Brasil

CPI do MST vota relatório final nesta terça-feira; saiba o que esperar

Salles sugere o indiciamento de 11 pessoas, entre eles estão o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do governo Lula, o general Marco Edson Gonçalves Dias

CPI do MST: No relatório, Salles definiu o MST como uma "organização criminosa (Bruno Spada/Câmara dos Deputados Fonte: Agência Câmara de Notícias/Agência Câmara)

CPI do MST: No relatório, Salles definiu o MST como uma "organização criminosa (Bruno Spada/Câmara dos Deputados Fonte: Agência Câmara de Notícias/Agência Câmara)

André Martins
André Martins

Repórter de Brasil e Economia

Publicado em 26 de setembro de 2023 às 06h01.

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) vota nesta terça-feira, 26, o relatório do deputado Ricardo Salles (PL-SP). O texto foi apresentado na quinta-feira, 21, e, após um pedido de vista coletivo, a votação ficou para hoje.

No seu parecer de 280 páginas, Salles sugere o indiciamento de 11 pessoas, entre eles estão o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do governo Lula, o general Marco Edson Gonçalves Dias, conhecido como G. Dias, e o líder da Frente Nacional de Luta Campo e Cidade (FNL), José Rainha.

Ainda não está claro se a oposição terá votos suficientes para aprovar o texto de Salles. A deputada Sâmia Bomfim (Psol-SP) criticou o relatoria e disse que será "derrotado". "Parte expressiva dos parlamentares não topará colocar sua digital em algo tão desqualificado", disse.

O deputado do PL elencou ainda 25 medidas que, na visão dele, podem trazer segurança jurídica e previsibilidade ao campo. Entre eles está um projeto de 2014 de autoria do então deputado Jair Bolsonaro que flexibiliza o porte de armas aos proprietários rurais e outros que enquadram os movimentos sociais na lei de terrorismo.

Confira os 11 pedidos de indiciamentos no relatório de Salles:

  • General Gonçalves Dias, ex-ministro do GSI;
  • José Rainha, líder da FNL;
  • Paulo Cesar Souza, integrante do MST;
  • Diego Dutra Borges, integrante do MST;
  • Juliana Lopes, integrante do MST;
  • Cirlene Barros, integrante do MST;
  • Welton Souza Pires, integrante do MST;
  • Lucinéia Durans, assessora parlamentar;
  • Oronildo Lores Costa, assessor parlamentar;
  • Jaime Silva, diretor presidente do Iteral (Instituto de Terras e Reforma Agrária de Alagoas);
  • Debora Nunes, integrante do MST

Detalhes do relatório final da CPI do MST

No relatório, Salles definiu o MST como uma "organização criminosa" e disse que o modelo é "fracassado", "improdutivo", faz "mau uso do dinheiro público", conta com o "acobertamento estatal" e "romantiza e banaliza crimes, abusos e violências". Ele também citou em seu texto que o líder do MST, João Pedro Stédile, foi à China em comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para falar da proximidade do movimento com o governo.

O deputado do PL também criticou a reforma agrária, alegando que é uma política pública "anacrônica, cara e ineficiente". O relator acusou lideranças e militantes de movimentos de obterem vantagens pessoais e abusarem dos assentados, que seriam submetidos a trabalho análogo à escravidão.

“Ao adotarem práticas ilegais e abusivas, muito mais se assemelham as facções criminosas do tráfico de drogas. Enquanto o acesso à terra servir de bandeira política para manipulação dos mais humildes, e de plataforma para a eleição e enriquecimento dos líderes, o problema não será resolvido", escreveu o deputado. No documento, o relator cita diversas vezes o filósofo alemão Karl Marx, idealizador do comunismo, o Vladimir Lenin, primeiro líder da União Soviética e o revolucionário cubano Che Guevara.

Bahia

A Bahia é apontada como a principal zona de controle de movimentos sem-terra. "A Bahia atingiu um nível de barbárie em que não é visto em nenhum outro Estado da Federação", afirmou o relator.  Salles afirma que, no Sul do estado, se estabeleceu um "caos social, econômico e jurídico" devido à "criminosa" do MST naquela região. Para ele, há uma "conivência" do poder estatal, "diante dos crimes praticados contra os produtores rurais e também pelas lideranças do MST sobre os seus integrantes". O PT governa a Bahia desde 2007.

Salles aproveitou para criticar o ministro da Casa Civil, Rui Costa. "(Rui) usou todos os instrumentos jurídicos e regimentais para não comparecer a essa CPI", disse. Costa chegou a ser convocado para a CPI, mas o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), anulou a convocação do ministro, e, no mesmo dia, fez um aceno ao governo e retirou parlamentares apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro dos trabalhos para incorporar nomes mais próximos ao PT.

Em nota, o deputado Valmir Assunção (PT-BA) afirmou que o texto de Salles foi feito para atacar o governo da Bahia e os movimentos sociais e suas lideranças. “Tal relatório não representa nem o agronegócio, nem a agricultura familiar. Atende apenas a um setor minoritário, extremista, derrotado nas eleições e que quer criminalizar a luta pela terra e a reforma agrária enquanto política pública.”

Acompanhe tudo sobre:CPIMST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

Mais de Brasil

Justiça nega pedido da prefeitura de SP para multar 99 no caso de mototáxi

Carta aberta de servidores do IBGE acusa gestão Pochmann de viés autoritário, político e midiático

Ministra interina diz que Brasil vai analisar decisões de Trump: 'Ele pode falar o que quiser'

Bastidores: pauta ambiental, esvaziamento da COP30 e tarifaço de Trump preocupam Planalto