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Cunha atuou para beneficiar bancos liquidados

Se as propostas do deputado tivessem sido sancionadas pela presidente Dilma, provocariam um rombo perto de R$ 40 bilhões aos cofres públicos


	Cunha: se as propostas dele tivessem sido sancionadas pela presidente Dilma, provocariam um rombo de R$ 40 bi aos cofres públicos
 (Lula Marques/ Agência PT/Fotos Públicas)

Cunha: se as propostas dele tivessem sido sancionadas pela presidente Dilma, provocariam um rombo de R$ 40 bi aos cofres públicos (Lula Marques/ Agência PT/Fotos Públicas)

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Da Redação

Publicado em 2 de dezembro de 2015 às 07h38.

Brasília - No período em que o banqueiro André Esteves, ex-presidente do BTG Pactual, negociava a compra da massa falida do Banco Nacional, extinto em 1995, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), trabalhou de forma persistente para viabilizar uma operação financeira que favoreceria os bancos liquidados e socorridos pelo governo.

Se as propostas do deputado tivessem sido sancionadas pela presidente Dilma Rousseff, provocariam um rombo perto de R$ 40 bilhões aos cofres públicos, segundo fontes do Banco Central.

Na prática, o teor das emendas do deputado faria com que o Nacional - que já foi um dos maiores bancos do país, com 1,2 milhão de clientes, controlado pela família Magalhães Pinto - passasse da situação de devedor confesso à de credor da União.

Passados 20 anos do Programa de Estímulos à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional (Proer), o Nacional ainda deve, em 2015, R$ 17,6 bilhões ao governo.

O BTG Pactual tinha interesse em comprar o Nacional porque via chances de ganhar dinheiro de duas formas.

Esteves considerava ser possível, com o aval do Congresso, transformar pouco mais da metade dos R$ 31 bilhões de crédito em "títulos podres" do banco em dinheiro. Assim, conseguiria pagar o que o Nacional devia à União e ficar com o restante.

Além disso, o banco liquidado tinha mais de R$ 10 bilhões em créditos fiscais. Esteves tinha "expertise" em bancos liquidados. Antes, tinha comprado o Bamerindus, que também foi socorrido pelo Proer, por R$ 418 milhões. Em troca, levou R$ 2 bilhões em créditos tributários.

Investigação

O Ministério Público abriu investigação contra Cunha a partir de um documento encontrado na casa do chefe de gabinete do senador Delcídio Amaral (PT), que foi preso na semana passada juntamente com Esteves.

No verso desse documento, estava escrito que, em troca de uma emenda à medida provisória 608, o BTG, que estava interessado em utilizar os créditos fiscais da massa do Bamerindus, pagou R$ 45 milhões ao presidente da Câmara.

Cunha apresentou uma emenda a essa MP, de 2013, que propunha retirar do texto artigo que permitia aos bancos liquidados transformar créditos tributários em crédito presumido a partir da data da liquidação extrajudicial. A emenda de Cunha não foi aprovada.

Ele disse na segunda-feira, 30, que, nesse caso, a proposta não tinha objetivo de beneficiar o BTG ou qualquer outro banco. Negou também a hipótese de que apresentou a emenda justamente para criar uma dificuldade ao BTG e assim ter oportunidade de negociar a retirada do texto.

O BTG negou na segunda que a instituição tenha feito pagamento para suposto benefício na MP. Em nota, a instituição afirmou que o banco e a massa falida do Bamerindus não se beneficiaram da aprovação da emenda apresentada pelo Cunha nem do texto final da Lei.

Procurado nesta terça-feira, 1, o banco afirmou, em nota, que não tem relação com o Nacional e, por isso, não haveria o que comentar sobre a atuação do parlamentar.

O histórico da atuação parlamentar revela que Cunha sempre fez proposições para beneficiar os bancos liquidados.

Por três vezes, tentou incluir a permissão para que os bancos falidos usassem títulos - os chamados Fundos de Compensação de Variações Salariais (FCVS) - para quitar as dívidas que tinham com a União.

No entanto, a presidente Dilma Rousseff, seguindo orientação da área técnica do governo, impediu que as instituições liquidadas usassem esses papéis, sem liquidez e de securitização incerta, para acertar as contas.

Cunha chegou a procurar o advogado-geral da União, o ministro Luís Inácio Adams, com a proposta de que o governo reconhecesse os FCVS como instrumentos da dívida pública federal.

No entanto, Adams consultou o procurador-geral do Banco Central, Issac Sidney Menezes. Para o técnico do BC, o teor do pedido contrariava o interesse público porque ampliava os benefícios que já tinham sido concedidos aos bancos liquidados e prejudicavam financeiramente a União.

Sem sucesso nessa empreitada, Cunha até conseguiu, com outras emendas, que os bancos liquidados usassem créditos tributários para pagar impostos relativos a ganhos de capital, o que favoreceria o Bamerindus. Mas a presidente também vetou esse favorecimento.

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