Michel Temer: "O encontro com Joesley Batista ocorreu no começo de março, no Palácio do Jaburu, mas não houve no diálogo nada que comprometesse a conduta do presidente da República", disse Temer em nota (Ueslei Marcelino/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 19 de maio de 2017 às 16h29.
Última atualização em 19 de maio de 2017 às 17h38.
O diretor de relações Institucionais da holding J&F Ricardo Saud entregou no seu acordo de colaboração com a Procuradoria-geral da República uma série de planilhas e anotações relacionadas ao repasses das empresas do grupo para o presidente Michel Temer.
Em um das anotações, Saud elenca cinco repasses atrelados a Temer que somam R$ 30 milhões.
Para os investigadores que atuaram em inquéritos sobre a JBS, a atuação de Saud era indispensável para a inserção e aproximação de diretores da JBS no meio político.
O diretor da empresa é visto como o "Cláudio Melo Filho" da holding J&F. Melo Filho é ex-diretor da relações Institucionais da Odebrecht e assinou acordo de colaboração premiada no qual relatou o pagamento de propina para diversos políticos.
O primeiro repasse, de acordo com a anotação, foi de R$ 15 milhões e não está apontada qual a data em que foi efetuado. A frente do valor está a anotação: "A pedido Edinho PT".
O segundo, de R$ 9 milhões, também não explicita a data e está atrelado ao "Diretório Nacional do PMDB".
O terceiro pagamento, de R$ 2 milhões, aparece com a data de 29 de agosto de 2014 e é acompanhado da seguinte frase:
"Campanha Paulo Skaff, autorizado por Temer, pagar para empresa JEMC, escritório de consultoria de Duda Mendonça, publicitário do mesmo".
Sobre esse repasse, o diretor ainda juntou uma cópia da nota fiscal do pagamento à empresa de Duda Mendonça.
O quarto pagamento, cuja data foi apagada e no valor de R$ 3 milhões, está acompanhado na anotação do seguinte apontamento:
"Temer pede para repassar à Eduardo Cunha. Valor entregue em espécie no Rio de Janeiro".
Por último, o repasse de R$ 1 milhão efetuado dois de setembro de 2014 está ao lado da anotação:
"Temer pede para entregar ao Sr Yunes. O valor em espécie Florisvaldo entregou em espécie".
Outro que aparece nos documentos é João Baptista Lima Filho, amigo do presidente Michel Temer.
Coronel da Polícia Militar aposentado, ele é dono da Argeplan Arquitetura e Engenharia, empresa que faz parte de um consórcio que ganhou concorrência para executar serviços relacionados à usina de Angra 3 - cujas obras são investigadas na Operação Lava Jato.
No material entregue à PGR, Ricardo Saud juntou documentos relacionados a Argeplan, de Lima Filha. Em um desses documentos com os endereços da Argeplan, Saud faz uma anotação a caneta na qual diz:
"Endereço onde Florisvaldo entregou dinheiro do MT". Florisvaldo Oliveira é funcionário do grupo J&F e também assinou acordo de colaboração.
A reportagem procurou os citados e aguarda resposta com posição sobre fatos abordados.
Na quarta-feira, dia 17, o presidente Michel Temer soltou a seguinte nota:
"O presidente Michel Temer jamais solicitou pagamentos para obter o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha.
Não participou e nem autorizou qualquer movimento com o objetivo de evitar delação ou colaboração com a Justiça pelo ex-parlamentar.
O encontro com o empresário Joesley Batista ocorreu no começo de março, no Palácio do Jaburu, mas não houve no diálogo nada que comprometesse a conduta do presidente da República.
O presidente defende ampla e profunda investigação para apurar todas as denúncias veiculadas pela imprensa, com a responsabilização dos eventuais envolvidos em quaisquer ilícitos que venham a ser comprovados."