Debate da Globo: encontro é mais ameno, mas tem ataques de Nunes como foco ( Globo/ Bob Paulino/Divulgação)
Publicado em 3 de outubro de 2024 às 23h10.
Última atualização em 4 de outubro de 2024 às 00h29.
No debate de maior audiência desta eleição municipal de São Paulo, realizado nesta quinta-feira, 3, pela TV Globo, os cinco candidatos à prefeitura usaram o espaço para apresentar suas propostas, mirando os eleitores indecisos, que devem decidir seu voto às vésperas do primeiro turno neste domingo, 6 de outubro.
Comparado aos encontros anteriores, o embate teve um clima mais morno, com o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB) como o principal alvo de Tabata Amaral (PSB), Guilherme Boulos (PSOL), Pablo Marçal (PRTB) e José Luiz Datena (PSDB).
Nos dois últimos blocos, o clima esquentou com embates mais fortes entre Marçal e Boulos, além de ataques entre o deputado federal e Ricardo Nunes.
Marçal, candidato considerado bélico durante toda a campanha teve uma postura mais contida, guardando ataques mais duros para o final do encontro. Cerca de nove pedidos de respostas foram solicitados, mas nenhum foi atendido pela produção do debate.
Cada candidato buscou mostrar, no primeiro bloco — que geralmente tem maior audiência —, o que tem para oferecer ao eleitor.
O atual prefeito Ricardo Nunes, que abriu o encontro seguindo a ordem de sorteio, usou seu tempo para defender sua gestão e destacar as ações realizadas ao longo do mandato. Nunes ressaltou os R$ 20 bilhões de dinheiro em caixa, reforçando sua responsabilidade pela saúde financeira do município, além de citar a criação de 19 Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e a redução de impostos sobre os aplicativos de transporte, como Uber e 99.
O apresentador José Luiz Datena (PSDB), por sua vez, aproveitou o espaço para reforçar sua imagem como o candidato da segurança pública, chamando atenção para suas propostas contra o roubo de celulares na capital.
A deputada federal Tabata Amaral (PSB) teve 10 minutos seguidos na tela e usou o tempo para criticar o governo de Nunes, classificando-o como um "prefeito pequeno" e responsável por uma "gestão medíocre".
Além disso, Tabata tentou se posicionar como uma candidatura viável, destacando o desafio de superar os três principais candidatos, que possuem mais que o dobro de suas intenções de voto, segundo as pesquisas eleitorais.
O deputado Guilherme Boulos (PSOL) rebateu as críticas de seus adversários sobre sua falta de experiência, destacando sua trajetória política e os feitos de sua vice, a ex-prefeita Marta Suplicy (PT), além do apoio do presidente Lula. Boulos também fez um discurso voltado aos eleitores descrentes com a política, posicionando-se como o "candidato da mudança".
Último a falar na primeira parte, o influenciador e ex-coach Pablo Marçal (PRTB) buscou se apresentar como o candidato da antipolítica. Diferente de sua postura nos debates anteriores, Marçal não atacou seus adversários e focou em destacar suas propostas. O influenciador prometeu prosperidade para a população de São Paulo.
No segundo bloco, com temas sorteados, os candidatos mantiveram a mesma postura do primeiro bloco, de focar em propostas, além de reforçarem as críticas a gestão Nunes.
Tabata e Marçal tiveram uma interação tranquila em comparação com debates anteriores. A deputada questionou sobre mobilidade, e o influenciador apresentou suas propostas. Na réplica, Tabata detalhou suas ideias para melhorar a locomoção na cidade.
A já conhecida "dobradinha" de debates anteriores, Datena e Boulos, teve um embate sobre a posição do deputado em relação à reforma previdenciária aprovada na cidade e o aumento de impostos.
O psolista prometeu que não vai aumentar impostos e que revogará a contribuição de 14% da aposentadoria dos servidores municipais. No restante de seu tempo de fala, Boulos prometeu obras de mobilidade e programas de habitação.
Quando teve a oportunidade de responder, Datena reforçou que também é contra o aumento de impostos e afirmou que reduzir impostos é necessário para melhorar a vida dos mais pobres.
No embate entre Tabata e Nunes, a deputada aproveitou a pergunta sobre moradia e o programa "Pode Entrar" para falar sobre sua proposta de financiamento de aluguel para os mais pobres e criticou a falta de atenção da gestão do MDB às pessoas em situação de rua. Tabata afirmou que uma das marcas de Nunes é ter assumido a gestão com uma cracolândia e entregar 72 cracolândias.
Marçal aproveitou a pergunta para Nunes para questionar sobre a qualidade da educação na cidade e pediu que o prefeito falasse "onde errou e o que vai fazer". Em uma postura defensiva, Nunes destacou todos os feitos de sua gestão e afirmou que precisa de mais tempo para realizar novas ações.
Na resposta, Marçal afirmou que vai implementar as disciplinas de educação financeira, empreendedorismo e inteligência emocional nas escolas. O influenciador também destacou a necessidade de ensinar inteligência emocional às crianças e afirmou que a mudança só acontecerá se "todo mundo que está no poder for trocado".
Assim como no debate anterior, realizado pelo UOL e pelo jornal Folha de S. Paulo, Boulos foi novamente questionado por Tabata sobre suas mudanças de posicionamento e se prevalecerá o "Boulos dos marqueteiros" ou o "Boulos do PSOL".
O deputado lamentou o tom da candidata e defendeu que, no tema das creches conveniadas, vai trabalhar para melhorar as condições de trabalho. Ele destacou que nunca defendeu a Guarda Civil Metropolitana (GCM) sem equipamento e prometeu dobrar o efetivo. O psolista aproveitou para citar a declaração do vice de Nunes, o coronel Mello Araujo, que já defendeu tratamento diferenciado para os mais pobres. "Isso eu não sou a favor", afirmou Boulos.
