Sergio Moro e Deltan Dallagnol (Agência Brasil/Montagem/Exame)
João Pedro Caleiro
Publicado em 15 de julho de 2019 às 19h43.
Última atualização em 15 de julho de 2019 às 20h01.
São Paulo - O procurador Deltan Dallagnol sugeriu o uso de recursos da Vara Federal de Curitiba para custear um vídeo anti-corrupção que seria veiculado na Globo, segundo vazamentos de mensagens feitos pelo site The Intercept Brasil em parceria com Reinaldo Azevedo feitos nesta segunda-feira (15).
Em 16 de janeiro de 2016, Deltan escreve ao então juiz federal e atual ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, a seguinte mensagem:
"Vc acha que seria possível a destinação de valores da Vara, daqueles mais antigos, se estiverem disponíveis, para um vídeo contra a corrupção, pelas 10 medidas, que será veiculado na globo?? A produtora está cobrando apenas custos de terceiros, o que daria uns 38 mil. Se achar ruim em algum aspecto, há alternativas que estamos avaliando, como crowdfunding e cotização entre as pessoas envolvidas na campanha."
Em seguida, ele encaminha o roteiro e o orçamento do vídeo, notando que ainda poderia haver alteração.
"Avalie de modo absolutamente livre e se achar que pode de qq modo arranhar a imagem da LJ de alguma forma", aponta Deltan.
No dia seguinte, 17 de janeiro de 2016, Moro responde: "Se for so uns 38 mil achi ["acho"] que é possível. Deixe ver na terça e te respondo.... ".
Pelas mensagens até agora, não fica claro qual foi a resposta dada por Moro, quais recursos são esses e como eles poderiam ser direcionados pelo então juiz.
O roteiro do suposto comercial, anexado em PDF, inclui um homem de terno e gravata que invade uma "família de classe média" para jogar fora comidas e remédios, rasgar e rabiscar livros infantis e em seguida engatilha um revólver na frente de um casal que permanece dormindo.
A campanha das 10 medidas contra a corrupção foi elaborada pelo Ministério Público Federal, apoiada por atores da Lava Jato como Sergio Moro e levada ao Congresso em 2017.
Desde então, se converteu em projetos de lei. alguns dos quais estão em avanço (como a criminalização do caixa dois) enquanto outros estão parados ou foram considerados inconstitucionais.
Desde o início dos vazamentos das mensagens há pouco mais de um mês, tanto Deltan quanto Moro tem se negado a garantir a sua autenticidade ao mesmo tempo em que insistem que elas não revelam nenhuma irregularidade.
Desde o dia 09 de junho, o Intercept vem revelando uma série de conversas privadas que mostram Moro e procuradores, principalmente Deltan Dallagnol, combinando estratégias de investigação e de comunicação com a imprensa no âmbito da Operação Lava Jato.
Segundo as revelações, o ex-juiz sugeriu mudanças nas ordens das operações, antecipou ao menos uma decisão e deu pistas informais de investigações nos casos envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O site é de Glenn Greenwald, um jornalista americano vencedor do prêmio Pulitzer por ter revelado, em 2013, um sistema de espionagem em massa dos EUA com base em dados vazados por Edward Snowden.
Como as revelações vieram a público por uma reportagem, ainda será necessária uma extensa investigação, provavelmente conduzida pela Polícia Federal, para confirmar as implicações jurídicas.
O vazamento de informações sigilosas no âmbito da Lava Jato tem sido comum desde o início da operação em 2014.