Médica Luana Araújo ficou apenas 10 dias no cargo de secretária de enfrentamento à Covid-19 do Ministério da Saúde (Twitter/Reprodução)
Alessandra Azevedo
Publicado em 2 de junho de 2021 às 06h00.
Última atualização em 2 de junho de 2021 às 12h30.
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid faz neste momento a última reunião da semana. O colegiado resolveu mudar o cronograma e convocar a médica Luana Araújo, ex-secretária de enfrentamento à covid-19 do Ministério da Saúde, em vez dos especialistas em saúde previstos anteriormente.
Indicada ao cargo pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, em 12 de maio, Luana teve a nomeação cancelada 10 dias depois. Como o motivo não ficou claro no comunicado divulgado pelo ministério, a CPI quer saber se tem a ver com o fato de as opiniões da ex-secretária serem bem diferentes das defendidas pelo presidente Jair Bolsonaro.
A divergência mais evidente é que Luana é abertamente contrária ao uso de cloroquina para tratamento da covid-19, medicamento que não tem eficácia comprovada contra a doença. Em um blog pessoal, a médica fala sobre os efeitos colaterais do uso e aponta a ineficácia do "tratamento precoce" com o remédio.
O senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI, afirmou nesta terça-feira, 1º, que o depoimento de Luana será "muito importante". Queiroga, segundo ele, chegou a anunciar a nomeação dela como "uma mudança de paradigma do ministério em relação ao governo", mas o efeito foi o contrário. "Ela foi nomeada, e a circunstância parece que piorou", disse.
Luana será ouvida antes da reconvocação de Queiroga, que já prestou depoimento à CPI em 6 de maio. O ministro voltará à comissão, mas ainda não foi definida a data. Com a presença da médica antes dele, os senadores acreditam que poderão apresentar ao ministro o motivo alegado por ela de ter deixado o cargo e, assim, evitar respostas vagas sobre o assunto.
A médica Luana Araújo afirmou à CPI da Covid que nunca conversou com o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, sobre o tratamento precoce para a covid enquanto esteve na pasta. Ela chamou a discussão de "delirante, esdrúxula e contraproducente". Luana deixou a equipe de Queiroga dez dias após ter sido anunciada para o cargo, em razão de sua nomeação não ter sido aprovada.
Para ela, o Brasil ainda está na "vanguarda da estupidez" em vários aspectos no combate à pandemia, porque continua a discutir questões que não teriam "nenhum cabimento", como o uso de medicamentos sem eficácia comprovada. "Ainda estamos discutindo de qual borda da terra nós vamos pular", ironizou em referência a teoria terraplanista.
"Estamos discutindo algo que é um ponto pacificado para o mundo inteiro. É preciso que a gente aprenda com outros lugares", disse. Em sua fala inicial, a médica afirmou ser muito perigoso o Brasil abra mão do intercâmbio de informações com outros países, cedendo "a mistura aflitiva de falta de informações, desespero e arrogância". "Pode ser letal", disse.
"Isso (tratamento precoce) não foi nenhuma discussão. Esse assunto nunca existiu entre nós. A nossa discussão é em outro nível", disse ela sobre a relação que teve com Queiroga durante a passagem pelo ministério.
Nesta terça-feira, 1º, o colegiado ouviu a médica Nise Yamaguchi. No depoimento, ela disse que não participou do suposto "gabinete paralelo" do presidente Jair Bolsonaro sobre a covid-19 e negou que tenha defendido a mudança na bula da cloroquina, para incluir recomendação para tratamento contra covid-19.
A CPI da Covid foi instalada em 27 de abril, com o objetivo de investigar ações e possíveis omissões do governo federal na pandemia de covid-19. Veja quem foi ouvido até agora: