Bebê em hospital: a Secretaria Estadual de Saúde nega a informação e diz que o setor está funcionando normalmente (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 13 de outubro de 2016 às 22h26.
A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) pediátrica do Hospital Estadual Carlos Chagas, em Marechal Hermes, zona norte da capital fluminense, foi afetada pela crise financeira do estado.
Segundo o presidente do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro, Jorge Darze, crianças internadas na UTI teriam de ser transferidas para outros hospitais. A Secretaria Estadual de Saúde nega a informação e diz que o setor está funcionando normalmente.
“Ontem recebemos a informação de que a UTI pediátrica fecharia as portas e que os pacientes internados seriam transferidos. Embora seja um hospital público, a unidade é gerenciada pela Pró-Saúde, uma organização social, que por sua vez quarteiriza a UTI para outra firma, a UTI Rio, que está sem receber desde julho. Além da falta de salário, há falta de medicamento e material. Eles deram um prazo de 30 dias para que o problema fosse resolvido e esse prazo venceu ontem”, disse Darze.
“Hoje a UTI tem apenas quatro crianças, mas há capacidade instalada para atender o dobro. Leito de UTI pediátrica é algo extremamente escasso no Rio de Janeiro. Há uma fila de no mínimo 80 crianças esperando vaga para terapia intensiva a cada plantão”, acrescentou.
Em nota, a Secretaria de Saúde informou que “a direção do Hospital Estadual Carlos Chagas esclarece que não procede a informação de que o CTI Pediátrica da unidade tenha sido fechado. O setor encontra-se em funcionamento e não terá suas atividades interrompidas”.
De acordo com o presidente do sindicato, os médicos que trabalham na UTI pediátrica foram contratados como pessoas jurídicas, o que os deixa em situação frágil diante de eventuais problemas judiciais.
“Disse a eles que a responsabilidade deles é muito grande, pois em caso de denúncia de erro médico, como pessoa jurídica quem tem que provar que não houve erro é o médico, como pessoa física quem tem que provar o erro é quem faz a denúncia”, disse Darze.
Uma enfermeira que pediu para não ser identificada disse que faltam medicamentos e material na unidade. “A situação está caótica. Estamos sem antibióticos, vários medicamentos, seringas, agulha. O salário de alguns funcionários está atrasado, principalmente dos terceirizados, maqueiros, seguranças.”
A diarista Simone da Silva Santos Ferreira saiu da Baixada Fluminense com o filho cadeirante, que está com úlcera, para ser atendido no Carlos Chagas.
“Disseram que vão dar o medicamento e vão mandar de volta para casa. Ele está queimando de febre. Moramos em São João de Meriti, Baixada Fluminense. Se o hospital diz que não tem recursos, onde vou procurar recursos?”, questionou. “Nessa hora me sinto um lixo, sem dinheiro, não sei como nem a quem recorrer. Se nesse hospital que é grande não tem como ajudarem, lá onde moro é pior ainda”, desabafou.
Grávida de um mês, a caixa de supermercado Débora Siqueira, 22 anos, chegou ao hospital com sangramento e dor, mas não foi atendida. “A médica que atende não veio hoje, pois está doente. Me mandaram ir para São Cristóvão”, contou.
Funcionário do Hospital Carlos Chagas há 36 anos, o técnico de enfermagem Gilton Luis Antônio, 63 anos, não recebe salário desde 2 de agosto. “Nunca vi isso. É a primeira vez. Estamos trabalhando porque o doente não tem culpa. Tratamos com carinho e atendemos direito, mas está faltando muita coisa. O ambulatório e os elevadores não estão funcionando”, disse.
A Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro não se manifestou sobre falta de material e medicamento, atraso nos salários e diminuição no número de leitos da UTI pediátrica.
Há uma semana, o Ministério Público Federal (MPF) entrou com recurso no Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2) para que o estado do Rio de Janeiro aplique imediatamente R$ 1,37 bilhão no Fundo Estadual de Saúde no setor. Segundo a procuradora da República Roberta Trajano, o valor se refere ao montante que o estado deixou de aplicar na saúde fluminense de 2013 a 2015.
Desde o fim do ano passado, quando o governo do Rio decretou estado de emergência, a rotina de atendimento nos hospitais estaduais tem sido bastante prejudicada, apesar dos aportes de R$ 135 milhões do governo federal, R$100 milhões de convênio firmado com a prefeitura da capital e outros R$ 152 milhões de receitas oriundas do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).