Moro: para o juiz, as investigações em curso poderão fazer da corrupção sistêmica apenas "uma lembrança" (Rafael Marchante/Reuters)
Agência Brasil
Publicado em 30 de maio de 2017 às 20h14.
O juiz federal Sérgio Moro, responsável pelas ações da Operação Lava Jato na primeira instância, defendeu hoje (30) as delações premiadas e disse que os acordos permitem que as investigações avancem.
"Sem a delação premiada não teria sido possível descobrir os esquemas de corrupção no Brasil, porque ela quebrou o tabu da confiança entre os criminosos", disse Moro durante evento no Cascais, em Portugal.
Segundo Moro, nos crimes de corrupção há corruptos e corruptores, mas, em geral, nenhuma testemunha, por isso a importância das delações.
"É muito difícil apurar. Para investigar esses crimes praticados em segredo usamos vários meios, entres eles a delação premiada. A ideia é usar um criminoso menor para chegar ao maior para pegar os grandes", comparou.
O juiz disse ainda que "uma das regras de ouro do processo da delação é haver provas de corroboração", o que garante a legitimidade do instrumento.
Ao lado de juízes como o português Carlos Alexandre, o espanhol Baltasar Garzón, e o italiano Antonio Pietro - que atuou na Operação Mãos Limpas -, Moro foi veemente ao defender a Lava Jato e afirmar que "não há nenhuma vergonha" em combater a corrupção.
"A exposição e a punição da corrupção pública é uma honra e não uma vergonha. Embora no Brasil haja algumas visões negativas sobre o processo, existe um anseio na sociedade brasileira em termos um país mais limpo", disse o juiz brasileiro, que foi plaudido de pé e apresentado pela jornalista da televisão portuguesa SIC Clara de Sousa como "uma das pessoas mais importantes do mundo".
Segundo Moro, as investigações e julgamentos em curso poderão fazer da corrupção sistêmica no Brasil apenas "uma lembrança" e é preciso ter esperança na melhora do país.
"Não importa se a corrupção seja grande ou pequena. Ela é um mal que deve ser investigado e processado, pois pode adquirir aspecto mais grave quando se torna habitual e vira sistêmica", acrescentou.
O juiz destacou que a corrupção causa danos à economia, eleva os custos dos serviços públicos e afasta investidores, além se ser prejudicial à democracia.
"Se as pessoas acharem que a corrupção é uma coisa normal, a confiança no sistema democrático é afetada. Por isso é preciso enfrentá-la de todas as formas", disse Moro, que defendeu a participação da sociedade civil neste processo, ampliando as ações do Judiciário.