Mantega: menos recursos para empréstimos subsidiados do BNDES (Antônio Cruz/AGÊNCIA BRASIL)
Da Redação
Publicado em 1 de dezembro de 2010 às 05h08.
Nova York - O governo vai reduzir em mais da metade os empréstimos concedidos pelo Tesouro Nacional ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social no ano que vem, de acordo com o Ministro da Fazenda, Guido Mantega. A medida é parte de um esforço para reduzir a taxa de juro real do País, que é a segunda mais alta do mundo.
Com a redução, vai haver menos recursos para empréstimos subsidiados do BNDES, um dos fatores que ajudaram a elevar o Índice de Preços ao Consumidor Amplo acumulado em 12 meses para 5,2 por cento em outubro. Mantega disse também que o governo vai contigenciar mais de R$ 20 bilhões do orçamento de 2011.
O Brasil, cujo juro real só é menor que o da Croácia entre 46 países acompanhados pela Bloomberg, paga 965 pontos-base a mais para tomar empréstimos no mercado local do que no exterior. O juro da dívida interna brasileira é maior do que o da Grécia e da Irlanda, que estão recebendo ajuda emergencial da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional.
“É insano quando se olha para o diferencial de juros” entre Brasil e Grécia, Pablo Cisilino, que ajuda a administrar US$ 20 bilhões em dívida de mercados emergentes na Stone Harbor Investment em Nova York, disse em entrevista por telefone. No Brasil, “existe um problema com a taxa real de juros.”
O Banco Central pode começar a subir a taxa Selic já na reunião de política monetária deste mês, elevando-a para 12,5 por cento até o fim de 2011, mostram os contratos de juros futuros.
Os empréstimos do Tesouro ao BNDES foram de R$ 104,7 bilhões em 2010. O BNDES oferece crédito subsidiado para projetos de longo prazo que estão contribuindo para o maior crescimento econômico do País em mais de duas décadas.
Superaquecimento
A maior economia da América Latina está se expandindo 7,6 por cento este ano depois de encolher 0,2 por cento em 2009, de acordo com a mediana das previsões de economistas na pesquisa Focus do BC divulgada em 29 de novembro.
O Comitê de Política Monetária do BC elevou a taxa básica de juros em 200 pontos base, ou 2 pontos percentuais, desde abril para 10,75 por cento para evitar um superaquecimento da economia. Investidores estrangeiros em busca de uma alternativa às taxas de juros próximas de zero nos EUA, Europa e Japão colocaram dinheiro no mercado de renda fixa do Brasil, contribuindo para uma valorização cambial de 36 por cento nos últimos dois anos, o que ajudou a elevar o déficit em conta- corrente para US$ 47 bilhões, um recorde.
Mantega triplicou o Imposto sobre Operações Financeiras sobre as aplicações de estrangeiros em renda fixa para conter a valorização do real diante da ação de outros países no que ele chama de “guerra cambial” para enfraquecer moedas e impulsionar exportações.
‘Trégua’
“É importante fazer essa consolidação fiscal e ajudar a reduzir os juros porque vai acabar ajudando o câmbio também”, disse Mantega ontem em entrevista em Brasília. A cotação do real está em um nível “razoável” num momento em que a crise da dívida europeia causa uma “trégua” na guerra cambial, disse o ministro.
A diferença entre o rendimento dos títulos da dívida interna com vencimento em 2017 e papéis de prazo similar vendidos pelo Brasil no mercado internacional se alargou para 965 pontos-base em 22 de novembro, a mais ampla desde novembro de 2008, de acordo com índices do JPMorgan Chase & Co. Isso se compara a uma diferença de 274 pontos-base para a dívida do México local e internacional com vencimento em 10 anos e de 235 pontos-base para a Rússia.
‘Anomalia´
“Neste momento é uma anomalia”, disse Michael Roche, estrategista de mercados emergentes da MF Global Holdings Ltd. em Nova York, em entrevista por telefone. “As taxas domésticas do Brasil estão bem acima mesmo de outros mercados emergentes e isso prova ser um desafio para eles administrarem seus assuntos monetários domésticos.”
O prêmio que os investidores demandam para ter títulos em dólar brasileiros em vez dos do Tesouro americano subiu oito pontos base ontem para 185, de acordo com o JPMorgan Chase Co.
O plano do governo de cortar pela metade os recursos do Tesouro concedidos ao BNDES não são suficientes para ajudar o BC a controlar a inflação, disse Felipe Salto, economista da Tendências Consultoria Integrada, em entevista por telefone. De acordo com ele, o discurso de austeridade fiscal de Mantega não combina com a possibilidade de o Tesouro emprestar mais R$ 50 bilhões ao BNDES.