Presidente Dilma Rousseff durante cerimônia de sanção do Código de Processo Civil (Roberto Stuckert Filho/PR)
Da Redação
Publicado em 16 de março de 2015 às 20h15.
Brasília - O governo federal tem obrigação de abrir diálogo de forma humilde e escutar quando acontecem protestos nas ruas, mas ao mesmo tempo tem de manter a postura firme sobre o que "acha importante", disse a presidente Dilma Rousseff nesta segunda-feira.
As declarações de Dilma ocorrem um dia após centenas de milhares de manifestantes saírem às ruas em diversas cidades do país, em protestos convocados nas redes sociais contra o governo federal, o PT e alguns pedindo o impeachment da petista.
"O governo irá sempre dialogar com manifestações das ruas... O sentimento tem de ser de humildade e firmeza", disse a presidente, durante evento no Palácio do Planalto, em que sancionou o novo Código de Processo Civil.
A presidente voltou a afirmar que o ajuste fiscal é necessário para melhorar as contas públicas e garantir que o Brasil volte a crescer, após ter dito que "não conseguimos mais fazer políticas anticíclicas como no passado". “Não tenho dúvidas de que esses ajustes e correções serão realizados para a defesa de todos os brasileiros", disse ela, acrescentando que o governo atende a uma demanda de restrição de gastos.
Ela salientou que não está acabando com políticas feitas anteriormente, como as desonerações tributárias e ampliação da oferta de crédito, e sim as alterando ou reduzindo.
"Não vou deixar de dizer para todo mundo que quero fazer o ajuste fiscal", disse.
Embora tenha reconhecido que há divergências em relação a seu programa de ajuste fiscal, Dilma pregou que se trata do "caminho para continuar crescendo". Ela também admitiu que o direcionamento da política econômica em seu primeiro mandato não foi efetivo como forma de reaquecer a economia.
Ao ser questionada se as declarações desta segunda-feira seriam uma forma de 'mea culpa', Dilma se esquivou afirmando que em toda atividade humana se comete erros, mas ratificou que fazer um gesto público de erro seria falta de "lucidez" política.
No entanto, ela observou que pode ter havido um erro de dosagem na condução da política econômica em seu primeiro mandato.
"Nós, no combate a essa crise (de 2009), utilizamos todas as armas. Ampliamos as subvenções, aumentamos subsídios e desoneramos impostos... Agora, esse caminho, nos níveis em que foi praticado, se esgotou", reconheceu Dilma, que disse que não deve ser responsabilizada por algo que seria pior se o governo não tivesse feito nada.
Dilma afirmou ainda, repetidas vezes, que repudia quem pensa que "quanto pior, melhor", e que existem pessoas que preferiam ter visto empresas falirem e trabalhadores sendo demitidos. "Eu tendo a achar que isso era um custo muito grande", defendeu-se.
Menos de três meses após o início de seu segundo mandato, Dilma enfrenta um momento delicado, marcado pela dificuldade de implementar o ajuste fiscal em meio à expectativa de fraco desempenho da economia e escândalo de corrupção envolvendo a Petrobras.
Além disso, o Executivo tem uma conflituosa relação com o Congresso Nacional, canalizada no descontentamento de seu maior aliado --o PMDB-- e o fortalecimento da oposição.
A petista avaliou que o Congresso não tem sido adverso ao seu governo, mas não descarta dificuldades mais adiante. No entanto, ainda no começo deste mês, o governo sofreu um forte revés depois que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), surpreendeu e rejeitou a MP 669, que trata de desonerações tributárias para vários setores da economia, argumentando que não cumpria os preceitos constitucionais.
"Sempre que for explicado e debatido, o Congresso tem sido sensível", finalizou.