Brasil

Doações de campanha não eram da Petrobras, diz dono da UTC

O empreiteiro já havia dito em sua delação premiada na Procuradoria-Geral da República que a empresa fazia doações a políticos para "abrir portas"


	UTC Engenharia atua em refinaria: o empreiteiro já havia dito em sua delação premiada na Procuradoria-Geral da República que a empresa fazia doações a políticos para "abrir portas"
 (Divulgação)

UTC Engenharia atua em refinaria: o empreiteiro já havia dito em sua delação premiada na Procuradoria-Geral da República que a empresa fazia doações a políticos para "abrir portas" (Divulgação)

DR

Da Redação

Publicado em 10 de novembro de 2015 às 15h15.

São Paulo - Em depoimento ao juiz Sérgio Moro nesta segunda-feira, 9, o dono da UTC e delator da Lava Jato, Ricardo Pessoa afirmou que as doações da empresa durante as campanhas eleitorais não tinham relação com a propina paga no esquema de corrupção na Petrobras.

O empreiteiro já havia dito em sua delação premiada na Procuradoria-Geral da República que a empresa fazia doações a políticos para "abrir portas".

Agora ele revela uma distinção entre os repasses ligados ao esquema na estatal e as doações em busca do apoio de políticos.

"Na época de campanha, as contribuições de campanha não tinham nada a ver com propina. Eram contribuições de campanha mesmo, e o restante não, era como se pagava a comissão da propina da Petrobras", afirmou o empreiteiro ao ser questionado pelo magistrado se todas as doações da UTC tinham relação com os acertos na estatal petrolífera.

A declaração do delator indica a distinção feita pelo empreiteiro entre a forma como a empresa lidava com as doações e como ela tratava as propinas aos partidos.

Na sua delação à Procuradoria-geral da República, mantida sob sigilo, Pessoa admitiu que as doações para políticos são "feitas para que se obtenha uma vantagem, seja ele devida ou indevida, seja para que partido for".

Além disso, a afirmação desta segunda vai contra uma das linhas de acusação da força-tarefa da Lava Jato, de que as doações para campanhas eleitorais seriam uma etapa final da lavagem do dinheiro movimentado no esquema.

O empreiteiro ainda detalhou ao juiz Sérgio Moro que o próprio João Vaccari Neto, que seria o responsável por acertar as propinas ao PT no âmbito dos contratos da Petrobras, fazia essa diferenciação.

"As doações de campanha geralmente vinham com pedidos específicos para candidatos. O Vaccari também, às vezes, pedia doações de campanha e não vinculava isso (às propinas na Petrobras)", disse Pessoa.

Caixa dois

Mesmo separando as doações de campanha das propinas negociadas no esquema de corrupção na Petrobras que ia para os partidos, Ricardo Pessoa já admitiu em outros depoimentos de sua delação ter feito repasses de caixa dois para políticos.

Ele citou especificamente o atual ministro da Educação Aloizio Mercadante e o senador tucano Aloysio Nunes como destinatários de dinheiro de caixa dois fora do esquema na Petrobras.

Os dois políticos são alvos de inquéritos no Supremo devido à delação de Pessoa, sob relatoria do ministro Luis Roberto Barroso.

Outro político que também foi citado na delação do empreiteiro e virou alvo de inquérito é o atual ministro da Secom e tesoureiro da campanha de Dilma no ano passado, Edinho Silva.

Segundo o delator, o então tesoureiro petista o teria "persuadido" a contribuir mais para o PT nas eleições.

"O Edinho me disse: Você tem obras na Petrobras e tem aditivos. Não pode só contribuir com isso. Tem que contribuir com mais. Estou precisando", disse Pessoa à Procuradoria-Geral da República.

Neste caso, Pessoa ligou as doações de campanha à Petrobras, e a Procuradoria-Geral da República abriu um inquérito contra Edinho Silva no Supremo para apurar se existe alguma relação entre o esquema na estatal e a campanha petista.

A reportagem tentou contato com a defesa de Pessoa, mas a advogada não atendeu o telefone.

Os três políticos negam irregularidades em suas campanhas e rechaçam as acusações de Pessoa.

Acompanhe tudo sobre:Operação Lava JatoSergio MoroUTC

Mais de Brasil

STF rejeita recurso e mantém pena de Collor após condenação na Lava-Jato

O que abre e o que fecha em SP no feriado de 15 de novembro

Zema propõe privatizações da Cemig e Copasa e deve enfrentar resistência

Lula discute atentado com ministros; governo vê conexão com episódios iniciados na campanha de 2022