Atitude de Dilma de exigir saída de ministros alvo de denúncias reflete sociedade menos tolerante com corrupção, diz ONG (Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 13 de setembro de 2012 às 18h55.
Brasília - A vontade sem precedentes da presidente Dilma Rousseff de enfrentar a corrupção ganhou força com a demissão do ministro do Turismo, o quarto a deixar o governo em cem dias, após ser alvo de denúncias, e alimenta um movimento anticorrupção da sociedade civil.
"O grau de tolerância da presidente diante das denúncias de corrupção é menor que o de Lula e outros ex-presidentes, que blindavam e protegiam os políticos denunciados", disse à AFP o secretário-geral da ONG Contas Abertas, Gil Castello Branco.
"Se houver atos indevidos constatados no governo, adotarei medidas", afirmou a presidente em várias ocasiões.
O titular da pasta do Turismo, Pedro Novais, tornou-se na quarta-feira o quarto ministro forçado a renunciar em cem dias, depois de denúncias de que pagava a empregados de sua casa com dinheiro do Congresso. A polícia investiga paralelamente a pasta, e ordenou a prisão de 38 de seus funcionários por desvios públicos milionários.
Em agosto caiu o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, após denúncias sobre supostos desvios em sua pasta e suas relações com uma empresa do agronegócio; em julho, o dos Transportes, Alfredo Nascimento, também por denúncias de corrupção, e em junho saiu o ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, acusado de enriquecimento rápido quando era deputado.
A atitude da presidente de exigir a saída do gabinete de seus ministros alvo de denúncias é um reflexo de uma sociedade menos tolerante com a corrupção, e coincide com um movimento da sociedade civil que começa a se organizar, explicou o responsável pelas Contas Abertas, ONG que investiga desvios de dinheiro público.
"A sociedade está acompanhando neste momento de uma forma que já não é passiva. Em raras oportunidades a população brasileira mobilizou-se, e estamos fazendo isso agora. Esperamos que a limpeza na política continue", declarou.
Em 7 de setembro, 25.000 pessoas protestaram em Brasília contra a corrupção, em uma manifestação organizada através de redes sociais na internet. Outro protesto anticorrupção foi convocado para a próxima terça-feira no Rio de Janeiro.
Mas a ação do governo contra a corrupção tem seus limites e não é tão forte como se esperava inicialmente, especialmente pela necessidade de garantir a governabilidade, avaliou à AFP o cientista político Everaldo Moraes.
"Rousseff busca uma paz com a opinião pública, mostrando que não é tolerante com a corrupção, mas ao mesmo tempo tenta não incendiar a relação com seus aliados", afirma Moraes.
Dos quatro ministros que deixaram o governo por acusações de corrupção, apenas um, Palocci, pertence ao PT. Dois são do PMDB e outro do PR.
Segundo Moraes, a presidente manteve as práticas de sempre da política brasileira, como "colocar ministérios nas mãos de partidos aliados, que talvez seja o mais perigoso em termos de corrupção: a falta de controle do governo sobre os próprios ministérios".
A corrupção na política brasileira coloca em evidência uma prática arraigada e difícil de controlar: a divisão pela presidente de altos cargos do governo entre partidos aliados em troca de apoio parlamentar, explicou recentemente à AFP o presidente da ONG Transparência Brasil, Claudio Abramo.
Segundo Abramo, o governo brasileiro tem 60.000 cargos de confiança, contra 9.000 nos Estados Unidos, uma situação que se reproduz em escala ainda maior e mais difícil de controlar nos 27 estados e mais de 5.000 municípios.
Rousseff, uma ex-guerrilheira de 63 anos, herdeira política da esquerda de Lula e no poder desde 1º de janeiro, conta com uma aliança de nove partidos. O PR deixou recentemente a coalizão, em resposta à saída de seu ministro, o dos Transportes, do gabinete.
O quinto ministro, o da Defesa, Nelson Jobim (PMDB) deixou o governo em agosto após criticar publicamente outros membros do gabinete.