Presidente Dilma Rousseff: questionada sobre o encontro que teve com Renzi, a presidente afirmou que a cúpula dos Brics havia sido um dos temas de maior interesse do premiê na conversa (REUTERS/François Lenoir)
Da Redação
Publicado em 10 de julho de 2015 às 17h57.
Milão, Itália - A presidente Dilma Rousseff afirmou nesta sexta-feira, 10, que com o fim do ciclo de alto preço das commodities os grandes países emergentes "passarão a ter uma taxa de crescimento mais modesta".
A declaração foi relatada ao jornal "O Estado de S. Paulo" por um ministro brasileiro que acompanhou o encontro entre a presidente e o primeiro-ministro da Itália, Matteo Renzi, realizado em Roma hoje, um dia depois do fim da 7ª cúpula dos Brics de Ufá, na Rússia.
Dilma chegou a Milão hoje, onde visita neste sábado a ExpoMilão, a exposição universal que neste ano é realizada pelo governo italiano. A presidente chegou ao hotel Hyatt Park acompanhada do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, do de Ciência e Tecnologia, Aldo Rebelo, e do assessor especial para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, e encontrou-se na chegada com a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, que já a esperava em Milão.
Questionada sobre o encontro que teve com Renzi, Dilma afirmou que a cúpula dos Brics havia sido um dos temas de maior interesse de Renzi durante a conversa.
"Eles estavam muito interessados em saber sobre o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) e sobre o Acordo Contingente de Reservas (CRA) dos Brics", relatou, referindo-se às duas instituições financeiras criadas por Brasil, Rússia, Índia,China e África do Sul.
Depois da entrevista da presidente, um ministro brasileiro que pediu para falar sem ser identificado descreveu ao jornal a reunião com Renzi.
"Ele estava interessado em quais haviam sido os desdobramentos da reunião dos Brics e qual a análise dos Brics da conjuntura econômica do mundo, considerando a Grécia e China, e as decisões adotadas", contou.
"Ela disse que tinha sido consolidada a criação do NBD e do Fundo Contingente de Reservas, que os chineses tinham dito que estavam controlando a situação das bolsas de Xangai e Shenzen e que, com o fim do 'superciclo das commodities', todos passariam a ter taxas de crescimento mais modestas."
A admissão de que a tendência é de que os emergentes passem a ter um crescimento mais baixo foi feita no momento em que o Brasil atravessa uma recessão - a previsão atualizada do Fundo Monetário Internacional (FMI) indica decrescimento de 1,5% em 2015 - e em que a China vê sua taxa de expansão se reduzir de dois para um dígito.
Apesar da nova conjuntura de desaceleração, contou o ministro, Dilma afirmou a Renzi que "os Brics apostavam em ter um papel mais importante a partir da criação do banco e do fundo".
Na quinta-feira, além dos encontros multilaterais com chefes de Estado e de governo de Rússia, Índia, China e África do Sul, Dilma teve uma reunião bilateral com o presidente chinês, Xi Jinping. Renzi também demonstrou interesse em saber mais detalhes sobre a avaliação que os Brics faziam da conjuntura econômica mundial.
Mas, segundo o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, a conversa a respeito não teve tom de preocupação com a situação das bolsas de Xangai e Shenzen, que desde junho registraram perdas avaliadas em US$ 3,5 trilhões em ativos de companhias privadas e chegaram a fechar com perdas da ordem de 6% na quinta-feira.
"Não houve um clima de preocupação, inclusive porque as bolsas voltaram a subir, responderam bem aos estímulos e às medidas do governo", afirmou o chanceler.
Marco Aurélio Garcia confirmou que Dilma deu a Renzi um panorama de como havia sido o encontro com chinês e que a conversa sobre os Brics "engatou".
"Ela contou a conversa que tinha tido com o presidente Xi Jinping. Contou que (o momento de instabilidade nas bolsas) foi conjurado, pelo menos como fenômeno conjuntural. O governo fez uma intervenção massiva e forte, tanto que as bolsas subiram", disse o assessor especial.
Outro tema que mobilizou o diálogo entre Dilma e Renzi foi o Plano de Infraestrutura Logística do governo brasileiro. Cerca de 1,2 mil empresas italianas operam no Brasil e o comércio com a Itália - de 10 bilhões, segundo Mauro Vieira - é o segundo maior dentro os países-membros da União Europeia.
Dilma contou que o italiano se interessou em obter informações sobre o plano, e a brasileira aproveitou para convidar empresas italianas a investirem no Brasil.
"Eles estão extremamente interessados na participação de empresas italianas na disputa de concessões de ferrovias, rodovias, portos, aeroportos", disse Dilma ao jornal.