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Deputados impõem condições para aprovar pacote anticrime de Moro

Parlamentares do centrão querem votar lei que endurece o abuso de autoridade, que está parada desde 2017 por ter sido considerada anti-Lava Jato

Moro: deputados vão usar a crise na Receita Federal como pretexto para votar o projeto de abuso de autoridade (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Moro: deputados vão usar a crise na Receita Federal como pretexto para votar o projeto de abuso de autoridade (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 28 de fevereiro de 2019 às 11h18.

Última atualização em 28 de fevereiro de 2019 às 11h29.

Líderes de partidos do Centrão querem condicionar a aprovação do pacote anticrime apresentado pelo ministro da Justiça, Sérgio Moro, à votação do projeto de lei que endurece a lei de abuso de autoridade.

O texto foi aprovado no Senado em abril de 2017, mas não avançou na Câmara porque ganhou a pecha de anti-Lava Jato, por prever punição a juízes e integrantes do Ministério Público.

Agora, deputados vão usar a crise na Receita Federal como pretexto para votar o projeto de abuso de autoridade. A articulação é estimulada por ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Integrantes das duas Cortes ou até mesmo seus parentes estão entre os 134 contribuintes alvo de pente-fino da Receita.

O vazamento dessas informações provocou reação do Judiciário. Já o Tribunal de Contas da União (TCU) mandou abrir uma inspeção (mais informações nesta página).

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou a interlocutores que o pacote de Moro andará no mesmo ritmo do projeto de abuso de autoridade. Procurado para falar sobre esse ponto, Maia não se manifestou.

Já o líder do DEM, deputado Elmar Nascimento (BA), afirmou ao jornal O Estado de S. Paulo que a investigação da Receita foi uma surpresa.

"Se fizeram isso com um ministro do Supremo e com a mulher do presidente da Corte, o que se pode fazer com qualquer cidadão? Aí é que se pressiona pela votação do projeto de abuso de autoridade", afirmou o deputado, em referência a Gilmar Mendes e a Roberta Rangel, mulher do ministro Dias Toffoli.

A ministra do STJ Isabel Gallotti também entrou na mira da Receita Federal.

Em nota, a Receita afirmou que "os indícios originalmente apontados não se confirmaram, razão pela qual os procedimentos de fiscalização não foram instaurados".

O secretário especial da Receita, Marcos Cintra, chegou a pedir desculpas aos contribuintes que tiveram seus dados expostos.

Gilmar, por sua vez, reforçou o coro sobre a necessidade de o Congresso votar o projeto de abuso de autoridade. "Está evidente que (o vazamento) virou um festival, um pandemônio", argumentou ele.

O líder do PP, Arthur Lira (AL), definiu como "esculhambação" não apenas o vazamento de dados da Receita, como de investigações da Justiça e do Ministério Público. "Sempre defendi o projeto de abuso de autoridade."

No PT, o deputado Paulo Pimenta (RS), líder da bancada, também disse ser favorável a dar prioridade ao projeto que pune desvios de conduta de agentes públicos. "Somos a favor porque todos os setores da sociedade devem ter regras. Sejam deputados ou juízes", declarou Pimenta.

Até mesmo integrantes do partido do presidente, o PSL, admitem votar as duas propostas "casadas". A deputada Bia Kicis (DF) ressalvou, porém, que a alternativa "não pode prejudicar o pacote de Moro".

Penas

O projeto sobre abuso de autoridade prevê mais de 30 ações que podem ser assim classificadas, com penas que variam de seis meses a quatro anos de prisão. Para a força-tarefa da Lava Jato, essas medidas, se aprovadas, acabarão por restringir as investigações.

Na prática, a votação conjunta das duas proposições também é uma resposta do Congresso a trechos do pacote de Moro, como o que criminaliza o caixa 2 nas campanhas eleitorais.

A medida foi apartada do projeto principal justamente para evitar danos à parte do pacote que trata da segurança pública e do combate ao crime organizado. Na tentativa de obter apoio dos congressistas, o próprio Moro tem adotado discurso mais brando sobre o caixa 2.

Maia ainda avalia se irá ou não instaurar uma comissão especial para analisar o pacote anticrime. Nesse caso, o conjunto de propostas teria de tramitar em diversas comissões temáticas, o que poderia prolongar por anos a análise final. "Ainda não decidi. Vamos analisar isso com calma", disse Maia ao jornal.

A preocupação é evitar que esse debate contamine a votação da reforma da Previdência. A pauta econômica é prioridade não só do governo como do presidente da Câmara.

Outro "entrave" ao projeto de Moro é o ministro do Supremo Alexandre de Moraes. Ex-ministro da Justiça, ele integrou uma comissão de juristas que preparou projeto semelhante ao de Moro.

Na noite desta quarta-feira (27), os dois se reuniram para tentar uma aproximação. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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