Maia e Eunício: ambos não querem parecer que são "pautados" por uma gestão impopular (Ueslei Marcelino/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 22 de fevereiro de 2018 às 10h47.
Última atualização em 22 de fevereiro de 2018 às 10h48.
Brasília - O confronto aberto pelos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), com o presidente Michel Temer - por causa do "plano B" do governo no Congresso, após o fiasco da reforma da Previdência - tem como pano de fundo as eleições. Os dois estão em busca de protagonismo na cena política e não querem parecer que são "pautados" por uma gestão impopular.
A reação começou após o decreto de intervenção federal no Rio. Maia e Eunício avaliam que Temer passou por cima do Legislativo ao tentar puxar para o governo a pauta da segurança pública. O clima piorou com o anúncio, feito pelo Palácio do Planalto, de uma "agenda alternativa" com 15 projetos econômicos, para compensar o enterro das mudanças nas regras da aposentadoria.
Para Maia, as medidas cheiram a "café velho e frio, que não atende à sociedade". "Esses temas já estão na pauta aqui há muito tempo. De repente vira uma pauta do governo? A pauta da Câmara quem faz é a presidência da Câmara, não é o presidente da República. É uma questão de respeito institucional", criticou ele.
Pré-candidato ao Palácio do Planalto, Maia atribuiu a Temer a intenção de criar um imposto para bancar a segurança pública. "Expliquei a ele: é inviável, porque, por lei, tem que ser para o próximo ano e por emenda constitucional não pode por causa do decreto da intervenção", afirmou o deputado. A ideia do imposto, considerada extremamente impopular, ainda não foi tratada oficialmente pelo governo.
Na tentativa de puxar o protagonismo de volta para si, o presidente da Câmara determinou a criação de um "observatório" para fiscalizar as ações de segurança pública do governo, inclusive a própria intervenção, e decidiu iniciar na próxima semana votações de projetos na área. O plano é criar uma comissão especial para "consolidar" as propostas que serão votadas.
Responsável pela articulação política com o Congresso, o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, fez um mea-culpa pela forma como o Planalto anunciou o pacote de 15 medidas, mas disse que o "mal-entendido" foi superado.
"Talvez, e eu sou uma pessoa muito franca, antes de anunciar devêssemos ter trazido aqui e comunicado (Maia e Eunício), mesmo que tivesse havido algumas discussões. Talvez, mas isso já é coisa superada."
Auxiliares de Temer dizem não entender Maia, mas acreditam que seus últimos movimentos estão relacionados à intervenção federal no Rio. A atitude de Eunício causou ainda mais estranheza no Planalto. O emedebista afirmou que o Senado não é um "puxadinho" do governo. Para interlocutores de Temer, o que está por trás dessas declarações é mesmo a campanha eleitoral.
Eunício vai disputar novo mandato no Senado na chapa do governador do Ceará, Camilo Santana (PT). Além disso, se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva entrar no páreo, o palanque de Eunício abrigará o petista, e não um concorrente do MDB.
Nesse jogo, enquanto a rejeição a Temer não diminui, mesmo quem é de seu partido adota a estratégia do "morde e assopra" e mantém distância regulamentar do governo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.