O candidato do PSOL contestou as críticas e disse que tem coerência, e por isso é "o mais atacado".
Tabata satirizou os candidatos por estarem "comportados" e fez um discurso para reforçar que existem boas ideias tanto na esquerda quanto na direita, defendendo que, para governar a cidade, é preciso ter diálogos com todos. Boulos afirmou que também terá diálogos com o presidente e com o governador e, em seu tempo final, prometeu que revogará a concessão dos cemitérios feita por Nunes, que criou, segundo ele, uma "indústria da morte".
Nunes, que perdeu o direito de resposta, usou seu tempo de embate com Datena para afirmar que fez um governo liberal e defender a concessão. O apresentador, no entanto, também criticou o projeto do prefeito, destacando que, com ele, o brasileiro não estava sendo respeitado "nem na vida, nem na morte" com a concessão.
Marçal, em seguida, fez uma dobradinha com Datena para atacar o que os dois classificaram como "candidatos extremistas". O tema das mudanças climáticas surgiu logo depois, quando Nunes perguntou a Tabata o que ela pensava sobre o tema.
A deputada do PSB acusou a atual gestão de ter falhado na eletrificação dos ônibus, de não dar encaminhamento às áreas de risco e de não avançar nos projetos de ciclovia. Tabata afirmou que sua proposta nessa área é olhar para os 800 pontos em situação de risco e apresentar políticas de moradia digna ou intervenção.
Nunes contestou a parlamentar e ressaltou que criou nove parques, foi convidado pelo Papa Francisco a apresentar as "boas ações na cidade" e instituiu a Secretaria de Mudanças Climáticas em São Paulo.
O momento mais tenso do debate ocorreu no confronto direto entre Boulos e Marçal. O embate começou com o psolista afirmando estranhar a mudança de tom de Marçal, que anteriormente usava os debates para atacar seus adversários. Boulos criticou o ex-coach por criticar Nunes, mas ter em sua equipe pessoas ligadas ao ex-prefeito e ex-governador João Doria.
Marçal alegou ter aceitado essas pessoas porque elas romperam com Doria e acusou Boulos de ser controverso, aumentando o tom. "Agora o lobo está aparecendo", disse Boulos, acusando o oponente de não responder sobre sua equipe de ex-aliados de Doria e questionando Marçal sobre o que chamou de "ódio às mulheres".
Marçal rebateu, afirmando que a fala de Boulos era "um papinho de esquerdopata" e atacou: "Quem não gosta de mulher é alguém que tem boletim de ocorrência por violência doméstica, ladainha de esquerdopatia", afirmou Marçal. Ambos pediram direito de resposta, mas as solicitações foram negadas.
O quarto bloco começou quente, com uma intensa troca de acusações entre Boulos e Nunes. Com o tema de concessões, Boulos questionou a falta de transparência nos contratos da gestão do emedebista, mencionando R$ 5 bilhões em obras sem licitação e sob suspeita de corrupção.
Nunes respondeu atacando Boulos e criticando suas mudanças de postura, afirmando que o candidato quer "enganar o povo". O atual prefeito defendeu a concessão dos cemitérios, destacou a concessão dos terminais de ônibus e questionou Boulos sobre a acusação de rachadinha envolvendo o deputado André Janones na Câmara dos Deputados.
Boulos rebateu, dizendo que rachadinha é crime e que já esclareceu a questão, além de afirmar que Nunes não responde às perguntas. O deputado contra-atacou, questionando o prefeito sobre uma reportagem que mencionava que um funcionário da prefeitura seria parente de Marcola, um dos líderes do Primeiro Comando da Capital (PCC).
Em resposta, Nunes reforçou que Boulos é mentiroso, afirmando que o funcionário citado na matéria é concursado e está há mais de 20 anos na administração pública.
Na sequência, Datena e Tabata fizeram uma dobradinha para discutir o roubo de celulares. A deputada citou o caso do Piauí, onde os índices de roubo melhoraram, e afirmou que pretende reproduzir a medida em São Paulo. Datena acrescentou que o roubo de celulares está ligado ao crime organizado e precisa ser combatido.
Em outro embate quente, Marçal questionou Boulos sobre seu passado no Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e o atacou, afirmando que ele é um candidato de extrema esquerda, que conhece mais "biqueira" do que a cidade de São Paulo e não merece ser prefeito.
Na resposta, Boulos disse que o influenciador é um lobo em pele de cordeiro e afirmou que Marçal insinua repetidamente que ele usa drogas, atacando sua honra e família. O deputado apresentou seu exame toxicológico e afirmou que nunca usou drogas. Boulos provocou que o influenciador faça o mesmo exame, além de um psicotécnico.
Após mais uma troca de falas sobre propostas com Datena, Tabata relembrou que, nos debates anteriores, Marçal provocou e atacou todos os candidatos. Ela também criticou o influenciador por estar usando um "gesso fake" sem necessidade, dizendo que uma pessoa que mente em pequenas coisas, mente em questões maiores, e por isso ele não irá para o segundo turno.
No fim, Marçal aproveitou para ampliar a artilharia e relembrou o boletim de ocorrência registrado pela esposa de Ricardo Nunes e o suposto envolvimento do prefeito na máfia das creches.
Nunes utilizou o tempo das considerações finais para explicar que o boletim de ocorrência nunca envolveu agressão, que foi apenas um desentimento com a esposa a mais de 13 anos. E voltou a pedir os votos para seguir fazendo o trabalho na prefeitura.
No fim, o 11º debate com candidatos à prefeitura da cidade de São Paulo ocorreu dentro da normalidade, sem cadeiradas ou socos, e com propostas, o mais importante para o eleitor nessa reta final da eleição.