O rapper Mano Brown discursa em evento com Haddad e a candidata a vice Manuela D'Ávila ao fundo (Ricardo Moraes/Reuters)
Tamires Vitorio
Publicado em 24 de outubro de 2018 às 17h02.
Última atualização em 24 de outubro de 2018 às 17h04.
São Paulo — Quando o rapper e compositor Mano Brown foi chamado ao palco do comício do PT, que aconteceu nesta terça-feira (23), na Lapa, Rio de Janeiro, ele assumiu um apoio crítico ao partido. "Se em algum momento a comunicação do pessoal aqui falhou [do PT], vai pagar o preço porque a comunicação é a alma. Se não está conseguindo falar a língua do povo, vai perder mesmo", disse ele.
O comício contava com a presença de Manuela D'Avila, candidata a vice-presidente na chapa de Fernando Haddad, Guilherme Boulos (PSOL) e artistas como Caetano Veloso e Chico Buarque, além do próprio Brown.
Somente o rapper assumiu uma posição mais crítica ao falar do partido — o que rendeu diversas vaias e até alguns aplausos (leia na íntegra no final da matéria). "O que mata a gente é a cegueira e o fanatismo", falou Brown em resposta às vaias.
Logo depois Caetano Veloso pegou o microfone e saiu em defesa de Brown. "Eu acho que a fala do Mano Brown é muito importante porque traz a complexidade do nosso momento." Também citou uma "imbecilização da sociedade" e disse que, como o rapper dissera anteriormente, "o momento não é de festa".
Confira o vídeo:
"Não vim aqui para ganhar voto porque eu acho que já está decidido", foi uma das frases de Mano Brown na noite de ontem. Ao som de vaias, Brown disse não ser "pessimista, mas realista". "Não está tendo [sic] motivo para comemorar, tem quase 30 milhões de votos para alcançar aí, nem temos expectativa para alcançar, para diminuir essa margem", afirmou.
No final da noite de terça, Haddad disse que "compreende, entende e respeita o que falou o Mano Brown" e que a fala dele teria um "significado muito importante". "Tem irmãs e irmãos nossos que estão na periferia revoltados e com razão com tudo que está acontecendo. Precisamos dar razão para as pessoas para conquistá-las", comentou o candidato do PT.
Mano Brown tem razão. A hora é a do diálogo com nossos irmãos e irmãs. pic.twitter.com/PDX9bfXk46
— Fernando Haddad (@Haddad_Fernando) October 24, 2018
O discurso de Brown repercutiu em massa nas redes sociais chegou até Jair Bolsonaro, candidato pelo PSL, que usou sua conta no Twitter para concordar com a fala do cantor.
Concordo com o Mano Brown! 👍🏻 pic.twitter.com/crIW4srMqs
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) October 24, 2018
Em resposta, Haddad (PT), publicou que "um governo democrático convive com críticas".
Bolsonaro acha estranho que eu tenha eleitores críticos como Mano Brown e Cid Gomes. Bolsonaro estranha porque não admite críticas. Eu convivo com críticas e um governo democrático convive com críticas. Bolsonaro não.
— Fernando Haddad (@Haddad_Fernando) October 24, 2018
Leia o que o rapper disse:
"Eu não gosto do clima de festa. A cegueira que atinge lá atinge nós também. Isso é perigoso. Não está tendo motivo para comemorar, tem quase 30 milhões de voto para alcançar aí, nem temos expectativa nenhuma para alcançar, para diminuir essa margem, não estou pessimista, sou realista. Não consigo acreditar que pessoas que me tratavam com tanto carinho, pessoas que me respeitavam, me amavam, me serviam café de manhã, que lavavam meu carro, que atendiam meu filho no hospital, se transformaram em monstros. Eu não posso acreditar nisso. Não posso acreditar... Essas pessoas não são tão más assim.
Se em algum momento a comunicação do pessoal aqui falhou [do PT], vai pagar o preço porque a comunicação é alma. Se não está conseguindo falar a língua do povo, vai perder mesmo. Falar bem do PT para a torcida do PT é fácil, tem uma multidão que não está aqui que precisa ser conquistada ou a gente vai cair num precipício. E eu tinha jurado para mim mesmo nunca mais subir em palanque de ninguém porque política não rima, não tem swing, não tem balanço, não tem nada que me interessa. Eu gosto de música.
Mas estou vendo casais se separando, amigos de 35 anos deixando de se falar, tenho amigos que eu não tenho mais como olhar no rosto por causa de política. Não vim aqui para ganhar voto porque eu acho que já está decidido. Agora, se falhou, vai pagar. Errou vai ter que pagar mesmo. Não gosto do clima de festa. O que mata a gente é a cegueira e o fanatismo. Deixou de entender o povão, já era. Se nós somos o Partido dos Trabalhadores, o partido do povo, temos que entender o que o povo quer. Se não sabe, volta para a base e vai procurar saber."