O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu: petista foi sentenciado por supostas propinas de R$ 15 milhões (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
Estadão Conteúdo
Publicado em 2 de outubro de 2018 às 11h52.
São Paulo - Dirigentes do PT repreenderam o ex-ministro José Dirceu em razão de suas últimas entrevistas, nas quais o petista afirmou que seria uma questão de tempo "para a gente tomar o poder", além de querer retirar o poder de investigação do Ministério Público e de restringir o papel do Supremo Tribunal Federal (STF) ao de uma Corte constitucional no País.
Um interlocutor afirmou que no partido a avaliação é de que o ex-ministro está "falando demais". Além da reação dos dirigentes, a campanha de Fernando Haddad, o presidenciável petista, quer distância das declarações polêmicas de Dirceu - solto em junho pela Segunda Turma do STF após ser condenado em segunda instância na Operação Lava Jato. As falas causaram irritação pelo momento em que foram feitas - a reta final da campanha - e por obrigar a candidatura de Haddad a uma postura defensiva. Dirceu, segundo outro dirigente, quer "mostrar uma importância que não tem".
A ordem é dizer que o papel do ex-ministro é zero na campanha e evitar que suas declarações tenham impacto na campanha de Haddad, como as de auxiliares do principal oponente do PT, o candidato do PSL, Jair Bolsonaro.
No domingo, dia 30, em São Luis, Dirceu tratou da polêmica. Ao lançar o primeiro volume de sua biografia, ele afirmou que usou uma expressão "infeliz". "Porque dá condições para se explorar como se eu tivesse falando que existe uma coisa que é ganhar eleição e outra coisa que é tomar o poder. Eu estava respondendo no caso de um golpe."
Em entrevista ao jornal El País, o ex-ministro respondeu à pergunta sobre se havia possibilidade de o PT ganhar a eleição, mas não levar. Disse que achava improvável, que a comunidade internacional não aceitaria. E completou: "E dentro do País é uma questão de tempo pra gente tomar o poder. Aí nós vamos tomar o poder, que é diferente de ganhar uma eleição".
Dirceu iniciou um périplo pelo Brasil em 4 de setembro para lançar a biografia. "E como sempre, vou fazer política, que ninguém é de ferro", disse na ocasião. Percorreu 11 capitais. Começou a viagem de carro. Está em companhia da mulher, da filha menor e do editor de seu livro, o jornalista Luiz Fernando Emediato, dono da editora Geração.
Na Bahia, a editora alugou um ônibus leito na empresa Corumbal. "É uma pequena empresa que tem oito veículos comumente alugados para bandas de música", afirmou Emediato. O ônibus que leva Dirceu havia sido usado antes por uma banda de axé.
A rotina do ex-ministro é de encontros com a militância petista, entrevistas para jornalistas locais e sessões de autógrafos. A receptividade de Dirceu entre o público lulista pode ser medida pelas vendas do livro - cerca de 25 mil exemplares até o momento.
Ao mesmo tempo, a rejeição a ele pode explicar a forma escolhida por ele para viajar. No ônibus leito, o ex-chefe da Casa Civil pode escapar ao incômodo de hostilidades, geralmente registradas por meio de telefones celulares em aviões.
O ônibus não impede, no entanto, que o ex-ministro tenha de pensar em estratagemas: para ir a restaurantes sem ser incomodado, Dirceu usa um chapéu e óculos escuros. Ele esteve em todas as capitais do Nordeste, região chave para Haddad. Nesta segunda-feira, dia 1º, deixou São Luís (MA) e foi para Belém, capital do Pará, último ponto antes do primeiro turno das eleições.
Enquanto espera a definição da Justiça, Dirceu escreve outros dois livros: um sobre o sistema penal e um romance sobre a luta armada. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.