Câmara: dinheiro é um forte ponto em comum entre os adversários, mas não o único (Ueslei Marcelino/Reuters)
Da Redação
Publicado em 28 de janeiro de 2015 às 14h26.
Brasília - Seja quem for eleito presidente da Câmara dos Deputados no domingo, 1º, os setores de mineração e alimentação terão acertado suas apostas nas eleições de 2014.
Empresas desses dois ramos da economia ajudaram a financiar as campanhas dos dois favoritos na disputa pelo terceiro cargo na linha sucessória do poder no país.
Tanto Eduardo Cunha (PMDB) quanto Arlindo Chinaglia (PT) receberam ajuda financeira de mineradoras e de indústrias alimentícias na eleição para deputado federal.
Do primeiro setor econômico, o peemedebista levou R$ 700 mil da Mineração Corumbaense (grupo Rio Tinto), enquanto o petista recebeu R$ 300 mil do grupo Vale.
Foram, respectivamente, 10% e 6% do total que cada um arrecadou em 2014.
Cunha e Chinaglia têm um financiador em comum desse setor: a Rima Industrial, empresa especializada em produção de ligas de silício e de magnésio.
Foram R$ 100 mil (2% do custo da campanha) para o petista e R$ 1 milhão para o líder do PMDB - 15% do total, tornando-se assim seu principal financiador, junto com a Ambev.
Esses pontos em comum entre os dois adversários foram detectados pela nova ferramenta do Estadão Dados: "Eles elegem" (estadaodados.com/eles_elegem).
É um infográfico interativo que mostra os 50 maiores financiadores de deputados federais na eleição de 2014 e os conecta a cada parlamentar.
É possível ver não apenas qual empresa financiou cada parlamentar, mas também quais financiadores eles compartilham.
Nichos
O setor de alimentos e bebidas também poderá dizer que ajudou a eleger o próximo presidente da Câmara.
Os grupos Guarani e Copersucar (açúcar), JBS (frigoríficos), Terra Forte, Stockler Comercial e Unicafé (café) estão entre os principais financiadores de Chinaglia.
Já a CRBS (Ambev), maior fabricante de cerveja do mundo, foi o principal financiador de Cunha, ao lado da Rima.
Correndo por fora na eleição para presidente da Câmara, Júlio Delgado (PSB) tem pelo menos um financiador em comum com Chinaglia: a Construtora Andrade Gutierrez, uma das investigadas na Operação Lava Jato, da Polícia Federal.
A empreiteira doou R$ 200 mil ao candidato do PSB e R$ 262 mil ao petista.
Delgado também recebeu contribuições significativas da Spal Bebidas (Coca-Cola), da Bradesco Saúde e da Queiroz Galvão Alimentos.
Receita
O dinheiro é um forte ponto em comum entre os adversários, mas não o único.
Cunha foi o deputado que mais arrecadou em 2014 (R$ 6,8 milhões), enquanto Chinaglia ficou em 11.º lugar nesse ranking (R$ 1,8 milhão).
Uma das hipóteses para isso é que o primeiro lidera o PMDB, segunda maior bancada da Câmara, e o outro foi líder do governo Dilma Rousseff na última legislatura.
O custo por voto de Cunha saiu mais barato do que o de Chinaglia: R$ 29,36 contra R$ 35,61.
Ambos foram financiados quase que exclusivamente por empresas: 100% do dinheiro arrecadado pelo candidato do PMDB veio de pessoas jurídicas, e 97% no caso do petista (os restantes 3% vieram de colaborações de pessoas físicas).
As divergências de discurso entre petista e peemedebista, acirradas nas vésperas da eleição, são mais exceção do que regra. No plenário da Câmara, ao longo dos últimos quatro anos, Cunha e Chinaglia participaram juntos de 185 votações nominais.
Em 150, votaram do mesmo jeito.
Tirando as abstenções e obstruções, divergiram em 29 votações: Chinaglia saiu vencedor em 13, e Cunha, em 16. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.