Toffoli: o vazamento causou mal-estar no STF e levou a PGR a suspender as negociações com a OAS (Adriano Machado/Reuters)
Clara Cerioni
Publicado em 1 de agosto de 2019 às 11h13.
Última atualização em 1 de agosto de 2019 às 12h10.
São Paulo — Novas mensagens reveladas nesta quinta-feira (01) pelo jornal Folha de S.Paulo e pelo site The Intercept Brasil, mostram que o procurador Deltan Dallagnol incentivou uma investigação sigilosa contra o atual presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, em 2016.
Segundo as conversas, Deltan incentivou colegas em Brasília e Curitiba a participar da empreitada. O coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato buscou informações sobre as finanças pessoais de Toffoli e sua mulher e evidências que os ligassem a empreiteiras envolvidas com a corrupção na Petrobras.
Em julho de 2016, Deltan consultou os colegas que negociavam um acordo de colaboração com a empreiteira OAS para saber se tinham informações sobre o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal.
"Caros, a OAS trouxe a questão do apto do Toffoli?", questionou. Em seguida, o procurador Sérgio Bruno Cabral Fernandes responde: "Que eu saiba não. Temos que ver como abordar esse assunto. Com cautela".
Semanas depois, de acordo com a reportagem, Deltan procurou Eduardo Pelella, chefe de gabinete do então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para trocar informações sobre Toffoli. Ele estava interessado na reforma que o ministro tinha feito em sua casa em Brasília, com participação da OAS.
"Pelella, queria refletir em dados de inteligência para eventualmente alimentar Vcs. Sei que o competente é o PGR rs, mas talvez possa contribuir com Vcs com alguma informação, acessando umas fontes. Vc conseguiria por favor descobrir o endereço do apto do Toffoli que foi reformado?", disse Deltan.
Em agosto, a revista Veja publicou uma reportagem de capa sobre a reforma na casa de Toffoli, apontando a delação de Léo Pinheiro como fonte das informações. Embora os advogados da OAS tivessem mencionado o caso aos procuradores, eles ainda não tinham apresentado nenhum relato por escrito sobre o assunto.
Na época, o vazamento causou mal-estar no STF e levou a PGR a suspender as negociações com a OAS, para evitar uma crise que poderia prejudicar o andamento de outras investigações.
O rompimento dividiu a força-tarefa de Curitiba, segundo as mensagens. O procurador da Lava Jato Carlos Fernando defendeu a medida, mas Deltan achava que o recuo seria interpretado como uma tentativa de proteger Toffoli e o STF.
"Qdo chega no judiciário, eles se fecham", disse Deltan aos colegas em 21 de agosto, um dia após a reportagem sobre Toffoli chegar às bancas. "Corrupção para apurar é a dos outros."
Carlos Fernando temia que os ministros do Supremo reagissem impondo obstáculos para novos acordos de colaboração e criando outras dificuldades para a Lava Jato. "Só devemos agir em relação ao STF com provas robustas", afirmou. "O que está em jogo aqui é o próprio instituto da colaboração. Quanto a OAS e ao toffoli, as coisas vão crescer e talvez daí surjam provas."
Com as novas revelações, Toffoli e o ministro Gilmar Mendes avaliam qual atitude tomar contra Deltan. Segundo o blog de Tales Faria, no UOL, os magistrados ficaram "irritadíssimos" com as novas mensagens e devem conversar sobre as consequências.
Desde o dia 09 de junho, o Intercept vem revelando uma série de conversas privadas que mostram Moro e procuradores, principalmente Deltan Dallagnol, combinando estratégias de investigação e de comunicação com a imprensa no âmbito da Operação Lava Jato.
Segundo as revelações, o ex-juiz sugeriu mudanças nas ordens das operações, antecipou ao menos uma decisão e deu pistas informais de investigações nos casos envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O site é de Glenn Greenwald, um jornalista americano vencedor do prêmio Pulitzer por ter revelado, em 2013, um sistema de espionagem em massa dos EUA com base em dados vazados por Edward Snowden.
Como as revelações vieram a público por uma reportagem, ainda será necessária uma extensa investigação, provavelmente conduzida pela Polícia Federal, para confirmar as implicações jurídicas.
O vazamento de informações sigilosas no âmbito da Lava Jato tem sido comum desde o início da operação em 2014.