A deputada federal indicada para comandar o Ministério do Trabalho, Cristiane Brasil (PTB-RJ), gravou um vídeo a bordo de uma lancha, acompanhada de amigos em trajes de banho, no qual se defende da acusação de ter respondido a ações trabalhistas reprodução/facebbook (Facebook/Reprodução)
AFP
Publicado em 10 de fevereiro de 2018 às 11h10.
Em um vídeo caseiro gravado num iate, Cristiane Brasil, cercada por quatro homens musculosos e em trajes de banho, tentou minimizar a importância dos processos trabalhistas que a impedem de assumir o cargo de ministra do Trabalho do presidente Michel Temer.
Cristiane Brasil, deputada pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), foi escolhida em 3 de janeiro para comandar essa pasta e ainda conta com o apoio do governo, apesar da multiplicação das polêmicas, em uma tentativa de garantir os votos no Congresso para aprovar a reforma da Previdência e outras medidas de ajuste.
Mas a Justiça Federal em Niterói a impediu de assumir o cargo por afrontar a moralidade administrativa, depois de revelado que ela sofreu duas condenações trabalhistas.
Um dia depois, o Superior Tribunal de Justiça, acionado pela Advocacia Geral da União, liberou sua posse. No entanto, O Supremo Tribuna Feral decidiu congelar o caso para tomar uma decisão definitiva.
"Nesse presidencialismo de coalizão, todos os partidos que compõem a base [aliada] são fundamentais. O PTB é um deles", explicou à AFP o analista político André César, da consultora Hold.
Neste momento, a reforma da Previdência é a agenda única do governo, que "fica pagando qualquer preço que for para aprová-la o mais rápido possível", apesar disso continuar prejudicando sua baixa popularidade, acrescentou o especialista.
O PTB conta com 18 deputados e integra um bloco de 26 legisladores na Câmara, além de ter dois senadores.
Para ser aprovada, a reforma das aposentadorias requer o apoio inicial de 308 dos 513 deputados (três quintos dos votos) e depois de 49 dos 81 senadores.
- Iate e outras polêmicas -
Cristiane Brasil, de 44 anos, é filha do presidente do PTB, ex-deputado Roberto Jefferson, condenado pelo "Mensalão".
Foi sentenciado a mais de dez anos de prisão, mas ao colaborar com a Justiça, acabou cumprindo 14 meses de prisão efetiva e foi indultado em 2016.
Ao comunicar a nomeação da filha, Jefferson chorou e disse que considerava o ato "um resgate" de suas próprias desventuras.
Mas Cristiane não é apenas a filha de Jefferson. Em 2016, a deputada votou a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff, vestindo uma camiseta da seleção brasileira no plenário.
Desta vez, em trajes de banho e a bordo do barco com seus amigos, deu o que muitos consideram um passo em falso.
"Eu juro pra vocês que eu não achava que tinha nada pra dever a essas duas pessoas que entraram [na Justiça] contra mim. E eu vou provar isso em breve", afirmou Brasil, a respeito dos ex-funcionários que entraram com processos trabalhistas contra ela.
"Ação trabalhista toda hora a gente tem", justificou um de seus amigos, que disse ser empresário.
A partir de então, a situação continuou piorando: o jornal O Estado de S. Paulo informou no fim de semana que Brasil também é investigada por supostos vínculos com traficantes durante a campanha de um de seus correligionários em 2010.
E a Rede Globo divulgou no domingo um áudio de uma reunião, em 2014, na qual Cristiane Brasil, então funcionária da prefeitura do Rio, parece constranger seus subordinados com a perda de emprego se não a ajudassem a conseguir votos para sua campanha como deputada.
Na última semana, Brasil afirmou não ter cometido qualquer ato ilícito e denunciou uma "campanha difamatória".
Afirmou que já saldou sua dívida com a justiça trabalhista (foi obrigada a pagar indenizações de mais de 60.000 reais, 18.500 dólares) e que agora está "sendo julgada política e não juridicamente".
- Sem arrependimentos -
Quando indagado se se arrependia de ter nomeado Cristiane, Temer foi taxativo: "Não".
"Estou exercendo uma competência que, no dizer da Constituição, é privativa do presidente da República", respondeu em uma entrevista à TV Band, prometendo recorrer a todas as instâncias judiciais para que a filha de seu aliado possa ser ministra.
A Presidência vê as decisões judiciais como uma intromissão na separação dos poderes e teme sofrer novos bloqueios durante a mudança de ministros que se avizinha.
Ao menos 13 dos 28 ministros com intenção de se candidatar às eleições gerais de outubro (presidenciais, legislativas e de governadores) devem deixar seus cargos em abril.
Independentemente do que a Justiça decidir sobre Cristiane Brasil, para o cidadão comum uma pergunta permanece no ar, opina César.
"Como você vai nomear alguém para o ministério do Trabalho sem saber que ela tinha ação na justiça trabalhista? Por menor que seja a ação, sem entrar no mérito dela, é o simbólico. Fica uma coisa esquisita, fica mal explicado. Não ajuda em nada um governo que tenta fechar a última hora com algo positivo", afirma.