Bolsonaro e o ministro Ernesto Araújo: almoço na embaixa americana no fim de semana, quando Bolsonaro já estaria infectado com o coronavírus (Isac Nóbrega/PR/Divulgação)
Carolina Riveira
Publicado em 7 de julho de 2020 às 12h41.
Última atualização em 7 de julho de 2020 às 20h40.
O presidente Jair Bolsonaro disse que testou positivo para o novo coronavírus, segundo ele próprio informou em entrevista coletiva. O presidente disse que começou a sentir sintomas no domingo, 5, e fez o exame para covid-19 na segunda-feira, 6.
Médicos afirmam que o novo coronavírus pode demorar, no geral, cerca de uma semana até manifestar sintomas no corpo dos pacientes. Assim, o presidente poderia já estar contaminado ao longo da última semana, enquanto cumpria agenda oficial, que incluiu encontros com mais de uma dezena de pessoas dentro e fora do governo.
No começo desta semana, na segunda-feira, 6, Bolsonaro tinha encontro marcado com o ministro da Economia, Paulo Guedes, conforme constava em sua agenda oficial do dia. Questionado, o ministério da Economia não informou, por enquanto, se Guedes foi testado para o coronavírus e qual seria o resultado.
Na última quinta-feira, 2, o presidente participou de uma transmissão ao vivo em suas redes sociais com o presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, e o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho. A Caixa informou em nota que Guimarães fez teste para detecção de covid-19 nesta terça-feira e que o executivo não apresenta sintomas.
No sábado, 4, o presidente foi também a um evento na residência do embaixador dos EUA, onde estiveram presentes pelo menos sete pessoas, entre funcionários da embaixada americana e do governo brasileiro.
Pelo lado brasileiro, posaram para uma foto no evento o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, o ministro da Casa Civil, general Braga Netto, o general Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo e o ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva. O encontro foi para celebrar a independência dos Estados Unidos, comemorada em 4 de julho.
O embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Todd Chapman, também esteve no encontro e pousou para foto ao lado do presidente, publicada posteriormente no Facebook. A Embaixada Americana no Brasil informou por meio de nota em seu site que Chapman fará exame para o coronavírus.
Alguns nomes que se encontraram com o presidente no fim de semana na residência do embaixador americano estavam novamente na agenda de Bolsonaro nesta segunda-feira, 6: os generais Braga Netto (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo).
Também constavam como confirmados para o mesmo encontro de ontem Jorge Antonio de Oliveira, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, e Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional -- Heleno já contraiu a doença neste ano.
A agenda desta segunda incluía também José Levi Mello do Amaral Júnior, advogado-geral da União, Mario Frias, secretário especial de Cultura, e Roberto Mira, da empresa NTC&Logística.
Após a confirmação do diagnóstico do presidente, os ministros Braga Netto e Luiz Eduardo Ramos afirmaram que fizeram teste rápido para covid-19 e o resultado foi negativo. O ministro Jorge Oliveira fez o exame e aguarda os resultados. A confiabilidade dos chamados testes rápidos vem sendo questionada em meio à alta taxa de erro nos resultados, com pacientes tendo resultado falsamente negativo.
Fora da agenda oficial, Bolsonaro também se encontrou ontem com o reitor da Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc), Aristides Cimadon, que tem 70 anos, e com o líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), segundo o Estado de S.Paulo. Os dois são possíveis candidatos ao cargo de ministro da Educação, vago há duas semanas.
Na manhã do mesmo sábado em que foi à residência americana, o presidente Jair Bolsonaro voou para Santa Catarina, para sobrevoar áreas atingidas pelo ciclone-bomba na região. O ministro Marinho (Desenvolvimento Regional) disse em seu Twitter que estava no voo. As demais pessoas pessoas presentes no voo ao lado do presidente não foram confirmadas.
No estado, o presidente foi recepcionado pela vice-governadora de Santa Catarina, Daniela Reihner. (O governador catarinense, Carlos Moisés, não esteve presente por estar ele próprio em isolamento domiciliar após ter sido diagnosticado com a covid-19.)
No dia anterior, na sexta-feira, 3, um grupo de dez empresários também almoçou com o presidente e com Paulo Guedes no Palácio da Alvorada, cobrando maior liberação de crédito para a retomada da economia. Os empresários integram o chamado Conselho pelo Diálogo pelo Brasil.
Segundo o jornal O Globo informou na ocasião, estava entre o grupo o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, Rubens Ometto (Cosan), Rubens Menin (MRV), Luiz Carlos Trabuco (Bradesco), Candido Pinheiro (HapVida), Fernando Queiroz (Minerva Foods), Carlos Alberto Oliveira (Caoa), Eugênio Mattar (Localiza), Francisco Gomes (Embraer) e Lorival Nogueira (BRF).
O mesmo grupo também se reuniu, na sequência, com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, e com o presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli.
Ao longo da última semana, até quarta-feira, 1º de julho, a agenda de Bolsonaro incluiu ainda nomes como Ricardo Salles, ministro do Meio-Ambiente e André Luiz de Almeida, ministro da Justiça e Segurança Pública.
Na última terça-feira, 30, Bolsonaro participou ainda da cerimônia de prorrogação do auxílio emergencial, onde esteve novamente de Paulo Guedes, assim como do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e de Davi Alcolumbre, do Senado -- Bolsonaro e os chefes do Legislativo aparecem em vídeos compartilhando, por exemplo, uma caneta para assinar a prorrogação.
Também na última terça-feira, estava na agenda de Bolsonaro um encontro com uma série de dirigentes de clubes de futebol. A lista confirmada incluía Maurício Galiotte, presidente do Palmeiras, Marcelo Feijó de Medeiroso, do Internacional, Guilherme Cortizo Bellintani, do Bahia, Robinson Passos de Castro e Silva, do Ceará, Samir Namur, do Coritiba, Matheus Del Corso Rodrigues, representante do Santos e Aguinaldo Coelho de Farias, presidente do conselho do Athletico Paranaense.