Dilma: ex-presidente já despacha na sede do banco (Ricardo Stuckert/Planalto/Divulgação)
Redação Exame
Publicado em 13 de abril de 2023 às 06h13.
Última atualização em 13 de abril de 2023 às 07h20.
A ex-presidente Dilma Rousseff tomou posse nesta quinta-feira, 13, como presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), o chamado "banco dos Brics". A sede da instituição fica em Xangai, na China, e a cerimônia contou com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que está em viagem oficial ao país asiático.
Anteriormente, a posse de Dilma ocorreria no fim de março, mas o governo brasileiro teve de cancelar a viagem por conta de um quadro de pneumonia em Lula.
O mandato da ex-presidente como presidente do banco vai até julho de 2025. Ela foi indicada ao cargo pelo governo Lula. Mesmo sem a posse, Dilma já vinha despachando na sede do banco.
Em seu discurso de posse, Dilma Rousseff falou sobre o viés social do banco e assumiu o compromisso do NDB com a proteção ambiental, infraestrutura social e digital.
“Assumir à presidência do NDB é uma oportunidade de fazer mais para os países dos Brics, mas também para os países emergentes e os países em desenvolvimento”, disse. “Estou confiante de que juntos podemos realizar nossa visão de desenvolvimento. Queremos que a prosperidade seja comum a todos os países”, acrescentou.
Em seu primeiro evento oficial na China, Lula afirmou que a posse de posse de Dilma Rousseff "à frente de um banco global de tal envergadura é um fato extraordinário em um mundo ainda dominado pelos homens". Ele também destacou a história da ex-presidente na luta contra a ditadura e afirmou que o novo cargo é uma "ferramenta de redução da desigualdade entre países ricos e emergentes".
Ao exaltar o papel do Banco do Brics, o presidente criticou o modelo tradicional de financiamento de instituições financeiras internacionais. O NDB não tem a participação do Fundo Monetário Internacional (FMI) ou instituições financeiras de países de fora do grupo. Fato destacado por Lula.
“Pela primeira vez um banco de desenvolvimento de alcance global é estabelecido sem a participação de países desenvolvidos em sua fase inicial. Livre, portanto, das amarras e condicionalidades impostas pelas instituições tradicionais às economias emergentes. E mais, com a possibilidade de financiamento de projetos em moeda local”, disse.
O NDB, o "banco dos Brics", foi criado durante o primeiro mandato de Dilma, entre 2011 e 2014. A decisão do grupo de países por criar a instituição ocorreu após reunião de cúpula em Fortaleza, em 2014.
Uma das intenções é ampliar fontes de empréstimos e fazer um contraponto ao sistema financeiro e instituições multilaterais como o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Atualmente, a carteira de investimentos do banco dos Brics é da ordem de US$ 33 bilhões em 96 projetos pelo mundo. A meta, segundo relatório divulgado banco, é investir mais cerca de US$ 30 bilhões até 2026.
O conceito dos Brics perdeu força nos últimos anos em meio às crises econômicas e políticas dos países envolvidos. Quando o grupo foi criado, a expectativa era que o Brasil seguisse a transição de país de renda média para país rico, o que não ocorreu.
Países como Rússia e Índia, dos presidentes Vladimir Putin e do premiê Narendra Modi, também viram deterioração em suas instituições democráticas desde então. A China é hoje a maior força entre os países originais do grupo.
O foco do banco é o financiamento de projetos de energia limpa e eficiência energética, infraestrutura de transportes, saneamento básico, proteção ambiental, infraestrutura social e digital. Tanto empresas privadas quanto órgãos públicos podem ter empréstimos aprovados pelo Banco dos Brics.
O NDB é um dos oito grandes bancos de desenvolvimento mundiais, ao lado de órgãos como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Banco Europeu de Investimento, Banco Africano de Desenvolvimento, Banco Asiático de Desenvolvimento, Banco Mundial, entre outros.
Dilma se mudou para Xangai e despacha no novo e moderno edifício construído para abrigar o NDB, inaugurado em 2021. A cidade é um centro financeiro global. Ela trabalha num gabinete com vista para a metrópole, maior cidade chinesa, e recebe remuneração no mesmo patamar de outros bancos multilaterais, conforme executivos da instituição.
Este é o primeiro cargo público de Dilma desde o impeachment em seu segundo mandato como presidente, em 2016. Desde então, a ex-presidente tem atuado na vida partidária do PT e em palestras e organizações acadêmicas, além de ter se candidatado ao Senado nas eleições de 2018.
À frente do NDB, Dilma tem como missão mobilizar recursos para projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável nos Brics e em outras economias emergentes e países em desenvolvimento. No total, o Brasil já recebeu mais de US$ 5 bilhões do NBD desde sua fundação.
A China lidera esse ranking com mais de US$ 8 bilhões. Segundo um interlocutor da ex-presidente, a indicação de Dilma para presidir o banco seria também uma forma de reaproximar o Brasil da China, já que Dilma mantém boas relações com o presidente chinês Xi Jinping, que já estava no poder durante seu mandato.
Dilma deve ganhar em torno de US$ 500 mil por ano. O valor exato não é divulgado pelo NDB, mas pessoas com passagem pela gestão do banco dizem que o parâmetro é o valor pago pelo Banco Mundial. Procurado, o NDB não se manifestou.
Segundo especialistas, Dilma terá a oportunidade de ampliar a inserção internacional na instituição, mas enfrentará dois desafios no comando do banco. O de impulsionar projetos ligados ao meio ambiente e driblar o impacto geopolítico das retaliações ocidentais à Rússia, um dos sócios-fundadores.
(Com informações de Agência Brasil, Estadão Conteúdo e Agência O Globo)