Fernando Segóvia: "é um ponto de interrogação (se a mala de dinheiro era para Temer), que fica hoje no imaginário popular brasileiro e que poderia ser respondido se a investigação tivesse mais tempo" (José Cruz/Agência Brasil)
Estadão Conteúdo
Publicado em 21 de novembro de 2017 às 07h55.
Brasília - O novo diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segovia, afirmou nesta segunda-feira, 20, que "uma única mala talvez não desse toda a materialidade criminosa" contra o presidente Michel Temer em referência à denúncia por corrupção passiva apresentada pelo ex-procurador-geral Rodrigo Janot.
Em entrevista logo após a cerimônia de sua posse no Ministério da Justiça, ele comentou o episódio em que o ex-deputado e ex-assessor do presidente Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) é filmado com uma mala com dinheiro entregue por um executivo do Grupo J&F.
"É um ponto de interrogação (se a mala de dinheiro era para Temer), que fica hoje no imaginário popular brasileiro e que poderia ser respondido se a investigação tivesse mais tempo", afirmou Segovia. O diretor-geral cobrou mais "transparência" da Procuradoria-Geral da República (PGR), hoje sob o comando de Raquel Dodge, na condução de investigação contra o presidente Temer.
Questionada sobre a declaração de Janot, a assessoria de imprensa da PF informou não ter "interesse em alimentar essa fogueira armada". Raquel, que não compareceu à posse, não comentou.
Quando Temer escolheu Segovia para o cargo, seu nome foi apontado como uma indicação de políticos do PMDB, entre eles o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP). A transmissão de cargo para Segovia teve a presença de Temer, que não discursou. Participaram também o ex-diretor-geral Leandro Daiello, o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli e o ministro da Justiça, Torquato Jardim.
Segovia se disse lisonjeado com a participação de Temer na cerimônia e informou que pela primeira vez na história um presidente teria ido à posse de um diretor-geral da PF.
Em seu discurso, Segovia afirmou que o "combate à corrupção" será uma "agenda prioritária da PF". Sobre os atritos com o Ministério Público Federal (MPF), Segovia defendeu uma relação harmoniosa entre a instituição e a corporação para combater crimes.
"Acredito que agora, neste novo momento tanto da PGR como da PF, a gente vai tentar construir, neste momento de mais maturidade, vai conseguir trabalhar mais em conjunto e que investigações sejam coordenadas", afirmou.
Nas declarações sobre a condução das apurações contra Temer pela PGR na gestão de Janot, Segovia afirmou que, "se fosse sob a égide da Polícia Federal, essa investigação (sobre corrupção passiva) teria de durar mais tempo".
A posição de Segovia, no entanto, vai de encontro às próprias afirmações da PF em relatório final do inquérito que investigou Temer. Embora tenha exposto as "limitações decorrentes do prazo conferido à investigação", o delegado Thiago Delabary, responsável pela condução do caso, concluiu pela prática de corrupção por Temer "em face de, valendo-se da interposição de Rocha Loures, ter aceitado promessa de vantagem indevida".
"Quem pôs esse deadline, que finalizou a investigação, foi a Procuradoria-Geral da República. Talvez ela seja a melhor a explicar por que foi feito aquilo naquele momento e por que o senhor Joesley (Batista) sabia o que ia acontecer para que ele conseguisse ganhar milhões no mercado de capitais", disse Segovia. A PF realizou, em parceria com a PGR, as ações controladas que flagraram o recebimento de uma mala com R$ 500 mil por Rocha Loures, em São Paulo.
Questionado sobre a investigação sobre Temer no caso do Decreto dos Portos, que supostamente concedeu benefícios a uma empresa que atua no Porto de Santos, Segovia afirmou que Temer "continuará a ser investigado com a celeridade de todos os outros inquéritos".
O ex-procurador-geral Rodrigo Janot reagiu às críticas do novo diretor da Polícia Federal, Fernando Segovia, à sua gestão, feitas logo após sua cerimônia de posse, em Brasília. "Ele está fazendo o que foi contratado para fazer", afirmou o ex-chefe do Ministério Público Federal (MPF).
Janot disse que a PF "nunca pontuou" a necessidade de mais tempo ou diligências. O ex-procurador-geral destacou que as operações foram realizadas em parceria com policiais federais.
"As interceptações e ações controladas da primeira denúncia foram feitas por quem? DPF (Departamento de Polícia Federal)", afirmou.
"E aconselho a ele a leitura do relatório do DPF que instruiu a segunda denúncia. O delegado responsável pela investigação tem opinião diversa", finalizou. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.