Aedes aegypti: nas Américas, o zika encontrou uma população "ingênua", sem anticorpos para se defender, o que facilitou sua propagação, ressaltou Weaver (Luis Robayo/AFP)
Da Redação
Publicado em 22 de fevereiro de 2016 às 15h45.
Galveston - Há muitas coisas que os cientistas não sabem sobre o vírus zika e uma das mais intrigantes é o que fez um organismo que parecia inofensivo passar a infectar centenas de milhares.
Também não está claro o que provocou a associação com a microcefalia e a síndrome de Guillain-Barré.
As respostas podem demorar anos para chegar e dependerão da observação da evolução da doença e da realização de testes em animais suscetíveis ao zika.
Scott Weaver, diretor do Instituto de Infecções Humanas e Imunidade da Faculdade de Medicina da Universidade do Texas (UTMB, na sigla em inglês), disse que há três hipóteses para explicar a maior agressividade do zika: 1) o vírus teve uma mutação, provavelmente no Sudeste asiático; 2) o vírus se tornou mais eficiente e passou a gerar níveis mais elevados de contaminação; e 3) não houve mudanças, mas a doença passou a ser notada ao se mover para regiões fora da África - antes se confundia com uma série de endemias, como dengue, chikungunya e febre amarela.
Nas Américas, o zika encontrou uma população "ingênua", sem anticorpos para se defender, o que facilitou sua propagação, ressaltou Weaver.
Segundo ele, uma eventual mutação pode ter aumentado a capacidade do vírus de infectar os mosquitos Aedes aegypti.
"Nós sabemos que isso aconteceu com chikungunya. De 2005 a 2009, houve várias mutações que aumentaram a eficácia do vírus contra o Aedes albopictus."
Weaver acredita que há indicações sólidas da relação entre zika, microcefalia e síndrome de Guillain-Barré. "A coincidência é muito forte."
Mas ainda não está claro se outros fatores influenciam. "Provavelmente teremos respostas dentro de anos. Não é simples testá-las."