Eduardo e Waldir: decisão acontece uma semana após conflito (Agência Câmara/Reuters)
Clara Cerioni
Publicado em 21 de outubro de 2019 às 12h17.
Última atualização em 21 de outubro de 2019 às 12h58.
São Paulo — Após uma semana de conflitos, o Delegado Waldir (GO) decidiu nesta segunda-feira (21) entregar o cargo de líder do PSL na Câmara dos Deputados. O anúncio foi feito por meio de um vídeo divulgado pela assessoria de imprensa do parlamentar.
"Aceitamos democraticamente uma lista que foi feita por parlamentares", afirmou Waldir, acrescentando que estará "à disposição do novo líder para, de forma transparente, passar toda a liderança do PSL".
Em mais uma reviravolta para o caso Waldir-PSL-Bolsonaro: Delegado Waldir decide entregar liderança do partido na Câmara dos Deputados. Leia mais em => https://t.co/k9OXc5ThPw pic.twitter.com/YI4nDivaPL
— exame (@exame) October 21, 2019
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (SP) já foi confirmando como novo líder. Seu nome foi oficializado no site da Câmara após deputados da ala bolsonarista do PSL terem apresentado uma nova lista para nomeá-lo.
Na gravação, Waldir afirma, ainda, que a sigla voltou atrás e não vai mais suspender os cinco parlamentares, aliados ao presidente Jair Bolsonaro, que foram afastados na semana passada. São eles: Carla Zambelli (SP), Alê Silva (MG), Filipe Barros (PR), Carlos Jordy (RJ) e Bibo Nunes (RS).
A guerra de lideranças na Câmara começou na noite de quarta-feira da semana passada, dia 16, quando aliados de Bolsonaro apresentaram na Câmara dos Deputados duas listas com 26 e 24 assinaturas destituindo Waldir e indicando Eduardo Bolsonaro como líder do partido na Casa. Menos de meia hora depois, parlamentares ligados a Waldir apresentaram uma segunda lista, com 29 nomes.
Na manhã seguinte, dia 17, Bolsonaro decidiu que iria substituir a líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann, que assinou a lista de Waldir. Quem assume o cargo é Eduardo Gomes (MDB-TO).
De acordo com a secretaria-geral da Câmara, as assinaturas apresentadas pelo grupo dissidente, que indicaram Eduardo, não alcançaram o número suficiente para tirar o atual líder do posto.
No mesmo dia, o deputado Daniel Silveira (RJ) vazou um áudio, em que Waldir chama Bolsonaro de “vagabundo” e diz que vai “implodir” o presidente. “Eu vou implodir o presidente. Aí eu mostro a gravação dele. Não tem conversa. Eu implodo ele. Eu sou o cara mais fiel. Acabou, cara. Eu sou o cara mais fiel a esse vagabundo. Eu votei nessa p*, eu andei no sol em 246 cidades para defender o nome desse vagabundo”. Logo em seguida, alguém não identificado o alerta: “Cuidado com isso, Waldir.”
A briga interna para liderança do PSL acontece em meio à uma disputa entre os parlamentares da ala aliada a Bolsonaro e dos aliados ao presidente nacional da sigla, Luciano Bivar.
A crise ganhou as manchetes há cerca de duas semanas, quando Bolsonaro falou para um apoiador “esquecer” o PSL porque o presidente nacional do partido, Luciano Bivar, está “queimado pra caramba”.
A fala foi vista como uma tentativa de se distanciar das acusações que recaem sobre Bivar e o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antonio, ambos investigados por liderarem esquemas de candidatas-laranja nas eleições, em Pernambuco e em Minas Gerais, respectivamente. As acusações contra o ministro vem desta fevereiro, mas ele segue no cargo.
No dia anterior à fala, o presidente exigiu de Bivar, por telefone, o comando do PSL. Disse que, caso a situação continuasse como está, deixaria o partido. Bivar recusou o ultimato.
Nos bastidores, aliados de Bolsonaro apoiam a ideia de ele tomar o controle do partido. “Continuamos (no PSL) se o presidente puder assumir a Executiva do partido. O partido só é o que é hoje porque Bolsonaro foi eleito. ”, disse Carla Zambelli (SP), uma das dissidentes.
Dois dias depois do alerta ao apoiador, Bolsonaro e mais 21 parlamentares enviaram um requerimento solicitando uma auditoria nas contas públicas dos últimos cinco anos do PSL. O documento chama de “precárias” as prestações de contas do partido e afirma, ainda, que “a contumaz conduta pode ser interpretada como expediente para dificultar a análise e camuflar irregularidades”.
Na quinta-feira passada (10), a Polícia Federal realizou uma operação de busca e apreensão em endereços ligados a Bivar. O pedido havia sido feito em agosto, mas autorizado apenas agora. Deputados ligados ao dirigente do partido atribuíram a operação a uma espécie de retaliação do presidente.
O delegado Waldir, inclusive, foi uma dos mais críticos à ação. Em entrevista, ele disse que o senador Flávio Bolsonaro (RJ), filho do presidente, e seu ex-assessor Fabrício Queiroz, acusados da prática de “rachadinha” na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, deveriam ser também alvo de buscas.
A tensão entre as duas alas do partido se intensificou na terça-feira da semana passada, quando Waldir orientou sua bancada a obstruir a votação de uma medida provisória de interesse do Palácio do Planalto.