Economista do Iedi diz que a indústria brasileira está perdendo competitividade (DIVULGAÇÃO/Camargo Correia)
Da Redação
Publicado em 9 de dezembro de 2010 às 11h30.
São Paulo - Com um crescimento de 0,5% entre o segundo e o terceiro trimestre do ano, o Produto Interno Bruto (PIB) mostra em sua evolução que a economia brasileira vem perdendo ritmo. Segundo o economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) Rogério de Souza, o panorama é saudável, mas alguns dados específicos são preocupantes. "Esta desaceleração recaiu praticamente toda sobre as costas da indústria", diz o economista.
Segundo Souza, de modo geral, os números divulgados não preocupam. O avanço de 0,5% é condizente com as características da economia brasileira. Um ritmo mais acelerado não seria sustentável, sobretudo por causa da inflação, que voltou a preocupar os economistas e o governo.
Por outro lado, a queda de 1,3% no PIB da indústria na comparação entre o terceiro e o segundo trimestre mostra que o cenário tem um lado sombrio. "A indústria caiu bastante e os dados de produção já mostravam que o setor está patinando. Quem segurou o crescimento da economia foi o setor de serviços. Se a indústria extrativa mineral não segurasse o resultado, a queda seria muito maior", explica Rogério de Souza.
O economista enfatiza que a preocupação vai além do que os números mostram. Os resultados da indústria vieram acompanhados de crescimentos tanto das exportações quanto das importações. O problema é que na comparação trimestre a trimestre, o país importou quase três vezes mais do que exportou.
A comparação entre o terceiro trimestre de 2010 e o mesmo período em 2009 é "ainda mais chocante", nas palavras de Souza. As exportações aumentaram 11,3%, ao passo que as importações tiveram 40,9% de incremento.
"Nossa indústria está perdendo competitividade no cenário mundial por fatores como a infraestrutura precária, a carga tributária elevada e a valorização do câmbio, que é um dos fatores mais preocupantes. No terceiro trimestre de 2009, a média cambial do real frente ao dólar era de 1,87. No mesmo período em 2010, esta média foi de 1,75 reais. O efeito disso sobre a competitividade é muito forte", afirma.
Menos amargo
Rogério de Souza avalia que o último pacote de medidas do Banco Central - o qual inclui o aumento do compulsório e a manutenção da Selic - foi "salutar para a economia", por tentar diminuir o consumo.
"Em vez de aumentar os juros, o que inibe o consumo, mas afeta a economia de forma mais abrangente, o BC optou por um remédio menos amargo. Ajustar o compulsório mexe diretamente no crédito, nos prazos, mas não tem impacto nos investimentos. É disso que a economia precisa agora", diz.
Para o economista, o Banco Central deu mostras de que "abraça questão do desenvolvimento, mas com cuidado, atentos às questões de inflação." Ao mesmo tempo, a autoridade monetária mostra disposição em andar "de mãos dadas" com o ministério da Fazenda, estimulando os investimentos. "A Fazenda vai ajudar, diminuindo os gastos com o custeio do governo. À medida que for operacionalizando estas políticas, com o Banco Central fazendo sua parte, logo teremos espaço para uma redução verdadeira da taxa de juros", conclui.
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