Eduardo Cunha (PMDB-RJ): Alencar reclamou que Cunha virou as costas quando foi confrontado sobre a denúncia (Montagem/Exame.com)
Da Redação
Publicado em 27 de agosto de 2015 às 17h16.
Brasília - Parlamentares do PSOL acusaram nesta quinta-feira, 27, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e seus aliados de terem "vedado" a discussão na Casa sobre a denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra ele no Supremo Tribunal Federal (STF).
"Criou-se um pacto espúrio de silêncio, inclusive de parte da maioria das lideranças, de omitir o assunto", concluiu o líder da bancada, deputado Chico Alencar (RJ).
O PSOL acredita que Cunha cancelou a sessão de debates nesta quinta para evitar que outros parlamentares viessem à tribuna falar sobre a denúncia e pedir seu afastamento. Ele cobrou uma explicação em plenário do peemedebista.
"Está acontecendo há exatamente uma semana algo grave e inédito neste Parlamento. O procurador-geral apresentou uma denúncia robusta contra o presidente. De maneira inédita, um denunciado não se manifestou minimamente sobre isso no plenário e era obrigação elementar ir à tribuna na primeira vez após a denúncia", disse Alencar.
O líder disse que o silêncio na Casa lembra o "silêncio da máfia". "Parece que há um mar de cumplicidades e de temores", afirmou. Alencar reclamou que Cunha virou as costas quando foi confrontado sobre a denúncia e questionou a viagem do peemedebista para os Estados Unidos.
"Como se nada tivesse acontecendo, lá vai o presidente numa comitiva para representar o Parlamento brasileiro numa reunião nos Estados. Parece que deviam ir para a Disney, porque lá é um parque de diversões e um mundo encantado onde a vida real não chega", provocou.
Hoje foi divulgado o manifesto com 35 assinaturas de deputados que pedem a saída imediata de Cunha da Presidência da Casa, mas não há na lista nenhum parlamentar do PSDB, do Solidariedade e do DEM.
Do PMDB, só há o apoio do deputado Jarbas Vasconcelos (PE). O PSOL, que encabeça o movimento, acredita que deve crescer o apoio em favor da saída do peemedebista.
O partido promete buscar o apoio de entidades civis para aumentar a pressão sobre Cunha e acabar com o "silêncio de cemitério".
"Eu chamaria o silêncio de silêncio ensurdecedor", completou o deputado Ivan Valente (PSOL-SP). Membro da CPI da Petrobras, Valente criticou a "blindagem" da comissão sobre a investigação de políticos.
O deputado apresentou hoje um requerimento de acareação entre o doleiro Alberto Youssef e o operador do PMDB, Fernando Soares, mas, sem quórum, o requerimento não foi aprovado. "A cúpula da CPI esvaziou (a sessão). Nós conseguimos colocar o requerimento extrapauta, mas o presidente (Hugo Motta) votou em dois minutos para impedir o quórum dessa acareação", disse Valente.
No início da entrevista do PSOL, o líder do governo, deputado José Guimarães (PT-CE), concluía sua conversa com os jornalistas. Questionado sobre a saída de Cunha, Guimarães evitou o confronto com o peemedebista.
"O governo evidentemente não vai se manifestar sobre isso. O governo tem uma questão que para ele que é fundamental, que é a justiça, o trânsito em julgado, é o direito ao contraditório."
Apuração interna
Questionado sobre futura representação no Conselho de Ética, Alencar disse que o PSOL ainda não entrou com o pedido de investigação porque não quer correr o risco de haver rejeição preliminar, já que o STF ainda não aceitou a denúncia da PGR contra Cunha.
"O Conselho será acionado tão logo o Supremo faça a mínima manifestação", respondeu. Segundo o parlamentar, o pedido já está sendo preparado "com muito esmero".
Sobre outros parlamentares já citados na Operação Lava Jato, Alencar afirmou que o partido já pediu a abertura de sindicância sobre todos os investigados e que até hoje a Corregedoria não se manifestou.
"O pacto de silêncio já era preliminar lá na Corregedoria. É mais um episódio degradante", comentou Alencar.