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Governo não tem número real de casos de dengue, diz estudo

Estudo de pesquisadores da UFBA e Fiocruz revela que de 997 casos de dengue detectados em Salvador (BA), apenas 57 foram registrados pelo governo

Visitas de agentes de saúde para evitar proliferação do mosquito da dengue em Porto Alegre
 (Betina Carcuchinski/PMPA)

Visitas de agentes de saúde para evitar proliferação do mosquito da dengue em Porto Alegre (Betina Carcuchinski/PMPA)

Talita Abrantes

Talita Abrantes

Publicado em 8 de fevereiro de 2016 às 14h46.

São Paulo – Em estudo publicado na edição de fevereiro da revista do Centro para Controle e Prevenção de Doenças, ligada ao governo americano, uma equipe de pesquisadores brasileiros sugere que os dados oficiais sobre casos de dengue no Brasil são subnotificados.

Os pesquisadores estimam que de cada 12 casos de dengue, apenas 1 entrou para os boletins oficiais de registro da doença do governo federal no período analisado.

Segundo o estudo, a discrepância é ainda maior nos meses em que a transmissão do vírus é baixa: de cada 17 diagnósticos feitos pelos cientistas, apenas 1 foi relatado ao governo nesse período. 

O grupo chegou a esta conclusão após analisar 3,8 mil casos de pacientes que deram entrada em uma unidade pública de saúde em Salvador (BA), entre janeiro de 2009 e dezembro de 2011, com relato de febre alta, um dos sintomas da dengue.

Após fazer dois testes de sangue com quinze dias de diferença em cada participante, os pesquisadores detectaram o vírus da dengue em 997 casos. No entanto, desse montante, apenas 57 foram registrados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), do Ministério da Saúde. Ou seja, menos de 6% dos casos de dengue entraram no radar do governo federal. 

Pior, dos mais de 70% casos cujo teste para dengue deu negativo, 26 foram reportados ao Ministério da Saúde como portadores da doença.

A pista para tanta discrepância pode estar na maneira como os diagnósticos são fechados no Brasil, segundo relato do coordenador do estudo, Guilherme de Sousa Ribeiro, professor da Universidade Federal da Bahia e pesquisador da Fiocruz, ao jornal El País.

Exames laboratoriais não são obrigatórios para determinar se uma pessoa está com dengue ou não – tanto que de cada quatro participantes da pesquisa que relataram febre, apenas um foi submetido a exames laboratoriais para além dos oferecidos pela pesquisa.

“A subnotificação de casos de dengue tem sido atribuída à detecção passiva de casos, que falha ao identificar pessoas que não buscam cuidados médicos. Nós mostramos que a supervisão também falha ao detectar casos de dengue em pacientes sintomáticos que buscam ajuda médica”, afirma o estudo.

Entre as medidas propostas pelo grupo para reduzir a subnotificação está aplicar o teste rápido de dengue em todos os pacientes com os sintomas – método ainda não disponível em toda rede pública.

“Diante da recente emergência dos vírus Zika e Chikungunya, melhorias na supervisão e nos diagnósticos laboratoriais são necessárias para prevenir erros de classificação e de gerenciamento dos casos”, afirma o texto.

No ano passado, o Brasil bateu recorde de diagnósticos de pessoas infectadas com o vírus da dengue. Foram mais de 1,6 milhão de casos confirmados. 

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