Dilma: segundo a presidente afastada, mesmo que Cunha escape do processo de cassação é difícil acreditar que ele perderá sua influência na Câmara e no governo Temer (Adriano Machado/Reuters)
Da Redação
Publicado em 29 de junho de 2016 às 21h41.
Brasília - A presidente afastada Dilma Rousseff criticou o encontro entre o presidente em exercício, Michel Temer, e o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha, e disse que Cunha representa uma ameaça "integral" e "em todos os sentidos" ao governo interino.
"Domingo passado o senhor Eduardo Cunha foi visitar o senhor presidente interino e provisório no Jaburu, não trataram de futebol certamente, agora trataram de questões que dizem respeito à governabilidade do País", disse, em entrevista ao Jornal do SBT.
Interlocutores de Temer confirmam o encontro e dizem que Cunha foi ao Jaburu sem avisar, já o presidente afastado da Câmara nega que tenha estado com Temer.
Segundo Dilma, mesmo que Cunha escape do processo de cassação é difícil acreditar que ele perderá sua influência na Câmara e no governo Temer. "Será que ele escapando ou não perderá o controle que tem sobre uma parte da Câmara? Ele deixará de ter sido o grande fiador desse impeachment? Deixará de exercer (influência) sobre todo o governo provisório?", disse. Questionada se acreditava que Cunha era uma ameaça ao governo Temer respondeu: "integral e em todos os sentidos".
Indagada se a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Teori Zavascki, de só afastar Cunha depois do processo de impeachment ser aceito na Câmara, Dilma disse que isso poderia comprometer sim o andamento do processo, mas ressaltou que ele já estava contaminado. "O processo tem um pecado original que tem nome: Eduardo Cunha."
Dilma disse que "dentro das possibilidades está bem" e afirmou que vai recorrer ao STF caso o processo de impeachment avance no Senado. "(Se for aprovado) vai ser outra batalha no Supremo, sempre vai ter Supremo como última instância", disse, ressaltando que o STF não está endossando o processo. "Pelo contrário, (o Supremo) está dizendo que a análise do mérito não é deles enquanto os senadores não julgarem."
A petista afirmou que a perícia feita pelo Senado comprova que o impeachment não tem base para avançar e que ainda pretende batalhar para barrar o processo no Senado.
Na segunda-feira, 27, o corpo técnico do Senado responsável por elaborar uma perícia do processo de impeachment entregou laudo que responsabiliza a petista pela edição de decretos de créditos suplementares, mas que a isenta da atuação nas chamadas pedaladas fiscais.
"Acho que reforça o caminho (dos argumentos no Senado). Há um golpe, porque a constituição prevê que para ter impeachment é preciso ter crime de responsabilidade e não tendo crime não pode ter impeachment", disse.
A presidente afastada também comentou a decisão do ministro do STF, Dias Toffoli, de revogar a prisão do ex-ministro do Planejamento Paulo Bernardo.
"Eu considero que o Supremo tem tido uma posição bastante correta quando se trata de impedir que as prisões passem a ser, que tenham outro sentido de não aqueles previsto na lei", disse. "Eu acredito que foi uma decisão prudente e muito firme do Toffoli", afirmou.
Dilma também rechaçou a possibilidade de aparecer alguma irregularidade ligada a ela e a pagamentos ao marqueteiro de campanha João Santana na delação do empresário Marcelo Odebrecht.
"Quem é o informante de dentro do processo de delação que começa com essas informações? Eu paguei R$ 70 milhões para João Santana, o candidato adversário pagou metade. O que eu tinha a mais de pagar que era necessário pagar caixa dois?", disse.
Novas eleições
Dilma disse que não vai tomar a iniciativa de propor o plebiscito para novas eleições caso volte ao poder, mas ressaltou que caso haja essa proposta por parte do congresso vai endossar.
"Não é assim simples. Uma coisa importante é manter a unidade daqueles que me apoiam num extremamente difícil momento", disse. "Essas pessoas têm diferença de opinião, alguns são a favor e outros contra. Se os 27 senadores me propuserem isso eu vou endossar, mas eu não vou tomar iniciativa de fazer isso", disse.
Olimpíada
Dilma disse que ainda não foi convidada para a abertura dos Jogos Olímpicos, mas que tem vontade de comparecer e que acha justo que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também seja chamado.
"Acredito que eventualmente serei convidada, gostaria por um motivo muito simples: fiz todas as tratativas, preparativos e obras. Eu me sinto mãe dessa Olimpíada e o Lula é o pai, é justo que eu e Lula estivéssemos", disse.