Dilma Rousseff: postura "centralizadora, gerentona e que parece querer controlar tudo" é responsável, ao menos parcialmente, por acissar problemas com a base aliada do governo, na visão de especialistas (Eric Feferberg/AFP Photo)
Da Redação
Publicado em 20 de dezembro de 2012 às 17h58.
São Paulo - A presidente Dilma Rousseff deverá pagar um alto preço com a postergação da votação do Orçamento Geral da União de 2013. A avaliação é de analistas políticos consultados pela reportagem, com base em episódio semelhante ocorrido na gestão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em 2005, desgastado pela eclosão do escândalo do mensalão, Lula não conseguiu aprovar o orçamento de 2006 no parlamento, a despeito de sua habilidade política. A peça orçamentária só foi aprovada em abril do ano seguinte, depois de o ex-presidente ter cedido às pressões da oposição, capitaneada pelo PSDB e PFL.
No imbróglio deste ano, a presidente Dilma Rousseff não enfrenta uma oposição coesa e combativa. Em compensação, tem um desafio maior pela frente, que é apaziguar os ânimos e conflitos de sua própria base aliada no Congresso, argumenta o doutor em ciência política e professor do Insper Humberto Dantas. "Mais do que prejuízos econômicos, em razão da não liberação de recursos para novos investimentos, num momento de crise econômica, a pergunta que se deve fazer é qual o preço que o governo vai ter de pagar para aprovar o seu orçamento", reitera Dantas.
A mesma avaliação é feita pelo cientista político, professor e vice-coordenador do curso de administração pública da FGV Marco Antonio Carvalho Teixeira. Segundo ele, boa parte da crise enfrentada pela presidente no parlamento é dentro de sua própria base aliada, pressionada por governadores e prefeitos insatisfeitos com a perda de receitas do fundo de participação, por conta das desonerações anunciadas pela equipe econômica, e em razão também do impasse provocado pelo debate em torno da votação dos vetos da presidente Dilma a artigos da lei dos royalties do petróleo, tema que tem colocado em lados opostos governadores da base aliada, como o do Rio de Janeiro, Sergio Cabral (PMDB), e o de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB).
Para Humberto Dantas, os problemas que Dilma enfrenta com sua base "nada aliada" no parlamento são acirrados também pela própria postura da presidente: "centralizadora, gerentona e que parece querer controlar tudo". Apesar da constatação, o doutor em ciência política destaca que ela está certa em tentar buscar uma marca própria, um estilo "diferente da permissividade ocorrida na gestão Lula". "Dilma tem um jeito mais técnico de fazer política e isso incomoda, pois esbarra no velho jeito de fazer política, na base do toma lá, dá cá, que ainda impera no parlamento."
Segundo Carvalho Teixeira, nem se a presidente Dilma Rousseff tivesse um interlocutor político mais forte em seu governo, teria mais sucesso nas tratativas com o Congresso. "Este é o caso onde o inimigo mora realmente ao lado (base aliada) e, em razão disso, Dilma terá uma queda de braço muito forte para aprovar o Orçamento. Com certeza, ela terá que abrir os cofres." Os dois analistas apostam, contudo, que o Orçamento vai ser aprovado, só não sabem a que preço, pois é um tema que vai esbarrar nos interesses nada coesos que dominam a base aliada no Congresso.
Dantas e Carvalho Teixeira evocam o exemplo do presidente Lula, considerado um dos mais hábeis negociadores políticos do País, para reforçar o alto custo que o governo da presidente Dilma terá com a postergação do orçamento. Para aprovar a peça orçamentária de 2006, quatro meses depois do prazo em que deveria ter sido votada (em dezembro de 2005), o governo do ex-presidente teve de abrir os cofres e fazer muitas concessões. O que os cientistas políticos questionam é até onde irá a determinação de Dilma para tentar fazer valer seu jeito mais técnico e menos assistencialista de fazer política para aprovar o orçamento 2013 da União.