Temer: os aliados não foram capazes de concordar em quem pode ser o substituto (Igo Estrela/Getty Images)
Reuters
Publicado em 31 de maio de 2017 às 15h39.
Brasília - O presidente Michel Temer ganhou fôlego graças a uma recuperação incipiente da economia e à incapacidade de seus aliados em escolher um presidente tampão para manter suas reformas fiscais no caminho certo caso ele seja deposto.
Temer, que é alvo de um inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) por suspeita de corrupção, organização criminosa e obstrução de Justiça, começou uma ofensiva nesta semana para convencer a população de que é a melhor aposta para tirar o Brasil de sua pior recessão.
Entretanto, os aliados do governo estão divididos sobre se é melhor descartar rapidamente o presidente, ou mantê-lo no poder devido à recuperação da economia, que começou a melhorar no primeiro trimestre.
O que está em jogo é a reforma da Previdência, considerada crucial para equilibrar as contas do governo, e que agora pode precisar ser ainda mais atenuada.
"Nosso compromisso neste momento é somente com as reformas. Se nós entendemos que as reformas não andam, aí é uma situação na qual se deve procurar uma solução rápida para um novo governo", disse à Reuters o deputado federal Eduardo Cury (PSDB-SP), um dos vice-presidentes do partido.
O PSDB, maior partido aliado do governo, está aguardando o julgamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na próxima semana, que pode cassar Temer da Presidência, antes de anunciar se vai abandoná-lo e apoiar sua substituição por um presidente que conclua o atual mandato até 2018.
Os aliados não foram capazes de concordar em quem pode ser o substituto, já que ele precisaria ser um político com experiência, credibilidade e não ser investigado por corrupção.
“Não temos muitos nomes com esse perfil. É um entrave. E Michel Temer se beneficia disso. Como não existe consenso de um nome, ele vai ficando", disse uma fonte parlamentar do PSDB que pediu para não ter o nome revelado.
Os donos da maior processadora de carne do mundo, a JBS, disseram durante delação premiada que Temer deu aval para a compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha e que pagaram propina ao presidente durante os últimos anos. Temer nega todas as acusações e afirmou que não renunciará.
A manutenção de Temer no poder enfrenta uma ameaça mais imediata por parte do TSE, que vai se reunir na próxima semana para decidir se cassará a chapa que venceu a eleição presidencial de 2014, quando Temer foi eleito como vice-presidente de Dilma Rousseff, devido ao uso de fundos ilegais de campanha.
Analistas dizem que a crise política no Brasil pode acelerar a decisão do TSE e encorajar os juízes a serem brandos com Temer para evitar uma traumática segunda troca de presidente dentro do espaço de um ano.
Um Temer otimista disse durante fórum de investimentos em São Paulo na terça-feira que está comprometido em aprovar as reformas trabalhista e da Previdência em sua forma atual, e em devolver um país nos trilhos ao término do atual mandato presidencial no final do ano que vem.
A inflação está abaixo da meta do governo e a maior economia da América Latina cresceu no primeiro trimestre pela primeira vez em dois anos, disse o presidente.
"O dilema é esse: você vê que a economia começa a dar sinal de vida e você deixar isso ir por água abaixo?", disse o deputado Betinho Gomes (PSDB-PE).
Temer perdeu apoio político no Congresso quando as acusações de corrupção surgiram duas semanas atrás, mas se as reformas avançarem e a economia continuar a melhorar ele pode sobreviver, disse Gomes.
A lei que vai reduzir os custos trabalhistas para empresas está aguardando a aprovação final no Senado e a maior parte dos políticos concordam que a marca registrada de Temer, a reforma do custoso sistema previdenciário, provavelmente vai ser aprovada no Congresso esse ano, embora em uma forma substancialmente enfraquecida.
Deputados disseram à Reuters que a lei ainda pode estabelecer uma idade mínima para a aposentadoria, mas abandonar outros cortes de benefícios que deveriam economizar 600 bilhões de reais em dez anos.
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), reafirmou seu apoio ao governo de Temer e à agenda de reformas na terça-feira, durante o fórum de investimentos.
Autoridades do governo disseram que os aliados de Temer sabem que ele não é a opção mais atrativa para liderar o Brasil até as eleições de 2018, mas que no presente parece ser a única opção viável.
"O presidente representa as reformas e a recuperação da economia. Os aliados não têm consenso sobre um nome para o substituir", disse um assessor do presidente sob condição de anonimato, porque não é autorizado a falar sobe o assunto.
“A maré está virando a favor dele”, disse. "O pior da crise já passou.”
O governo espera que o TSE decida em favor de Temer, e está confiante de que pode apelar com sucesso qualquer decisão de removê-lo do cargo, disse o assessor.
O futuro político imediato do Brasil é tão incerto que poucos analistas se aventuram a fazer uma previsão.
"Acho que ainda é cedo pra dizer que ele sobrevive. Muita articulação de bastidores e todo mundo esperando o TSE semana que vem. De fato, ele conseguiu respirar, mas não sei ainda se de fato a maré está virando ou se é apenas um último suspiro", disse Danilo Gennari, sócio Distrito Relações Governamentais, em Brasília.