Dallagnol: de acordo com as novas mensagens, Dallagnol discutiu o assunto com sua esposa (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Clara Cerioni
Publicado em 16 de julho de 2019 às 10h36.
Última atualização em 16 de julho de 2019 às 10h41.
São Paulo — Em 2017, o procurador Deltan Dallagnol pediu passagem e hospedagem para ele e sua família no parque aquático Beach Park como condição para palestrar sobre combate à corrupção na Fiec (Federação das Indústrias do Ceará).
A informação, divulgada na manhã desta terça-feira (16) pelo jornal Folha de S.Paulo, faz parte de trecho dos diálogos obtidos pelo site The Intercept por uma fonte anônima.
De acordo com as novas mensagens, Dallagnol discutiu o assunto com sua esposa. “Posso pegar [a data de] 20/7 e condicionar ao pagamento de hotel e de passagens pra todos nós”, disse Dallagnol a ela.
Um mês depois, em uma nova troca de mensagens, agora com o ex-juiz Sergio Moro, Dellagnol diz que recebeu cachê de R$ 30 mil reais para conceder a palestra.
“Eu pedi pra pagarem passagens pra mim e família e estadia no Beach Park. As crianças adoraram”, disse o procurador a Moro. “Além disso, eles pagaram um valor significativo, perto de uns 30k [R$ 30 mil]. Fica para você avaliar", continuou.
Na conversa com Moro, Dallagnol comemorou ainda o fato de não ter sofrido punição de órgãos de fiscalização por dar palestras.
“Não sei se você viu, mas as duas corregedorias —[do] MPF [Ministério Público Federal] e [do] CNMP [Conselho Nacional do Ministério Público]— arquivaram os questionamentos sobre minhas palestras dizendo que são plenamente regulares”, disse.
Desde o dia 09 de junho, o Intercept vem revelando uma série de conversas privadas que mostram Moro e procuradores, principalmente Deltan Dallagnol, combinando estratégias de investigação e de comunicação com a imprensa no âmbito da Operação Lava Jato.
Segundo as revelações, o ex-juiz sugeriu mudanças nas ordens das operações, antecipou ao menos uma decisão e deu pistas informais de investigações nos casos envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O site é de Glenn Greenwald, um jornalista americano vencedor do prêmio Pulitzer por ter revelado, em 2013, um sistema de espionagem em massa dos EUA com base em dados vazados por Edward Snowden.
Como as revelações vieram a público por uma reportagem, ainda será necessária uma extensa investigação, provavelmente conduzida pela Polícia Federal, para confirmar as implicações jurídicas.
O vazamento de informações sigilosas no âmbito da Lava Jato tem sido comum desde o início da operação em 2014.