Desmatamento na Amazônia: há muitas razões para o avanço, como a anistia a fazendeiros que desmataram ilegalmente a floresta (Brazil Photos / Contributor/Getty Images)
Clara Cerioni
Publicado em 2 de junho de 2019 às 08h00.
Última atualização em 2 de junho de 2019 às 08h00.
Esperava-se que a eleição de Jair Bolsonaro provocasse uma onda de desmatamento na Amazônia. Em cinco meses de mandato, não há sinais de qualquer tipo de avanço das áreas desmatadas. Na verdade, o ritmo de desmatamento está em queda.
Mas conservacionistas estão muito preocupados. A calmaria no ritmo de desmatamento e queimadas no governo Bolsonaro é vista como anormal — devido a chuvas atípicas e muito fortes — e especialistas apontam para algo alarmante que escapou à atenção de grande parte do mundo: o desmatamento está crescendo há anos.
O nível de desmatamento aumentou 73% na Amazônia brasileira entre 2012 e 2018, revertendo um esforço bem-sucedido para refrear a atividade madeireira de pecuaristas e agricultores ao longo de quase uma década.
Somente na última temporada, quase 8 mil quilômetros quadrados, uma área maior que a de Xangai, foram desmatados na maior floresta tropical do mundo, segundo dados do governo.
Há muitas razões para o avanço, como a anistia a fazendeiros que desmataram ilegalmente a floresta, uma lei que facilitou a obtenção de direito de propriedade de terras ocupadas ilegalmente e a redução das inspeções ambientais na região.
Segundo Paulo Barreto, pesquisador da organização sem fins lucrativos Imazon, essas medidas ajudaram a alimentar uma percepção de impunidade, um quadro visto mesmo antes de Bolsonaro.
O presidente planeja aumentar o acesso à Amazônia, tendo lançado iniciativas para afrouxar as restrições às atividades agrícolas e de mineração em áreas protegidas. Para ambientalistas que monitoram o aumento do aquecimento global, isso significa desastre.
A floresta tropical de 2 milhões de quilômetros quadrados é um grande repositório de dióxido de carbono, desempenhando um papel essencial na luta contra a mudança climática.
A floresta também abriga 10% de todas as espécies de plantas e animais conhecidas. E, nas últimas quatro décadas, a selva perdeu cerca de 18% de seu território, segundo o Greenpeace.
Mas o general Augusto Heleno Pereira, ministro do Gabinete de Segurança Institucional, deixou claro em entrevista este mês que o governo tem pouco interesse em ouvir as preocupações de estrangeiros.
"Não aceito essa história de que a Amazônia é patrimônio da humanidade", disse Heleno. "Isso é uma grande bobagem. A Amazônia é brasileira.”
Apesar da postura do governo Bolsonaro, o desmatamento na Amazônia caiu 40% nos primeiros quatro meses de 2019 em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo dados da Imazon.
Conservacionistas dizem que as fortes chuvas no início do ano impediram que fazendeiros fizessem queimadas e desmatassem com seu fervor habitual.
Embora a expansão da soja e outras culturas tenha desempenhado um papel importante, a maior parte do desmatamento na floresta é impulsionada pela pecuária, disse Barreto, da Imazon.
Frigoríficos como a JBS concordaram em não comprar de pecuaristas com atividades em áreas recém-desmatadas, mas a eficácia da proibição tem sido limitada, disse Barreto.
Após a pausa no início do ano, dados preliminares de maio sugerem que o ritmo aumentou nas áreas protegidas da Amazônia com a diminuição das chuvas, segundo o sistema de alerta do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Para Claudio Almeida, que coordena o monitoramento da Amazônia no Inpe, é impossível antecipar qualquer coisa, mas os dados de maio estão piscando um sinal amarelo.
Os meses de junho, julho e agosto, quando o clima é geralmente mais seco e as taxas de desmatamento atingem o pico, serão cruciais.