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Diretor-geral da Abin depõe sobre estrutura paralela de espionagem: entenda o que a PF quer saber

Também será ouvido simultaneamente o ex-diretor adjunto da agência Alessandro Moretti, demitido em janeiro do ano passado após uma das fases da operação da PF

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 17 de abril de 2025 às 09h26.

O diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Luiz Fernando Corrêa, presta depoimento na tarde desta quinta-feira à Polícia Federal (PF).

Ele será ouvido no âmbito do inquérito que apura uma suposta estrutura paralela de espionagem na agência durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. O órgão teria espionado autoridades, jornalistas e advogados. Uma das suspeitas é que Corrêa tenha atuado para obstruir o andamento das investigações.

Também será ouvido simultaneamente o ex-diretor adjunto da agência Alessandro Moretti, demitido em janeiro do ano passado após uma das fases da operação da PF.

Corrêa deve ser questionado sobre suposta tentativa de atrapalhar as investigações da Polícia Federal que atingem a agência. Como O GLOBO mostrou nesta semana, um servidor da agência afirmou em depoimento que o chefe da agência defendeu uma “intervenção” na corregedoria durante a investigação.

Segundo o agente, a reclamação de Corrêa ocorreu durante uma busca e apreensão na sede da Abin em janeiro do ano passado, enquanto ele e um integrante da corregedoria estavam “ajudando” a polícia.

"Na reunião, Luiz Fernando (Corrêa) falou em tom de desgosto; que Luiz Fernando falou num tom agressivo; que Luiz Fernando falou que deveria fazer uma intervenção na corregedoria; que naquele momento a corregedoria estava colaborando com a diligência de busca e apreensão; que o depoente e (outro servidor) da corregedoria estavam ajudando a Polícia Federal", disse o servidor em depoimento à PF.

Em janeiro do ano passado, a colunista Bela Megale publicou que integrantes da atual gestão da Abin dificultaram o acesso da Polícia Federal a dados considerados essenciais para o avanço das investigações que envolvem o órgão.

Segundo o texto, durante a realização das buscas na sede da Abin no dia 25 de janeiro, integrantes da equipe do diretor Luiz Fernando Corrêa dificultaram que a PF tivesse acesso ao Centro de Inteligência Nacional.

Nomes de confiança de Corrêa, Moretti e o ex-número 3 da Abin Paulo Maurício Fortunato foram alvos da operação da PF e estavam na mira da corregedoria. Em uma operação em outubro de 2023, Paulo Maurício teve U$ 171,8 mil apreendidos em sua casa.

Ao GLOBO, na época, ele afirmou que o dinheiro era fruto de uma "poupança" que faz para quando se aposentar, negou irregularidade e disse que ia colaborar com as investigações.

Já Moretti, quando foi demitido, divulgou uma nota dizendo que compartilhou com a PF toda a documentação coletada e produzida pelo órgão relacionada ao caso do programa espião FirstMile, cujo uso foi revelado pelo GLOBO e deu início à investigação policial.

Ele também afirmou que, como diretor-geral em exercício, "iniciou os trabalhos de apuração interna relacionados ao uso de ferramenta, com a instauração de sindicância investigativa pela corregedoria-geral".

Na decisão que autorizou a operação de janeiro do ano passado, o ministro Alexandre de Moraes destacou alguns trechos do pedido na PF, no qual os investigadores apontaram que "a direção atual da Abin realizou ações que interferiram no bom andamento da investigação sem, contudo, ter sido possível identificar o intento das ações".

O relatório da PF diz ainda que medidas da atual gestão da Abin "se mostram prejudiciais à presente investigação". O documento frisou que "a revolta dos investigados com a progressão da investigação" resultou em ações como "construir uma estratégia em conjunto" e um "acordo para cuidar da parte interna"

Paraguai

Corrêa também deve ser questionado sobre o uso de um e-mail espião para invadir o computador de autoridades paraguaias, incluindo da Presidência e do Congresso do país. A ação teria ocorrido na atual gestão e foi narrada por um agente do próprio órgão em depoimento à PF.

No depoimento, o servidor da Abin afirmou que usou uma ferramenta para desenvolver um aplicativo capaz de invadir os computadores do governo paraguaio. O objetivo do órgão era obter informações sobre a negociação envolvendo a venda da energia pela usina de Itaipu, que é dividida entre Brasil e Paraguai.

O servidor afirmou ainda que foram invadidos “o Congresso Paraguaio, Senado, Câmara e Presidência da República”. Entre os alvos, segundo o integrante da Abin, estavam “presidente do Paraguai, Presidente do Senado e autoridades relacionadas diretamente à negociação e os valores a serem cobrados por megawatt”, medida da taxa de produção ou consumo de energia.

A ação da Abin se deu em um momento em que os dois países discutiam o reajuste no valor pago pelo Brasil sobre a parte da energia produzida em Itaipu que é de responsabilidade paraguaia. O acordo entre os dois países prevê a compra do excedente não usado pelo Paraguai. O novo valor, abaixo do que os vizinhos pediam, foi acordado em 2023.

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