800 funcionários empregados, agora são 350. Na conservação de áreas verdes e poda de mato eram cem equipes. Agora, são 35. Eram 1,2 mil pessoas, agora são 420. Na remoção de árvores eram 90 equipes, agora são 40", disse o secretário adjunto, citando como fonte dos dados as empresas prestadoras dos serviços. Ele disse que vai confirmá-los quando assumir.
Em resposta à acusação de esvaziamento da zeladoria, Haddad afirmou que "às vezes, a pessoa tem de sentar na cadeira para entender melhor a cidade. De fora, às vezes, é mais fácil falar".
De acordo com Haddad, "teve muita tecnologia incorporada" aos serviços, o que contribuiu para a diminuição da mão de obra empregada. Ele citou o caso da limpeza de galerias fluviais.
"Temos equipamentos hoje de desobstrução de ramais que não tínhamos. Caminhão hoje que desobstrui um ramal em minutos e que foi minha gestão que trouxe."
Segundo o prefeito, no caso das podas de árvores, "foi feito convênio com a Eletropaulo que não existia". "Nós impusemos à Eletropaulo que assumisse uma parte das podas. Só a capacidade da Eletropaulo é a mesma que São Paulo tinha quatro anos atrás. Se não levar em consideração isso, fica fácil criticar."
Ao mesmo tempo em que criticavam a redução de equipes na zeladoria, Lepique e Doria reafirmaram que farão um corte de 15% no valor dos contratos de prestadores de serviço da Prefeitura. Segundo eles, a medida não prejudicará os serviços.
"Num bom entendimento com as empresas que fazem a prestação de serviço ficou claro que não haverá redução e muito menos interrupção de serviços. Ao contrário, vai haver aumento de eficiência com ação integrada com o governo do Estado, ação contínua da Prefeitura e revisão de sistemas", disse Doria.
Comum
O cientista social Ricardo Gaspar, organizador do curso de Economia Urbana e Gestão Pública da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, diz que "é comum que políticos recém-eleitos, ainda em fim de campanha e começo de mandato, façam promessas de corte de gastos e ajustes, mas essas ações sempre são pouco eficazes".
Ele afirma que a experiência mostra ser difícil uma redução de valores ser acompanhada pelo aumento de equipes, mas destacou que a Prefeitura tem um setor administrativo "pesado" e "sucateado", que pode ser melhorado.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.