Brasil

Desembargadora que relacionou Marielle com bandidos presta depoimento

Marília Castro Neves é acusada de calúnia pela família da vereadora assassinada em março de 2018

Marielle Franco: investigações sobre o assassinato da vereadora seguem há quase dois anos (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Marielle Franco: investigações sobre o assassinato da vereadora seguem há quase dois anos (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

AO

Agência O Globo

Publicado em 17 de dezembro de 2019 às 15h01.

Rio de Janeiro — A desembargadora Marília Castro Neves, que disse em rede social que a vereadora assassinada Marielle Franco era "engajada com bandidos", prestou depoimento nesta terça-feira no processo que responde por calúnia. Na primeira vez que falou diante do juiz, ela afirmou que o comentário surgiu num grupo de amigos do Judiciário que estavam "preocupados com a repercussão exagerada que tinha havido com a morte dela".

Marília Castro Neves disse que apenas reproduziu comentários que circulavam na internet. Ela alegou não ter tido a intenção de ofender Marielle Franco, que ela diz não saber quem era antes do assassinato. "Só soube da existência dela quando a imprensa noticiou a morte (de Marielle)", afirmou Marília Castro.

Na publicação que gerou o processo, a desembargadora escreveu que Marielle Franco era “engajada com bandidos” e que teria sido eleita por uma facção criminosa.

Na presença do juiz e da família da vereadora, Marília reafirmou que esta seria uma das hipóteses de investigação da polícia, porque Marielle teria ido a uma favela dominada por uma facção rival à de onde ela realizava trabalho social. Marília Castro não disse, no entanto, qual seria esta favela, nem de onde ela recebeu a informação de que esta era uma hipótese considerada pela polícia e se referiu à repercussão da morte da vereadora como exagerada.

"Naquela época estávamos todos preocupados com a repercussão exagerada que tinha havido com a morte dela. Porque recentemente tinha morrido uma professora tentando salvar umas crianças e ninguém repercutiu a morte dela. Havia policiais femininas que tinham sido mortas também em serviço e ninguém repercutiu a morte dessas pessoas, então a comoção exagerada naquele momento era o objeto de discussão", disse.

Ao justificar por que afirmou que Marielle Franco era “engajada com brandidos”, Marília Castro disse que “para andar nessas comunidades precisa de autorização do dono do morro”. Ela afirmou não ter provas sobre a suposta relação de Marielle Franco com criminosos de uma facção de tráfico de drogas.

"Quando eu disse que ela estava engajada com bandidos, o que eu quis dizer é que ela trabalhava nessas comunidades e, todo mundo sabe, que para subir uma comunidade, a pessoa que sobe precisa de autorização do dono do morro. E por isso, também, é que diziam que ela tinha sido eleita por uma facção, não sei se é verdade", disse.

O processo agora segue para as alegações finais. Nesta segunda-feira, a irmã de Marielle, Anielle Franco, foi ouvida e se emocionou. A desembargadora afirmou que fez uma retratação pública sobre a postagem na época nas redes sociais, e que não procurou a família porque não tinha contato. Nesta terça, no entanto, frente à família, a desembargadora tambem não pediu desculpas.

Para a mãe de Marielle, Marinete da Silva, a desembargadora parece não ter intenção de fazê-lo. "A postura dela foi bem ruim, ela não só reafirmou que Marielle foi eleita por uma facção como acrescentou outra. Em nenhum momento ela se retratou com a família, ela não se retratou porque não quis, ela podia ter ao menos cumprimentado a família. Ela não quis, não teve interesse em fazer e não tem", disse..

As advogadas da família disseram que entraram com uma ação indenizatória por danos morais contra a desembargadora no último dia 10.

Acompanhe tudo sobre:Marielle FrancoRio de Janeiro

Mais de Brasil

Apesar da alta, indústria vê sinal amarelo com cenário de juros elevado, diz economista do Iedi

STF rejeita recurso e mantém pena de Collor após condenação na Lava-Jato

O que abre e o que fecha em SP no feriado de 15 de novembro

Zema propõe privatizações da Cemig e Copasa e deve enfrentar resistência