Nestor Cerveró: segundo ele, a ordem teria partido do ex-presidente Lula, supostamente por temer eventuais revelações do ex-diretor (Ueslei Marcelino/Reuters)
Da Redação
Publicado em 19 de abril de 2016 às 15h14.
Brasíla - Em depoimentos de delação premiada, Diogo Ferreira, ex-chefe de gabinete do senador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS, agora sem partido), contou que pagamentos para comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró foram feitos em caixas de vinho e de sapato.
O assessor admitiu ser o responsável por coletar o dinheiro, repassando-o ao advogado do ex-diretor envolvido no desvio de recursos da estatal.
As declarações de Ferreira reforçam depoimentos de Delcídio, que, também em colaboração com a Procuradoria-Geral da República (PGR), reconheceu ter montado uma estratégia para evitar que Cerveró fechasse acordo de colaboração e contasse o que sabia à Lava Jato.
Segundo ele, a ordem teria partido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, supostamente por temer eventuais revelações do ex-diretor. Lula nega.
O ex-chefe de gabinete confirmou que os pagamentos foram feitos por Maurício Bumlai, filho do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula. Ele foi preso no ano passado pela Lava Jato, mas acabou sendo liberado do regime fechado para tratar de um câncer.
"Em mais de uma ocasião, o senador comentou com o depoente que o ex-presidente Lula manifestava preocupação com a Lava Jato, especificamente com sua incisividade. Ao que se recorda, entre abril e maio de 2015, Delcídio comentou que participou de uma reunião com Lula no complexo hoteleiro onde ficam os hotéis Golden e Royal Tulip, em Brasília. Na ocasião, o ex-presidente manifestou preocupação de Cerveró vir a fazer acordo de colaboração", afirmou Ferreira, conforme transcrição do depoimento feita pela PGR.
Ele disse que, em ao menos três ocasiões, fez viagens a São Paulo para coletar os recursos e entregá-los a Edson Ribeiro, advogado de Cerveró. Na primeira, em junho do ano passado, o motorista de Maurício Bumlai o buscou.
"No assoalho havia uma sacola com uma caixa de um vinho. O motorista disse que aquela era a encomenda de Mauricio Bumlai", contou o assessor. Em seguida, ele teria entregado o dinheiro ao defensor de Cerveró, Edson Ribeiro.
Na segunda viagem, em julho do ano passado, o depoente entrou no mesmo carro, no qual estariam o motorista e Maurício Bumlai. O filho do pecuarista teria parado numa agência do Bradesco, de onde sacou o dinheiro a ser entregue mais tarde ao advogado.
Na terceira ocasião, em agosto do mesmo ano, Ferreira se encontrou com "Alexandre", emissário de Ângelo Paccelli Cipriano Rabello, coronel da reserva da Polícia Militar do Mato Grosso do Sul e ex-assessor de Delcídio.
"Alexandre passou uma sacola, ao que se recorda da loja Renner, com uma caixa de sapatos fechada com fita adesiva. Havia um buraco na caixa de sapatos, permitindo ver, como efetivamente viu, que havia dinheiro em espécie em seu interior", explicou Ferreira, acrescentando que, mais uma vez, repassou os recursos a Edson Ribeiro.