Hoje foram denunciados o ex-ministro José Dirceu, João Vaccari Neto e outras sete pessoas (Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr/Fotos Públicas)
Da Redação
Publicado em 4 de setembro de 2015 às 18h21.
São Paulo - A força-tarefa da Lava Jato afirmou que, independentemente de seu papel como líder político no passado, o ex-ministro José Dirceu deve ser condenado por haver "provas e evidências" de que ele praticou "crimes graves" no esquema de corrupção bilionário na Petrobras.
O procurador Deltan Dallagnol disse esperar que Dirceu receba uma pena superior a 30 anos de prisão. "Não estamos julgando o José Dirceu, mas atos e fatos concretos", disse Dallagnol.
A denúncia feita nesta sexta-feira, destacou Dallagnol, centra em integrantes do que a Polícia Federal classificou como "núcleo político" da operação, composto por políticos que desviavam recursos para partidos e para uso próprio, além de seus familiares e representantes.
Nesse núcleo, foram denunciados José Dirceu, o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto e outras sete pessoas - nove dos 17 denunciados hoje. Entre as acusações estão organização criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção.
Segundo a força-tarefa, Dirceu e Vaccari não atuavam de forma conjunta, mas em paralelo. O dinheiro que passava por Vaccari era destinado ao Partido dos Trabalhadores enquanto, no caso do Dirceu, o desvio seria feito em benefício próprio.
A PF identificou repasses de R$ 14 milhões a Vaccari e de R$ 11,8 milhões a Dirceu - valores contemplados pela denúncia, que se refere a contratos da Engevix.
Renato Duque e Pedro Barusco, respectivamente ex-diretor de Serviços e ex-gerente da Petrobras, considerados do núcleo administrativo, também foram denunciados. O procurador Roberson Pozzobon destacou que Duque permaneceu no cargo com apoio de José Dirceu.
Segundo a força-tarefa da Lava Jato, há evidências de que o delator Milton Pascowitch fez operar uma espécie de "banco criminoso", com uma série de rebuscadas e complexas operações de lavagem de dinheiro.
No caso de Dirceu, houve contratos com sua consultoria, repasses em dinheiro, além de repasses ocultos através do pagamento de imóveis, reformas a imóveis e até do uso de uma aeronave, usada por Dirceu ao longo de dois anos.
O sistema instalado permitiu até que Dirceu virasse sócio oculto de um terço da aeronave através de Pascowitch, aponta a denúncia.
Pozzobon destacou que foram identificados contratos com a consultoria de Dirceu, a JD, enquanto o ex-ministro era processado e após ser condenado no processo do mensalão.
O delegado Igor Romário de Paula, integrante da força-tarefa, que também participa da coletiva, destacou que a postura do ex-ministro demonstra "total desrespeito pelas instituições" e elogiou a rapidez do trabalho dos investigadores no caso da Lava Jato, da investigação em si até a denúncia.
Romário de Paula, ao responder uma pergunta dos jornalistas, esclareceu que não há intenção de investigar toda a vida Dirceu, mas que a equipe trabalha sobre os fatos que vêm à tona ao longo da investigação.
Mobilização
Integrantes da força-tarefa aproveitaram a coletiva para falarem sobre a importância da Lava Jato para a democracia e para o bem da população.
Dallagnol chamou por várias vezes a corrupção de "problema que corrói a democracia" e disse que o governo hoje não atua em benefício do povo.
O procurador afirmou que a "cura" para o problema é mais democracia e com respeito às instituições. Dallagnol lembrou que o Brasil está perto de celebrar o dia da Independência, em 7 de setembro, mas vive ainda um "Estado de exploração" de agentes públicos corruptos.
Pozzobon falou da importância de mudar a cultura da celebração de contratos no setor público. "É chegada a hora de essas empresas não mais contratarem com o setor público", afirmou.
O procurador defendeu também a importância da adoção de medidas preventivas, como as 10 medidas contra corrupção sugeridas como projeto de lei popular pelo Ministério Público Federal.
A denúncia apresentada hoje contra 17 pessoas pede ressarcimento de R$ 60 milhões de recursos públicos desviados.
A força-tarefa identificou também centenas de ligações e visitas presenciais a Milton Pascowitch que evidenciam a participação de pessoas no esquema criminoso. Foram detectados 129 atos de corrupção ativa e 31 de corrupção passiva de 2004 a 2011.