Ato em memória aos 50 anos da Ditadura Militar no Brasil, na sede do DOI-CODI em São Paulo (Paulo Pinto / Fotos Públicas)
Da Redação
Publicado em 24 de novembro de 2014 às 18h18.
Rio - Documentos localizados pela Polícia Federal (PF) no sítio do coronel da reserva do Exército Paulo Malhães, assassinado em abril deste ano, indicam que a ditadura infiltrou largamente agentes entre esquerdistas brasileiros e argentinos no Brasil no fim dos anos 70.
Os dois textos, referentes às Operações Gringo e Caco, foram escritos pelo Centro de Informações do Exército (CIE). Os Relatórios 8/78 e 11/79 têm mais de 200 páginas. Citam ao menos 100 brasileiros e estrangeiros sob vigilância da repressão, no Brasil e no exterior.
Entre eles, estão os ex-governadores Leonel Brizola (1922-2004) e Miguel Arraes (1916-2005) e o compositor Chico Buarque. Também há políticos do MDB e militares cassados.
"Nossa Operação de Infiltração Alfa-1 havia nos ensinado qual o caminho a seguir, obrigando-nos a abonar (sic) o 'ciclo dos refugiados' e a nos dedicar ao caminho que parecia mais correto", afirma o CIE no Relatório 8/78.
"No entanto, nosso infiltrado não conseguiu penetrar no âmago da questão, e embora possamos considerar os dados obtidos como importantes, eles são periféricos e não chegaram a possibilitar uma conclusão."
Um dos delatores era um argentino do Exército Revolucionário do Povo (ERP) do país vizinho. Deixou um relatório em espanhol, reproduzido no material encontrado na casa de Malhães.
Nele, narra delações que cometeu na Argentina. Circulou no Brasil, entre exilados argentinos, denunciando-os.
"Sem dúvida, foi com a associação da 'Operação Gringo' com a 'Operação Caco' que obtivemos a visão de como pesquisar e solucionar o problema", afirma o texto.
"Os dados fornecidos pelos infiltrados e a necessidade de estudar os dossiês dos envolvidos tornaram possível o caminho a seguir."
Em tom paranoico, os autores apontam a ação no Brasil de um suposto Movimento Comunista Internacional - que contaria tanto com o pacifista Partido Comunista Brasileiro quanto com terroristas europeus e palestinos e grupos trotsquistas.
O patrocínio seria da então União Soviética e da Albânia. Já no fim da década de 70, cita organizações dadas como extintas. É o caso da Ação Libertadora Nacional (ALN) e do Movimento de Libertação Popular (Molipo).
A papelada é apontada por procuradores como prova da existência, no Brasil , da Operação Condor, uma rede de colaboração entre as ditaduras militares do Cone Sul que resultou em prisões, torturas, desaparecimentos e assassinatos de opositores.
As Forças Armadas brasileiras nunca admitiram sua participação na Condor. Há anos, porém, investigações independentes já comprovaram a colaboração entre militares do País e seus colegas de países vizinhos.