Brasil

Ex-diretor diz não ter enganado Dilma sobre Pasadena

Nestor Cerveró disse em depoimento a deputados que não considera ter enganado a presidente em 2006

Ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró fala sobre a compra da refinaria de Pasadena em uma comissão da Câmara dos Deputados  (Ueslei Marcelino/Reuters)

Ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró fala sobre a compra da refinaria de Pasadena em uma comissão da Câmara dos Deputados (Ueslei Marcelino/Reuters)

DR

Da Redação

Publicado em 16 de abril de 2014 às 20h56.

Brasília - O ex-diretor da área internacional da Petrobras Nestor Cerveró, peça chave na compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, disse nesta quarta-feira em depoimento na Câmara dos Deputados que não considera ter enganado a presidente Dilma Rousseff, em 2006, sobre o negócio.

Dilma, que comandava o Conselho da Administração da estatal quando a aquisição foi aprovada, afirmou recentemente que, se tivesse conhecimento de todas as informações sobre o contrato de compra da refinaria, não teria aprovado o negócio.

Cerveró disse que a Diretoria Executiva da Petrobras, na época presidida por José Sergio Gabrielli, recebeu todas as informações sobre a negociação da refinaria, mesmo que determinadas cláusulas não constassem no resumo executivo submetido ao Conselho de Administração.

"A diretoria, quando aprova a documentação, ela depois é encaminhada ao Conselho pela diretoria, não sou eu", disse o ex-diretor, em longa audiência pública conjunta das comissões de Fiscalização Financeira e Controle, de Finanças e Tributação, e de Desenvolvimento Econômico da Câmara.

A atual presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, disse em depoimento no Senado, na véspera, que o Conselho da estatal aprovou inicialmente a compra de 50 por cento da refinaria baseado em resumo executivo e avaliação da diretoria executiva, sem saber que havia uma cláusula de opção de venda, que obrigava a estatal a adquirir eventualmente os 50 por cento restantes da parceira belga Astra Oil.


Cerveró minimizou a importância para o negócio das cláusulas que Dilma disse não ter visto no resumo executivo entregue ao Conselho.

"Na avaliação que nós fizemos, essas cláusulas não têm representatividade no negócio... Não era importante do ponto de vista negocial, do ponto de vista da valorização do negócio, nenhuma cláusula nem outra", disse ele, referindo-se à opção de venda e à chamada cláusula Marlim, que garantia à Astra uma remuneração adicional dependendo do petróleo refinado.

Após a Astra exercer a opção de venda de sua fatia de 50 por cento, a Petrobras acabou pagando bem mais do que os 360 milhões de dólares desembolsados inicialmente pela primeira metade da unidade. Ao todo, a Petrobras desembolsou 1,25 bilhão de dólares por Pasadena, após uma batalha em câmaras arbitrais.

"Não houve nenhuma intenção de enganar ninguém... A posição não é só minha. A posição (sobre o negócio) é da direção e do Conselho que aprovou esse projeto... Foi tudo baseado numa série de consultorias e trabalhos, ao longo de mais de um ano", afirmou.

A compra da refinaria está sendo investigada por órgãos de controle, como o Tribunal de Contas da União, e os partidos de oposição estão tentando abrir uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar eventuais irregularidades no negócio.

Defesa da Aquisição

Cerveró, que foi demitido da diretoria da BR Distribuidora após a declaração de Dilma sobre Pasadena, disse que a compra da refinaria no Texas seguiu o plano estratégico definido pela empresa na época.


Segundo ele, a compra da refinaria nos EUA se baseou na estratégia de processar o petróleo pesado brasileiro no exterior, diante de uma estagnação do mercado brasileiro e da expansão da produção de petróleo no Brasil, principalmente na Bacia de Campos.

Ele destacou ainda que o negócio garantiu uma posição importante em refino para a Petrobras nos EUA, maior consumidor global de combustíveis.

"A Astra já estava no mercado americano há muito tempo. Nós compramos uma posição no mercado americano... não compramos apenas a refinaria", afirmou.

Segundo o ele, o custo de Pasadena ficou bem abaixo do valor de mercado de outras refinarias na época do fechamento do negócio, considerando o custo por barril refinado.

A refinaria de Pasadena, com capacidade de processar 100 mil barris/dia, custou o equivalente a 5,5 mil dólares por barril para a Petrobras, contra uma média de outras refinarias vendidas na época de 9,7 mil dólares por barril, disse Cerveró.

Graça Foster admitiu aos senadores que a compra da refinaria foi um mau negócio para Petrobras.

A ação preferencial da Petrobras fechou em alta de 3 por cento nesta quarta-feira, enquanto o Ibovespa subiu 1,4 por cento.

Matéria atualizada com mais informações às 20h53min do mesmo dia.

Acompanhe tudo sobre:Capitalização da PetrobrasCaso PasadenaCombustíveisEmpresasEmpresas abertasEmpresas brasileirasEmpresas estataisEstatais brasileirasIndústria do petróleoPetrobrasPetróleoPolítica no Brasil

Mais de Brasil

Enem 2024: prazo para pedir reaplicação de provas termina hoje

Qual é a multa por excesso de velocidade?

Apesar da alta, indústria vê sinal amarelo com cenário de juros elevado, diz economista do Iedi