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Davi Alcolumbre quer fazer "faxina" em postos do MDB no Senado

O próprio Renan Calheiros deve ser "demitido" por Alcolumbre do cargo de ouvidor do Senado

Davi Alcolumbre: O alvo da ação judicial é o próprio presidente do Senado, mas a decisão pode beneficiar a todos seus colegas na Casa. (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

Davi Alcolumbre: O alvo da ação judicial é o próprio presidente do Senado, mas a decisão pode beneficiar a todos seus colegas na Casa. (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 17 de fevereiro de 2019 às 09h38.

Última atualização em 17 de fevereiro de 2019 às 09h39.

Brasília - Apesar do discurso de pacificação adotado após ser eleito presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP) prepara uma "faxina" em cargos de diretoria e coordenadoria da Casa controlados pelo MDB. O alvo são servidores apadrinhados por seus antecessores - Eunício Oliveira (CE), José Sarney (AP) e Renan Calheiros (AL).

O próprio Renan deve ser "demitido" por Alcolumbre do cargo de ouvidor do Senado. Responsável por receber a opinião dos cidadãos sobre a Casa Legislativa, o mandato do senador alagoano não será renovado.

A lista de diretores, secretários e coordenadores de áreas que vão passar pelo pente-fino tem 184 nomes. A avaliação do presidente do Senado e de pessoas do seu entorno é de que, se quiser fazer uma renovação na Casa, como prometeu aos colegas, precisará acabar com o que considera "maus hábitos" que estariam impregnados nos principais postos de comando. Na prática, o controle vai passar para as mãos do novo grupo que comandará o Senado no biênio 2019-2020.

Foi com a promessa de cargos que Alcolumbre conseguiu votos suficientes para se eleger presidente e derrotar Renan. Senadores que atuaram como seus cabos eleitorais espalharam a mensagem de que, se Renan fosse eleito, os novatos não teriam chance de ocupar os postos da Casa. Ao todo, o Senado tem cerca de 2.500 cargos de livre nomeação. "A gente ia falando isso de orelha em orelha", afirmou um senador que participou da campanha.

A primeira demissão foi do diretor da Polícia Legislativa, Pedro Ricardo Araújo Carvalho, que ocupava o cargo há 14 anos. Ele chegou por indicação de Renan e permanecia no cargo. Em 2016 foi preso por quatro dias durante a Operação Métis, da Polícia Federal. Motivo: suspeita de prestar serviço de contrainteligência para ajudar senadores investigados na Operação Lava Jato. O diretor sempre negou as acusações.

O presidente do Senado ainda analisa a permanência de outros ocupantes de cargos-chave que têm suas trajetórias de ascensão atreladas a emedebistas. Entre eles o secretário-geral do Senado, Luiz Fernando Bandeira de Mello, que chegou a ser destituído por Alcolumbre no dia da eleição após manobra que favoreceu Renan, mas foi reconduzido ao posto.

Uma resolução elaborada pelo secretário favoreceria a tática de Renan para garantir que a eleição fosse secreta e não por meio de voto aberto, como defendia Alcolumbre. Alvo de campanha nas redes sociais, o emedebista acreditava que teria chance de vencer apenas com a eleição secreta. Ao final, prevaleceu o voto fechado, mas senadores protestaram mostrando suas cédulas para o plenário.

Segundo a reportagem apurou, Bandeira de Mello passa por uma espécie de "estágio probatório". Por enquanto, a ideia de Alcolumbre é testar a confiabilidade do secretário-geral, pois o servidor é tido como um dos mais brilhantes da Casa. Como exemplo, senadores costumam lembrar que ele chegou à Secretaria-Geral do Senado quando tinha apenas 34 anos.

Jantar. A diretora-geral do Senado, Ilana Trombka, também nomeada quando Renan presidia a Casa, é outra que deve ser substituída. É atribuída a ela a organização de um jantar para 200 pessoas na residência oficial, regado a whisky e espumante, no dia da eleição.

Como nenhum dos demais candidatos foi avisado, a suspeita é de que o convescote seria para Renan, até então considerado favorito na disputa. A diretoria-geral justificou que se trata de uma praxe do Senado organizar o evento para o vencedor, seja ele quem for.

Ilana chegou ao cargo pouco depois da queda de Agaciel Maia, o então todo-poderoso diretor-geral do Senado, chamado de o 82.º senador. Agaciel foi demitido no rastro do escândalo dos atos secretos no Senado, revelado pelo Estado, no qual ele omitia dos boletins do Senado nomeações de apadrinhados de senadores.

As apostas na Casa são de que a caneta de Alcolumbre pode se voltar ainda contra aliados da ex-governadora do Maranhão Roseana Sarney. É o caso, por exemplo, da diretora de Transparência do Senado, Elga Maria Teixeira, que trabalhou em campanhas da filha de José Sarney.

Até mesmo interlocutores do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, podem acabar perdendo espaço. O diretor de Assuntos Técnicos e Jurídicos do Senado, Luciano Felício Fuck, é considerado um "braço direito" do magistrado por ter sido seu chefe de gabinete e secretário-geral do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ele foi indicado para o posto em fevereiro de 2018, durante a gestão de Eunício Oliveira.

O novo comando do Senado também vai passar um pente-fino em todos os atos assinados na gestão anterior. No apagar das luzes, por exemplo, Eunício, que não se reelegeu, estendeu a todos os ex-senadores a permissão para que façam tratamento de saúde sem limite de gastos. O benefício valia até então só para os com mandato.

Sobrinho do presidente foi 58 vezes ao Planalto

Sem cargo na Presidência, Leonardo Rodrigues de Jesus, de 35 anos, primo dos filhos mais velhos de Jair Bolsonaro, foi 58 vezes ao Planalto nos primeiros 45 dias de governo do tio. A frequência é maior que a do próprio presidente. No mesmo período, desde que assumiu, Bolsonaro despachou no Planalto por 16 dias, de 1.º de janeiro a 14 de fevereiro.

Além de viajar ao Fórum Econômico Mundial de Davos, o presidente se licenciou para realizar uma cirurgia e ficou 17 dias internado em São Paulo.

Léo Índio, como é conhecido, é próximo de Carlos Bolsonaro, e já teria participado de pelo menos uma reunião reservada com autoridades envolvidas na reforma da Previdência. Oficialmente, foi a três órgãos internos do Planalto, fora salas e gabinetes por que passou sem anúncio nem registro.

Nos últimos dias, em meio à crise do governo, Léo Índio rondou o gabinete do desafeto do primo Carlos. Ao entrar no Planalto, declinou como destinos a Secretaria-Geral, pasta de Gustavo Bebianno; a Casa Civil, de Onyx Lorenzoni; e a Secretaria Especial de Comunicação Social. Os ministros despacham num andar acima do gabinete de Bolsonaro. O governo não informa as datas nem os motivos das visitas.

Até sexta-feira, o sobrinho do presidente não ocupava nenhum cargo de confiança nem havia sido nomeado. A falta de função não impediu que ele testemunhasse reuniões de cúpula do governo. A Presidência confirmou que em 26 de janeiro ele acompanhou encontro para tratar da tragédia em Brumadinho (MG).

O Estado, porém, encontrou no dia 18 de janeiro o nome "Leonardo de Jesus" como representante da Secom em reunião solicitada pelo secretário executivo da Casa Civil, Abraham Weintraub. Do encontro participaram outras autoridades do governo ligados a temas como a reforma da Previdência.

Procurado, Léo Índio não quis comentar. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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