Queimada na Amazônia, próxima a Porto Velho, em Rondônia. (Bruno Kelly/Amazonia Real/Divulgação)
Estadão Conteúdo
Publicado em 9 de abril de 2021 às 21h28.
As florestas nacionais voltaram a sofrer com os piores índices de desmatamento dos últimos anos. Os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão federal responsável pelo monitoramento nacional, apontam níveis críticos de cortes ilegais registrados no mês passado.
Na região da Amazônia Legal, foram identificados 368 quilômetros quadrados de área desmatada. Trata-se do maior volume registrado para março desde 2015. No ano passado, a área devastada no mesmo mês chegou a 327 km. Em 2019, foram 251 km.
O volume é ainda mais alarmante no Cerrado, que em 2020 protagonizou as piores queimadas já registradas pelos satélites do Inpe. Em março, o Cerrado perdeu 529 km quadrados para o desmatamento. Isso equivale a mais que o dobro do verificado em março de 2020, quando 215 km² de área foram desmatados no bioma.
O volume acumulado de desmatamento no Cerrado entre janeiro e março deste ano chega a 824 km², superando a marca do mesmo intervalo do ano passado, quando 724 km² foram desmatados. Ainda assim, é um volume que o primeiro trimestre de 2019, que somou 1.220 km² de desmatamento.
Na Amazônia Legal, a área total desmatada no primeiro trimestre deste ano é de 576 km², um pouco inferior ao volume do mesmo período do ano passado (797 km²), mas superior a 2019, quando 526 km² foram desmatados entre janeiro e março.
No início deste ano, o Mato Grosso passou o Pará como o Estado da Amazônia Legal com maior área de desmatamento. Foram registrados 1.198 km² de área derrubada no Mato Grosso, contra 909 km² em território paraense. Já no Cerrado, a liderança da devastação fica com a Bahia, com 607 km² de desmatamento, seguida pelo Tocantins, que registra 588 km² de área desmatada.
Há forte preocupação entre ambientalistas e organizações do setor sobre o avanço do desmatamento e das queimadas neste ano, dada a crescente fragilidade das fiscalizações feitas pelo Ibama e o Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio). Os órgãos que estão cada vez mais sucateados, veem seus orçamentos serem pressionados anos após ano, além de não contarem com renovação do quadro de agentes em campo.
Em fevereiro, o vice-presidente Hamilton Mourão anunciou a retirada dos militares que atuavam na Amazônia, no âmbito da Operação Verde Brasil 2. A iniciativa, enquanto esteve vigente, concentrou boa parte dos recursos financeiros disponíveis em operações e estruturas das Forças Armadas, o que não ocorreu em relação aos órgãos que, por missão, devem cuidar do meio ambiente.
Por mais de uma vez, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles chegou a anunciar que 100% das mobilizações de fiscais do Ibama e ICMBio seriam paralisadas, por falta de recursos para pagar contas básicas, como combustível de carros e helicópteros.