Dilma: o principal entrave está relacionado à participação do setor de energia na meta de redução das emissões até 2030 (UESLEI MARCELINO/ reuters)
Da Redação
Publicado em 26 de setembro de 2015 às 11h30.
São Paulo e Nova York - Faltando menos de 40 horas para o anúncio da meta brasileira de redução das emissões dos gases de efeito estufa, a presidente Dilma Rousseff ainda debatia no início da noite de ontem, em Nova York, qual será seu conteúdo.
Dilma agendou para amanhã, às 11h30 (horário de Brasília), o anúncio da chamada INDC, sigla no jargão climático para o conjunto de compromissos que todos os países do mundo têm de propor para combater as mudanças climáticas.
É uma contribuição para a Conferência do Clima de Paris, que será realizada em dezembro.
Segundo o Estado apurou, Dilma saiu na quinta à noite do Brasil sem uma decisão e pediu para que a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, a acompanhasse no voo para Nova York para debaterem o assunto.
As discussões continuaram ao longo do dia de ontem (25), depois que a presidente assistiu ao pronunciamento do papa Francisco na abertura da Conferência da ONU sobre o Desenvolvimento Sustentável.
Entraves
Dilma voltou para o hotel antes de o evento terminar e se reuniu com Izabella; o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira; o assessor especial da presidência para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia; e o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim.
O principal entrave parece estar relacionado à participação que o setor de energia terá na meta e sobre o número absoluto que o país vai apresentar de redução das emissões até 2030.
Estudos recebidos pelo governo projetavam que as emissões nacionais podem estar em torno de 1,3 a 1,5 gigatonelada de carbono até 2030. Hoje o valor é de cerca de 1,60 Gt.
Historicamente a maior contribuição do Brasil com a concentração de gases de efeito estufa na atmosfera se deu com o desmatamento da Amazônia. Mas com a redução de 82% nos últimos dez anos, outros setores passaram a pesar mais, como agropecuária e energia.
Estudos entregues ao governo durante o debate da criação da INDC apontaram que é possível reduzir muito as emissões de energia se o país trocar os investimentos massivos em combustíveis fósseis para outros em solar, eólica e etanol. Pelo que o Estado apurou, Dilma reage à ideia de não investir pesadamente no pré-sal.
A presidente só deixou o hotel ao fim do dia para um encontro com o presidente do Irã, Hassan Rohani. Questionada pela reportagem sobre a meta, disse que "vai ser uma boa meta".
"O Brasil sempre dá sua contribuição. Nós somos um país especial nessa área. Nós reduzimos em 82% o desmatamento. Nós temos uma matriz energética hidrelétrica, solar e eólica."
Sobre se outras áreas, além das que envolvem o desmatamento, vão ter de dar a sua contribuição, a presidente Dilma respondeu: "Óbvio. Já entraram. Nós temos agricultura de baixo carbono. Nosso plano agrícola e pecuário hoje prevê todo financiamento para agricultura de baixo carbono."
A ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva criticou ontem (25) a demora do governo. Para ela, deixou-se a declaração para o último momento "para não receber as críticas e contribuições da sociedade".