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Dilma e Lula pressionam e Haddad cede sobre tarifas

As declarações do prefeito, de dirigentes do PT e de ministros, ao longo do dia, expuseram as divergências entre Haddad e o governo federal

O governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) e o prefeito Fernando Haddad (PT) durante o anúncio da redução das tarifas do transporte público na capital (Fernando Pereira/Prefeitura de São Paulo)

O governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) e o prefeito Fernando Haddad (PT) durante o anúncio da redução das tarifas do transporte público na capital (Fernando Pereira/Prefeitura de São Paulo)

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Da Redação

Publicado em 20 de junho de 2013 às 09h12.

Brasília - O prefeito Fernando Haddad (PT) resistiu até o último minuto a bancar com recursos municipais a redução da tarifa de ônibus para R$ 3 porque queria que o governo Dilma promovesse nova desoneração fiscal. A presidente Dilma Rousseff, porém, não concordou com a nova ajuda, forçando Haddad a reduzir o preço da passagem com dinheiro da Prefeitura.

As declarações do prefeito, de dirigentes do PT e de ministros, ao longo do dia, expuseram as divergências entre Haddad e o governo federal. Dilma e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pressionaram o prefeito, em conversa na terça-feira, 18, à noite, a recuar no preço da tarifa do transporte coletivo, na tentativa de conter a forte onda de protestos nas ruas.

A preocupação do Palácio do Planalto é com o impacto das manifestações na imagem de Dilma, candidata à reeleição, e de governantes do PT, num momento de escalada da inflação, juros altos e baixo crescimento.

Segundo a reportagem apurou, a presidente e seu padrinho político disseram a Haddad que era preciso voltar atrás e fazer um recuo tático para dar tempo de construir uma solução mais à frente.

A avaliação era de que o prefeito estaria perdendo a batalha da comunicação para o governador Geraldo Alckmin (PSDB), que concorrerá a um segundo mandato. Haddad não se conteve e respondeu que não tinha de onde tirar o dinheiro, a menos que cortasse investimentos programados para a cidade.

A esperança do prefeito era de que o governo federal aceitasse negociar em cima do projeto de lei que institui o Regime Especial de Incentivos para o Transporte Coletivo Urbano e Metropolitano de Passageiros. A proposta, em fase final de tramitação, prevê desonerações do PIS-Cofins do óleo diesel, de veículos e pneus, além da retirada de tributos estaduais, como o ICMS, e até municipais.


Foi combinado então que a revogação do reajuste seria anunciada somente na sexta-feira, quando estava programada uma nova reunião com representantes do Movimento Passe Livre (MPL).

A antecipação foi uma consequência direta dos efeitos do protesto de terça-feira. Haddad não esperava que parte dos protestantes protagonizassem uma tentativa de invasão ao prédio da Prefeitura, que abriu caminho para uma onda de violência e saques no entorno de seu gabinete, e com transmissão ao vivo pela TV.

Com assessores, secretários municipais e até guarda-civis metropolitanos encurralados na Prefeitura, Haddad foi buscar sossego em casa, no bairro do Paraíso, zona sul de São Paulo. A trégua, porém, durou pouco. Por volta das 22h, o prédio do prefeito já estava tomado pelos manifestantes, que o chamavam de "covarde" e "ladrão".

O coro assustou não só o petista, mas a família dele. Pessoas próximas ao prefeito contam que a filha dele, Ana Carolina, de 13 anos, caiu no choro com medo de que o apartamento fosse invadido. Os vizinhos também gritavam, pedindo silêncio e ameaçando chamar a polícia.

Sob a orientação de Dilma, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, não aceitou ceder. Em reuniões reservadas, Mantega deixou claro que não poria em risco a credibilidade das contas públicas para fazer mais desonerações.

Mais: lembrou que, no intuito de ajudar Estados e municípios a não aumentarem ainda mais o preço das passagens, o governo federal já havia desonerado a Cide dos combustíveis e o PIS-Cofins sobre o faturamento obtido por meio das passagens.

Além disso, prometeu reduzir tributos sobre a folha de pagamentos do setor de transportes a partir de janeiro de 2014. "Não temos condições de fazer mais reduções de tributos agora", afirmou Mantega.

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