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Depois de Meirelles, Tombini passará por um período de provação

Por não ser um figurão já consagrado, ele ficará sob a marcação dos investidores

Alexandre Tombini (AGÊNCIA ESTADO)

Alexandre Tombini (AGÊNCIA ESTADO)

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Da Redação

Publicado em 24 de novembro de 2010 às 14h40.

São Paulo - Dilma Rousseff tem um desafio hercúleo nos próximos quatro anos: estar à altura do mito Lula. Guardadas as proporções, Alexandre Tombini, 46 anos, tem pela frente um problema semelhante. No meio monetário, Henrique Meirelles, o atual presidente do Banco Central, pode até não ser um mito, mas é um dos nomes de maior respaldo no mercado financeiro – local e internacional.

Sua gestão é um sucesso sob qualquer ângulo que se olhe (talvez com a exceção de seu flerte com a política no período final, um movimento que retirou um pouco de seu brilho como banqueiro central). Foi extremamente hábil no relacionamento com o presidente Lula, de quem obteve apoio quase irrestrito. Sobreviveu às incontáveis investidas contra a sua política, inclusive de gente do próprio governo. Soube manter uma equipe de qualidade. Consolidou as políticas herdadas de seu antecessor, Armínio Fraga – e sem a necessidade quase doentia de seu chefe de negar o caráter de continuísmo de sua gestão. Não pretendeu reinventar a roda, e hoje entrega um país estável e em crescimento. Para quem se lembra de como era a economia brasileira até não muito tempo atrás, é um legado que merece aplauso. Meirelles sai do BC maior do que entrou.

O que não significa que sejam pequenos os desafios à frente de Alexandre Tombini. A inflação está em elevação, e uma alta de juros logo no início de 2011 parece ser uma possibilidade cada vez mais aceita. Juros em alta reforçam a tendência de fortalecimento do real, ampliando as incertezas quanto ao crescimento do déficit externo do país. A própria vocação do Brasil encontra-se em jogo, com receios crescentes de uma excessiva “primarização” da economia brasileira.


Claro que muitas dessas questões dizem mais respeito ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, do que ao novo presidente do BC. Mas, inevitavelmente, são temas que passarão por sua mesa. É um salto e tanto para o atual diretor de Normas, alguém que, até hoje, tinha de se preocupar apenas com regulamentações financeiras.

Tombini estará à altura do cargo? Qualificação não lhe falta. Economista formado pela Universidade de Brasília, tem um PhD pela Universidade de Illinois. Está no BC há mais de uma década, tendo convivido por oito anos com Meirelles. Já foi diretor de Assuntos Internacionais e de Estudos Especiais do BC. Antes, trabalhou no Fundo Monetário Internacional. Se não chega a ser unanimidade – e não é –, é um nome aceito pelo mercado financeiro.

Por não ser um figurão já consagrado, porém, passará inevitavelmente por um período de provação. Os investidores vão marcá-lo de perto, até que sintam que o enorme estoque de confiança acumulado pelo BC brasileiro nos últimos 15 anos não encontra-se em risco. Como o tempo no mercado financeiro corre de forma mais acelerada do que no resto do mundo, talvez não sejam necessárias mais do que uma ou duas reuniões do Conselho de Política Monetária para que a tensão baixe. Mas serão momentos decisivos – para Tombini e para o governo Dilma.

Talvez o que esteja em jogo seja menos a competência de Tombini e mais o seu peso num governo cujo caráter ainda não está claro. Vale rememorar o equilíbrio entre o Ministério da Fazenda e o BC nos últimos anos. No início do governo Lula, com Antonio Palocci à frente, Fazenda e BC caminhavam com bastante sintonia. Isso se perdeu do segundo mandato, quando houve uma inflexão desenvolvimentista após a chegada de Guido Mantega.

Como será a condução da economia no próximo governo? A tensão entre um BC monetarista e uma Fazenda desenvolvimentista se manterá? Ou agora as duas equipes vão caminhar alinhadas – mas sob a tutela de Mantega? São respostas a essas perguntas que o mercado financeiro busca. Com muita ansiedade.

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