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De “Let it Be” às águas do Jordão: vídeos alimentam adoração a Bolsonaro

Mensagens que unem simbologias religiosas à candidatura do militar florescem na internet conforme a campanha avança

Bolsonaro: orações para o candidato convivem com profecias sobre sua vitória na eleição (Paulo Whitaker/Reuters)

Bolsonaro: orações para o candidato convivem com profecias sobre sua vitória na eleição (Paulo Whitaker/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 4 de outubro de 2018 às 10h34.

São Paulo - "Qual o nome do nosso líder?", pergunta um homem, microfone à mão. "Bol-so-na-ro!", dizem os cerca de 70 fiéis que, vestidos de branco, formam nas águas do rio Jordão o número 17, referência à legenda do deputado. O local é foco de peregrinação por ter sido onde, segundo a Bíblia, Jesus foi batizado.

Há dois anos, o próprio Bolsonaro fora batizado ali - católico, recebeu o sacramento de Pastor Everaldo, seguidor da Assembleia de Deus Madureira e presidente do PSC. "Mito! Mito! Mito!", entoam os peregrinos, enquanto batem com os braços n'água em celebração.

O vídeo com a cena foi replicado pelo presidenciável do PSL no Facebook, onde 7 milhões de pessoas acompanham suas postagens. Ao público da página, foi oferecido também uma versão de música dos Beatles que vem circulando pelo WhatsApp. No vídeo, que mescla imagens religiosas a fotos de Bolsonaro no hospital, o refrão de "Let it Be" virou "Ele sim".

"Dos céus, Deus ordenou ao mito: filho, levanta-te, pois estou contigo. Já dei ordens aos meus arcanjos sobre ti", diz a letra. "Derramo em ti a unção da vitória, a mesma que em Davi", segue a música.

https://www.youtube.com/watch?v=_Leos3Re52A

As mensagens que unem simbologias religiosas à candidatura do militar florescem na internet conforme a campanha avança. Orações para o candidato convivem com profecias sobre sua vitória na eleição. Vídeo postado no YouTube pelo canal "Adoradores na Net" traz mensagem de um pastor que teria tido uma revelação dias antes do atentado a Bolsonaro e pede orações para ele. Já teve quase duas milhões de visualizações.

Pelo WhatsApp, correntes com citações bíblicas que remeteriam aos candidatos têm feito sucesso entre evangélicos. Uma delas sentencia que essa eleição é "bíblia pura" ao citar passagens: "Jair se levanta para defender o povo de Deus" e "Hadade foi adversário do povo de Deus, pois o detestava". Ambos os trechos circulam fora de contexto e não correspondem fielmente ao texto bíblico.

Segundo lideranças religiosas e pesquisadores ouvidos pela reportagem, não se trata de fenômeno novo. Neste pleito, a proliferação de mensagens religiosas acompanha o aumento da adesão de eleitores cristãos à campanha de Bolsonaro, cujo lema é "Brasil acima de tudo e Deus acima de todos". Entre católicos, ele tem 28% das intenções de voto. Entre evangélicos, o apoio chega a 40%, diz o Ibope.

Para o professor da Unicamp Ronaldo de Almeida, boa parte do que circula é material de campanha "customizado" para o público religioso. Segundo ele, o crescimento da inserção de Bolsonaro no segmento e o apoio de lideranças evangélicas já no primeiro turno surpreenderam. "Apesar do discurso conservador, Bolsonaro tem valores contrários aos dos evangélicos em temas como armamento ou defesa da tortura. Esse movimento é explicado pelo antipetismo."

O deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), pastor da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, diz que manifestações de apoio com referências bíblicas são naturais e fruto da criatividade dos evangélicos. Ele afirma que o voto em Bolsonaro não virá dessas mensagens, mas do repúdio às pautas do PT que, segundo ele, são contrárias à família. "No meio evangélico, demônio e PT estão muito próximos", afirma. "Todo mundo vai de Bolsonaro".

Para o deputado Marcos Feliciano (Podemos-SP), pastor que virou símbolo da ascensão conservadora no Congresso, as mensagens religiosas em homenagem a Bolsonaro são positivas. "Toda palavra contida na Bíblia foi escrita por homens e mulheres por inspiração divina. Qualquer referência deve ser encarada para o bem, demonstra conhecimento do povo de Deus pela palavra e intimidade para fazer uma analogia bem-humorada." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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